sexta-feira, setembro 17

Desespero e mau feitio

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Acicatado pela embriaguez da rentrée Carlos César não resistiu a mais um ressabiado ataque a Berta Cabral. Depois de imoderada e sumptuosamente ter consumido, numa única noite, milhões de euros numa festa das maravilhas, que quis reservada à plutocracia da rosa, na ressaca do dia seguinte fez o fórró com o povo do PS em farto arraial no Pinhal da Paz. Nem a toponímia pacificadora dessa reserva da natureza atenuou o animus belicoso do discurso. Do alto do púlpito Socialista o soundbyte registou um franco-atirador obcecado com Berta Cabral, o que, por um lado, dá nota da dimensão regional desta e, por outro, do acantonamento desesperado do PS que ainda não teve a coragem e a honestidade de apresentar o seu candidato às próximas eleições regionais. Dir-se-á que ficou a impressão de que Carlos César não dorme de noite a cogitar para o dia seguinte nova réplica a Berta Cabral, qual "sniper" que, em tremeliquente delírio, não resiste à pulsão de fazer da política uma guerrilha personalizada. O comício do Pinhal da Paz foi assim assombrado por Berta Cabral a quem Carlos César, em tom vociferante e agastado, acusou de mirabolantes gastos ao desbarato, chegando ao despautério de sentenciar que a autarca de Ponta Delgada "gastava dinheiro em viagens que não servem para nada". Quem ouviu este desconchavo pensou, e bem, que só poderia tratar-se de um lapsus linguae de Carlos César ! Efectivamente, se há viagens ao desbarato que para nada servem só nos ocorre a faustosa passeata "institucional" de Luísa César ao Canadá que terá custado ao erário público € 27.423.00 ! São estas as viagens que promovem o bom-nome dos Açores no exterior e nas edições nacionais dos telejornais de grande audiência? A pergunta é retórica e a resposta devolve-se ao leitor. Atrás do véu da fantasia da região das maravilhas na realidade, entre nós, o latrocínio de colarinho branco medra a montante e a jusante um exército de desempregados colhe falências a esmo. Ignorando esta triste realidade o Governo Regional prefere estender a mão e alimentar, à conta do contribuinte, o buraco negro da nossa economia e os glutões das nossas finanças. Nessa espécie de reality show do despesismo legitima viagens imperiais da "primeira dama", desperdiça milhões de euros em "barcos fantasma", malbarata quantias faraónicas em sites institucionais, prodigaliza subsídios a fundo perdido em pasquins das paróquias do PS, financia luxuosos e dourados eventos como a recente encenação das maravilhas naturais Açorianas, - (aquelas que ainda não pereceram à má sorte que calhou à Fajã do Calhau e a tantos outros crimes ambientais que ficam no registo desta autonomia) -, gasta exorbitâncias em foguetório inauguracional das Portas do Mar como se nestas tivesse descoberto ouro negro, e hipoteca o futuro com a pesada herança de uma "Autobahn" para o Nordeste. São estas, por amostra, as 7 maravilhas do despesismo do Governo de Carlos César. De todos estes ziliões destaca-se o custo geracional de uma SCUT para o Nordeste que, além da perpétua cicatriz ambiental, hipoteca o futuro das gerações vindouras que, mais cedo ou mais tarde, terão que pagar a factura de uma obra pública que se diz custar cerca de 360 milhões de euros. Curiosamente desses milhões saem tostões para subempreiteiros Açorianos e para o aluguer de fretes locais pois, ao invés de investir no sector regional de construção civil, o Governo do PS endossou a adjudicação da obra a uma empresa que dos Açores apenas quer retirar dividendos. Desses milhões ainda restam umas patacas para esmolas a título de insultuosas indemnizações por expropriação, na média de 6 euros por metro quadrado, graciosamente sugeridas por uma Euroscut-Açores que, com a tutela do Governo Regional, se comporta como se fosse uma espécie corporativa de capitão donatário da ilha de São Miguel. Com este curriculum de maravilhosos especímenes Carlos César é o campeão incontestado do despesismo. Com este palmarés não tinha necessidade de no recorrente estilo trauliteiro, numa linguagem de tasca, revelar a sua obsessão por Berta Cabral e a sua aflição desesperada com o timing e o casting das Presidenciais. Se não é defeito é porventura desespero e, certamente, é mau feitio.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

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