A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto eu te oiço a passada
Existir como eu existo.
Fernando Pessoa
...
"Qual o sentido da vida?". Esta é uma pergunta retórica sobre a qual ficamos suspensos sempre que a morte se atravessa na estrada das nossas vidas. Sabemos que desde o nascimento a vida vai morrendo. Ainda assim buscamos racionalizar esta demanda pelo sentido da vida! Para quê? É estranha esta encruzilhada cujo espanto ficou bem vincado nas palavras de Jack London: "A vida é estranha. Pensei muito nela e ponderei longamente, e no entanto todos os dias a acho mais estranha. Porquê esta ânsia de viver? É uma aposta que ninguém vence. Viver é trabalhar e sofrer, até a velhice nos surpreender e estendermos as nossas mãos para as cinzas frias de fogueiras apagadas. Viver custa muito. È na dor que o bebé dá o primeiro vagido, é na dor que o velho lança o último suspiro e os seus dias são cheios de adversidade e tristeza; no entanto, entrega-se aos braços da morte vacilando, virando a cabeça para trás, lutando até ao fim.". Para os cínicos não há resposta para este enigma labiríntico. Logo, ao invés de carpirmos a existência será preferível satirizarmos a mesma como tão bem o fizeram os Monty Python's em "The Meaning of Life". Porém uma perspectiva mais abrangente dá-nos um património que vai do cómico ao escatológico pois essa é a experiência das nossas vidas. Philip Roth, que espero nunca venha a ganhar o Nobel da Literatura, é dos escritores deste tempo que tem vindo a dissecar implacavelmente toda a grandeza e miséria do ser humano. Fê-lo magistralmente no brilhante e arrebatador "Everyman" e indiscutivelmente essa dimensão brilha na sua obra-prima que é "Human Stain". Mas para além da cronologia das suas personagens Roth teve a coragem de escrever a história verdadeira da estação terminal do seu Pai."Património", o livro que entre nós foi editado pela D. Quixote, lê-se com incómodo, mas emoção, acrescentando rotas na demanda pela resposta para a qual cada um de nós busca o seu caminho. Uma coisa é certa : resposta não há que justifique tanto sofrimento no abandono deste Mundo. Mas isso também faz parte do Património dos que ficam.
João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiario.com
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