quarta-feira, janeiro 31
OBSCENIDADES
"OBSCENA é uma revista independente dedicada às artes performativas, de periocidade mensal e em foramto pdf. Tem por objectivo reflectir, analisar, criticar e informar sobre o que se vai fazendo em Portugal e no estrangeiro apartir de desafios que lança a críticos, investigadores, progarmadores e criadores.
A revista quer contribuir para a promoção do diálogo e da discussão sobre as várias disciplinas artísticas através de textos que também reflictam acerca do contexto onde estas se inserem."
"O primeiro número, correspondente ao mês de Fevereiro, apresenta um dossier sobre a realidade cultural do Irão, cruzando os olhares da coreógrafa alemã Helena Waldmann e do encenador iraniano Amir Reza Koohestani, com os da crítica local Kathy Salmasi e da jornalista Margarida Silva Lopes. Aborda ainda o teatro do alemão Thomas Ostermeier, conversa com o encenador libanês Rabih Mroué e o antropólogo André Lepecki, e visita o Pavillion Noir, o novo Centro coreográfico Nacional em Aix-en-Provence, dirigido por Angelin Preljocaj. Dá ainda espaço à dramaturga Regina Guimarães para falar sobre ?o sentido de ainda se fazer teatro no Porto?, e à crítica e investigadora búlgara Kalina Stefanova que pergunta se "a crítica teatral pode ser pós-dramática". Integra ainda colunas de opinião, críticas a espectáculos, livros e dvds, e a aposta no filme Body Rice, de Hugo Vieira da Silva." | VIA|
Vox Populi
Miguel Castelo Branco - Combustões
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O castigo da bilha
"Sentado no sofá, dou por mim de olhos arregalados para aquela mulher perfeita, capaz de transportar a bilha do gás, tarefa que lá em casa me cabe sempre em sorte."
Joaquim Machado, no Canto da Ilha
Blogues versus Jornais
"Isto é um blog, não um jornal. Não há qualquer dever de imparcialidade, embora haja um ditame moral de procura da honestidade."
André Bradford, na caixa de comentários do Um blog tipo assim.
"À partida os blogues não têm de ser objectivos. Devem fazer-se eco de opiniões bem firmes, ser mordazes e não estar com paninhos quentes ? o que está longe da atitude habitual adoptada pelos principais ?media?. O blogue é uma espécie muito diferente."
Jane Kirtley, prof. de deontologia e direito dos media na Universidade do Minesota, no Courrier Internacional.
Não, Sim ... Talvez !
"A Alemanha dá 25000 euros à mulher que tiver um filho. Cá querem pagar isso para desmanchar."
Carlos Melo Bento, no Açoriano Oriental.
"Fazendo a comparação monstruosa entre o custo de um aborto e o custo de uma criança ao Estado, o aborto acaba por ser um óptimo negócio ao estilo Malthusiano. Abortam-se os filhos dos mais pobres, que tendencialmente serão menores contribuintes do que os filhos dos mais ricos, e passamos a dar mais e melhores condições a quem cá está. Reduz-se a pobreza, aumenta-se o PIB per capita, e o Estado deixa de estar comprometido com tantos custos sociais, libertando futuras receitas para o bolso do contribuinte ou outras realizações.
É rico? Preocupa-se com os seus impostos ou com a eficiência do SNS? Vote Sim. Vai ver que compensa."
Manuel Pinheiro, 23 de Janeiro no Cachimbo de Magritte
"À semelhança do que se passa hoje com muitíssimas situações de aborto, mudar de opinião passou a ser um acto clandestino. Que ninguém quer assumir, com receio de ser condenado pelos dogmáticos tribunais da opinião (basicamente pela dona Eulália e pelo seu neto rapper, o Zé Ricardo)"
Nuno Costa Santos, no Suplemento de Cultura do Açoriano Oriental
Uma verdade inconveniente?
"Em dez anos de governação socialista a Inspecção Administrativa Regional nunca promoveu qualquer acção inspectiva à gestão das secretarias ou direcções regionais e evita acções nas autarquias de maioria socialista."
Clélio Meneses, citado no Correio dos Açores
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post scriptum: é tradição do Vox Populi ilustrar o postal com uma obra de arte de elevado coturno...a escultural Katarzyna Potoczek (a.k.a. a míuda da bilha) ergue bem alto essa tradição
VIDEO CLUB
Acabadinhos de chegar ao mercado regional de dvds, duas obras a não perder.
"Documento "versus" crónica íntima ? um magnífico exemplo da evolução recente das estratégias documentais. Ou como um filme pode funcionar como revelador de um universo de infinita complexidade humana, sem nunca o reduzir a "panfleto" e também sem o menosprezar através de qualquer forma de paternalismo." João Lopes - Cinema 2000
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Mais uma obra prima do realizador sul-coreano Kim Ki-Duk.
Realizado em 2004, entre "Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera" (2003) e "Ferro 3" (2004) este "Samaritana" foi filmado em apenas 11 dias com menos de 500 mil euros, e editado pelo próprio realizador via ?Final Cut Pro?.
Urso de Prata do 54º Festival de Berlim é mais um exemplo do cinema contemplativo, emocional e comovente, mas ao mesmo tempo violento, características das obras de Kim Ki-Duk.
Fico à espera de "The Bow" de 2005 e "Time" de 2006.
COOL
A Le Cool é uma selecção das propostas culturais mais autênticas e excitantes de Lisboa, Barcelona, Madrid, Amesterdão e Istambul
Acabadinha de chegar esta é a capa da edição Holandesa para a primeira semana de Fevereiro.
A Interrupção Voluntária da Gravidez
É sobre isto que o Estado nos pede para votar, sobre estes casos e outros como estes, sobre estas pessoas, estas vidas. Devemos punir estas pessoas, ou não? Devemos punir quem, pelas suas razões, faz um aborto, ou não? Temos o direito de "comandar" estas vidas, ou devemos permitir que cada um escolha de acordo com a sua consciência?
Perante esta questão a sociedade portuguesa surge dividida. Confirmou-se isso diante das últimas sondagens. De ambos os lados, pelo Sim e pelo Não, esgrimem-se razões e agitam-se argumentos. Uns mais sensatos, outros mais demagógicos, uns mais fidedignos, outros mais falaciosos, uns mais racionais, outros mais emotivos, de ambos os lados. Não me interessa discutir, nem sequer rebater, todos os argumentos que têm surgido na praça pública, até porque questões mesquinhas como dinheiros públicos em situações de saúde, ou comparações medonhas com factos históricos, não me parecem ser a forma sensata de debater este assunto. No entanto há determinadas questões que merecem ser reflectidas e discutidas com ponderação, principalmente aquelas que estão no âmbito da pergunta que nos é colocada pelo referendo, que é, relembro, "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada por opção da mulher, nas primeiras dez semanas em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?"
O primeiro ponto é o da despenalização sobre o qual importa apenas acrescentar, ao que já expus acima, que apenas se pretende introduzir na moldura penal mais uma excepção, às já existentes, permitindo assim que até às dez semanas e em estabelecimento de saúde autorizado o aborto por opção da mulher não seja punido. Neste ponto muitos querem fazer crer que se trata de liberalizar. Recorro ao meu Dicionário Houaiss que esclarece que liberalizar é: dar com liberdade, distribuir com profusão, prodigalizar. Ainda a este respeito, convém também clarificar que o Liberalismo é uma doutrina politica e filosófica que remonta ao pensamento do inglês John Locke (1632 - 1704) e que se baseia na defesa intransigente das liberdades individuais em matérias económicas, politicas, religiosas e intelectuais, em oposição igualmente intransigente contra quaisquer ingerências excessivas ou atitudes coercivas do poder estatal na vida dos indivíduos. Parece-me assim claro que em face da pergunta que nos é posta pelo referendo não existe qualquer tipo de liberalização do aborto, antes pelo contrário, pressupõem-se sim limitações concretas e mais uma excepção ao regime já existente. (O que pensaria Locke do nosso referendo...)
A segunda questão que se tem levantado é a de por opção da mulher. Creio que qualquer pessoa de boa fé compreenderá que este é um problema transversal à sociedade e que afecta todos, homens e mulheres, desde que sexualmente activos. A questão que aqui se coloca é que como não se pretende obrigar ninguém a abortar o consentimento daquelas em quem o procedimento médico é perpetrado é um factor essencial para a sua legitimidade, daí ser fulcral que o aborto seja feito por opção da mulher, isto é, com o seu acordo.
Em terceiro lugar, as dez semanas. Para tudo nas nossas vidas existem prazos, datas limites, fronteiras temporais. Uma idade para votar e para conduzir, um tempo na vida para começar a pagar impostos, uma idade para entrar na escola, um tempo para começar a trabalhar, uma idade para a reforma, um tempo para morrer. O limite temporal que aqui se pretende estabelecer é não só baseado nesta necessidade civilizacional de estabelecer regras e parâmetros mas, também, na avaliação concreta do problema do aborto. O limite das dez semanas que se pretende estabelecer é um dos mais conservadores de todas as legislações europeias. Na Turquia a despenalização é permitida até às 10 semanas. Itália, França, Alemanha, Dinamarca, Áustria, Grécia, admitem a IVG até às 12 semanas. Suécia, Holanda, Finlândia, Reino Unido, até as 20 semanas e mais. O prazo das dez semanas é medicamente aceite como o período de transição entre a fase embrionária e a fase fetal, período esse que levanta menos riscos para a mãe e permite uma adequada ponderação da decisão por parte das pessoas envolvidas, médicos, pacientes e familiares.
O quarto ponto prende-se com a obrigatoriedade do procedimento ser feito em estabelecimento de saúde autorizado. Este é, ao contrário do que se possa pensar, um ponto fundamental nesta questão. Com isto refuta-se não só a acusação de liberalização, uma vez que haverá um controlo por parte do estado sobre as instituições que poderão efectuar tais procedimentos médicos, como ao mesmo tempo se incute na sociedade a ideia de que o Estado não faz uma avaliação moral sobre a questão do aborto e leva as pessoas a procurarem de forma aberta um acompanhamento médico de modo a poderem ponderar, decidir e efectuar com toda a segurança e com total responsabilidade um acto médico que, pela sua natureza, assim o exige.
Por último dois pontos fundamentais que têm sido suscitados, cada um por cada uma das partes: o problema de saúde pública e a questão da "vida". O aborto clandestino é hoje, em Portugal, um gravíssimo problema de saúde pública. A realização de interrupções da gravidez sem acompanhamento médico adequado coloca as mulheres que se sujeitam a estas intervenções em perigo extremo, com consequências físicas e psicológicas gravíssimas, como lesões cervicais, a perfuração do útero ou intestinal, infecções várias, infertilidade e acabando muitas vezes em lesões permanentes, depressões graves e mesmo a morte. A forma mais imediata de combatermos este flagelo é a legalização da IVG, até às dez semanas, por opção da mulher e com acompanhamento médico.
Quanto à questão da "vida", tal como esta é posta pelos defensores do Não no referendo, é ao mesmo tempo e paradoxalmente o mais legítimo e o mais despropositado dos argumentos. Recorro mais uma vez ao meu Houaiss que diz o seguinte: vida s.f. 1 modo de viver; conjunto de hábitos
No que concerne à gravidez, de uma forma muito genérica, e do ponto de vista científico, o desenvolvimento pré natal, está dividido em três grandes períodos, cada um deles caracterizado por diferentes padrões de desenvolvimento e de interacção entre o organismo e o seu ambiente: Primeiro o Período Germinal que tem início quando as células germinais do pai e da mãe se juntam na concepção e que se prolonga até o organismo em desenvolvimento se agarrar à parede do útero, cerca de 8 a 10 dias após a concepção. Depois o Período Embrionário que se estende desde que o organismo se agarra à parede do útero até aproximadamente ao fim da oitava semana, quando os principais órgãos assumem forma primitiva. Por fim o Período Fetal que prossegue até ao nascimento. Todo este processo é extraordinariamente frágil e a qualquer momento pode terminar por uma variedade de razões. Inclusive, um estudo de AJ Wilcox, efectuado em 1999, determinou que 25% de todas as gravidezes terminam ainda no período germinal sendo que nestes casos a interrupção acontece mesmo antes da mulher se aperceber que está grávida. O início do período fetal, entre a oitava e a décima semanas, acontece quando os tecidos básicos e os órgãos surgem em forma rudimentar e os tecidos que formam o esqueleto começam a endurecer. Um aspecto determinante tem a ver com as capacidades sensoriais do feto. Os primeiros estágios de desenvolvimento do ouvido interno, que controla o equilíbrio, acontecem cinco meses após a concepção, aproximadamente na mesma altura o feto responde também a estímulos auditivos, só às 26 semanas o feto responde a estímulos visuais, os hemisférios cerebrais surgem apenas a meio do processo da gravidez.
Estes dados permitem que cada um de nós crie uma concepção sobre o que é para si a vida e quando é que ela surge. Uma concepção que pode ser mais poética, ou mais cientifica, mais filosófica ou mais religiosa, mas uma concepção sempre individual e de acordo com a consciência de cada um. Ora a função do Estado, o papel da sociedade no seu todo, é legislar de acordo com princípios gerais, delimitados por regras genéricas, fora do âmbito da moralidade estrita de determinado credo ou concepção. Compete ao Estado legislar para o indivíduo, mas nunca individualmente. Compete ao Estado legislar para todos os cidadãos, mas nunca para cada cidadão. Mas o que está aqui em causa e no que à questão da vida diz respeito, é que se decidirmos que o embrião é já uma vida de pleno direito, o que eu não concordo, não compete ao Estado escolher sobre que vida tem mais valor se a da mãe se a do embrião. Compete sim ao Estado, na minha opinião, permitir que seja cada um de nós, em consciência, com o beneplácito da sociedade, a fazer essa escolha.
O que este referendo nos pede é que digamos sim ou não à liberdade de cada cidadão fazer essa escolha. É por isso que eu vou votar Sim no dia 11 de Fevereiro.
terça-feira, janeiro 30
Alto como as estrelas/Livre como o vento
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Numa remota e porventura esquecida nota crítica de Ruy Guilherme de Morais à obra "O Barco e o Sonho" de Manuel Ferreira leio que os Açorianos "vivem em permanente tensão com o meio ambiente, seja ele o mar que os confina à terra, seja esta, que, pela sua exiguidade, os empurra para o mar. E esta é, sem sombra de dúvida, a realidade suprema da vida açoriana". Cotejando a galeria de personagens criadas por Manuel Ferreira formula Ruy Guilherme de Morais o enigma do fado de gerações de Açorianos: "Para quê conquistar este mundo, se logo há outro, seja por detrás da morte, seja para além do horizonte? Esta tem sido a realidade do povo açoriano e é dentro dela que se movem as personagens criadas ou recriadas literariamente por Manuel Ferreira, sem dramatismos à flor da pele porque trazem a tragédia escondida dentro da alma". Pese embora a retórica seja tributária da estética "das ilhas de bruma", por onde emergia a vontade de certificar a "literatura açoreana", o certo é que ela não esconde uma realidade tantas vezes recriada entre nós. Seja como for, nesse "movimento" destacar-se-á o nome e a obra do Comendador Manuel Ferreira. Homem dotado de uma incomensurável alma Açoriana, tomando o milhafre por ex libris, com galhardia sempre nos recorda que a nossa condição deverá honrar o guardião destas ilhas : "alto como as estrelas / livre como o vento.".
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(*) foto do Comendador Manuel Ferreira da autoria do "mestre" José António Rodrigues
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Posted by João Nuno Almeida e Sousa
segunda-feira, janeiro 29
a Cabala
A vida pública está animada. Até a preparação do referendo sobre o aborto, que em princípio bastaria para atrair as atenções, parece relegada para um plano de menor importância. A Câmara de Lisboa, outras câmaras, a menina "adoptada", o futebol, a corrupção e as obras ocupam as primeiras páginas dos jornais e as aberturas dos noticiários. Todos os condimentos estão disponíveis: afectos, dinheiro, clubes e partidos. Parecem "um amontoado de imagens quebradas", sem nexo nem denominador comum. À primeira vista, a vida de todos os dias. Mas não. "Isto anda tudo ligado" (...). António Barreto, in Público, 28.1.2007Por via do Jornalismo & Comunicação
O País que temos
Não quero que pensem que estou numa cruzada anti autarcas e autarquias, ainda por cima do PSD. Nada disso, apenas utilizo este título para este post porque me parece ser o mais adequado e porque penso sinceramente que todas estas questões, dos desmandos dos políticos, são reveladoras do que é Portugal hoje. Ao vir para casa, hoje, ouço na TSF que a Câmara Municipal de Lisboa rompeu unilateralmente o acordo de parceria que tinha com a ExperimentaDesign inviabilizando assim a realização, no final deste ano, da Bienal. A notícia é a todos os níveis chocante, e desde já me solidarizo com a decisão de Guta Moura Guedes e da restante equipa de accionarem judicialmente a Câmara, mesmo sabendo, como certamente eles também sabem, que nenhum bem virá dessa acção judicial. O mal, o grande mal, está feito. Pela ignorância, prepotência e descaramento de um autarca a Capital e todo o País são privados de um dos mais significativos e importantes eventos culturais que este País já teve. Assim, sem mais nada. Como sempre neste País, entretido com guerras de alecrim e manjerona entre Salazar e Cunhal e enleado com a demagogia mentirosa do Não, a Cultura é posta no lixo sem que ninguém se importe. E isto vindo de uma Câmara que faz permutas ruinosas com Empresas corruptas. Repitam comigo - Merecíamos Políticos Melhores.
domingo, janeiro 28
MACAQUINS 5 - 2ª semana
Le Moulin de Florian Thouret é um dos filmes a Ver nesta 5ª edição do MACAQUINS que decorre até ao próximo sábado (3 de Fevereiro) na Biblioteca Pública e Arquivo de Ponta Delgada. As marcações para as sessões escolares devem ser efectuadas através dos telfs. 296 628 667 - 917 512 170 ou para o email da MUU.
sexta-feira, janeiro 26
AMANHÃ
5H NON STOP (15h00 às 20H00) *
PROGRAMA 9 | ANIMAÇÃO INFANTIL
PROGRAMA 4 | ANIMAÇÂO INFANTIL
PROGRAMA 5 | ESCOLAS FRANCESAS 2005/6
PROGRAMA 6 | AMIMAÇÃO HÚNGARA
PROGRAMA 3 | SELECÇÃO IMAGO 2006
PROGRAMA 8 | ANIMAÇÃO DIGITAL
* com curtos intervalos para o café
O País que temos, actualizado.
quinta-feira, janeiro 25
Quinta-feira de Amigos
Georgia O'Keefe e Orville Cox, fotografados por Ansel Adams
Sempre passei ao lado do Carnaval, mas se há tradição para mim estimável nesta quadra, é sem dúvida o rosário de quintas-feiras que hoje tem início: amigos, amigas, compadres e comadres. Assim sendo, não posso deixar passar a meia noite sem aqui inscrever o meu abraço aos outros mosqueteiros deste blog, mas também a todos os amigos virtuais, vocais, anónimos e silenciosos, dedicando-lhes estas luminosas palavras de José Cardoso Pires na Cartilha do Marialva, uma cartilha de título enganador:
Vê-se agora que já não são apenas as condenações libertinas e o liberalismo económico que pesam sobre a existência marialva. É o tempo, o tempo histórico, medido nas formas científicas e concretas a que obriga a convivência das nações no mundo actual. E esse tempo previram-no os libertinos de melhor fibra quando souberam retirar-se da cena, depois de terem feito triunfar o espírito citadino e de o reconhecerem inadaptável às sociedades do novo século. Previu-o Saint Just quando desafiou a lei provinciana ao anunciar que a felicidade era possível na Terra.
José Bruno Tavares Carreiro
O País que temos
quarta-feira, janeiro 24
Alta Fidelidade
Reporter X
Por estes dias as ilhas acorrem a Lisboa para na capital vender o destino Açores.
É um ritual que se repete ano após ano com um figurino quase inalterado, não obstante alguns ajustamentos de pormenor e de estética. Aliás, a atenção conferida ao certame por esta verdadeira embaixada açoriana - entre privados e governamentais, é mais que muita e justifica-se, tendo em conta as dezenas de milhares de pessoas que por estes dias circulam pela FIL. Somos uma pequena parte de uma gigantesca montra partilhada com as restantes regiões de Portugal e algumas presenças internacionais com predominância para o vizinho espanhol.
A FIL representa um período fértil para negócios, troca de experiências e de contactos, agendamento de reuniões e trabalhos futuros, o piscar de olho ao concorrente mais directo, o acesso e o confronto com novas estratégias e abordagens na venda turística. E, no caso açoriano, com tudo o que possa estar relacionado com o influxo de turistas às Ilhas.
Não obstante todas as prioridades deste período, existe igualmente a campanha interna (para satisfazer a vaidade) para mostrar que se está em Lisboa. Neste sentido, são elaboradas páginas publicitárias nos media locais a divulgar a presença em Lisboa - quando essa campanha devia ser efectuada exactamente ao contrário (há felizmente excepções!). Por estes dias ao voar na SATA temos a sensação de que as ilhas estão desertas (do poder decisório estão com certeza).
Apesar de todo o esforço conjunto na divulgação das ilhas e no que estas podem oferecer como destino diferenciado, e nunca como um destino massificado (para onde São Miguel tende a caminhar), sinto que este é feito de forma desgarrada e individualizada, sem a noção do todo. Existe pouca cooperação e capacidade de trabalhar de forma associada no sector turístico (um sentimento que trespassa de resto quase todos os sectores da sociedade açoriana). O trabalho de casa, que passa pela criação de estruturas sustentáveis à actividade turística é incipiente e muito existe por trilhar. O Ambiente - o maior recurso em termos de oferta turística - está a saque (muito embora as tentativas da Secretaria Regional do Ambiente). Senão vejamos as notícias dos últimos dias relativamente à eutrofização da Lagoa das Furnas (ver Açoriano Oriental de 20/01/07).
Não basta querer mais turistas. É necessário saber o que fazer com eles. Cama e Lagoas não são suficientes. Muito está feito. Muito está por fazer.
* publicado na edição de 23/01/07 do AO
** Email Reporter X
terça-feira, janeiro 23
Incontinências
Roe versus Wade
Em termos de direito comparado o Supreme Court of the United States equivale, com as devidas adaptações, ao nosso Tribunal Constitucional, na medida em que, ambos são instâncias de Jurisdição Constitucional. Contudo, nos Estados Unidos da América não existe em termos orgânico-estruturais uma Justiça Constitucional autónoma estribada num Tribunal Constitucional pois, a ordem jurídica Americana, reconhece à generalidade dos Tribunais, através da judicial review, competência para, no contexto de um caso concreto, aplicarem a Constituição que serve assim como "paramount law". Ora, foi no âmbito de um caso concreto que o acórdão de Roe versus Wade foi "concebido" e daí chegou ao Supreme Court enquanto appelate jurisdiction. O impulso inicial foi dado por Norma McCorvey (denominada "Jane Roe") que, com o patrocínio de uma jovem e ambiciosa equipa de Advogadas, decidiu processar o Estado do Texas por lhe vedar a possibilidade de legalmente, e com o adequado suporte médico, realizar um aborto. Alegava inicialmente a cidadã McCorvey que tinha sido vítima de violação, embora mais tarde tenha negado tal maquinação, acusando inclusive as suas Advogadas de a terem manipulado. Posteriormente em 2005, como se sabe, este ícone do movimento pro-choice converteu-se aos argumentos do movimento pro-life e, em catarse pelo seu passado, dedica-se agora a expor o negócio sórdido das clínicas que têm por objecto a produção de abortos em série. Em suma: uma personalidade instável esteve na base de uma das mais importantes decisões Judiciais na história do Supreme Court !
Quanto à motivação técnica da decisão a Jurisprudência do Supreme Court partiu da premissa da "viabilidade externa do feto" para determinar que só a partir deste momento é que o feto merece a protecção do Estado. À data do acórdão de Roe versus Wade a "viabilidade externa do feto" ocorria aproximadamente aos seis meses. Consequentemente, o Tribunal adoptando uma métrica trimestral decidiu que, no primeiro trimestre da gravidez, os Estados da União não tinham qualquer interesse em regular o direito de uma mulher a obter um aborto, porquanto, os riscos clínicos não apontavam para qualquer indício sério e razoável de perigo para a saúde da mulher grávida. O Supreme Court definiu ainda que, no segundo trimestre da gravidez, os Estados da União, tendo por dever assegurar a saúde da progenitora, devem regular os procedimentos da prática de aborto mas, acaso a mulher seja devidamente aconselhada pelo seu médico, é ainda neste período "livre para decidir por ou não termo à sua gravidez." Só no terceiro trimestre da gravidez é que o Supreme Court define como possível a eventual proibição do aborto em honra à "potencialidade de vida humana" pois, a partir deste período, existe a possibilidade de "viabilidade externa do feto" capaz já de sobreviver fora do ventre materno. Assim exposta, esta Jurisprudência que faz as delícias dos partidários do SIM no referendo do dia 11, revela na sua nudez a fragilidade da sua validade. Desde logo, a ciência tem vindo a recuar cada vez mais o período de "viabilidade externa do feto", pelo que, o parâmetro que serviu de métrica para o sistema dos trimestres não se afigura intemporal. Ademais, o Acórdão de Roe versus Wade redundou na controvérsia gerada pela prática, embora residual, do "Partial-birth abortion" ou "Brain-suction Abortion" que são metodologias de intervenção horripilantes praticadas no termo da gestação com a indução da dilatação cervical.
O caso Roe versus Wade tem sido incensado pelos "liberais", desde a geração de 70, como um marco de progresso civilizacional. Contudo, no âmbito do próprio Supreme Court a decisão não foi congenitamente linear. Um dos juízes que votaram vencido era o carismático Rehnquist que, entre as várias razões aduzidas para votar vencido, referiu que o Tribunal tinha valorizado de modo injustificadamente desequilibrado a "conveniência" (sic) da mulher grávida "em detrimento da continuidade existencial e do desenvolvimento de uma vida ou da vida potencial que essa mesma mulher carrega". Um voto presciente para os tempos que correm em que, no limite, o que está em causa é o aborto de conveniência, quer seja por conveniência egoísta e pessoal, quer seja por conveniência eugénica e social. Não é por acaso que há quem defenda que os índices de criminalidade nos Estado Unidos baixaram drasticamente na década de 90 por mérito do caso Roe versus Wade ! Esta é a tese do economista Steven Levitt que estabelece um nexo causal entre a liberalização do aborto nos Estados Unidos, introduzida pelo caso Roe versus Wade, e os potenciais criminosos que nunca vieram a nascer pois, a psicologia subjacente a tal tese, sustenta que as crianças não desejadas têm maior probabilidade de ingressar por uma carreira no mundo do crime (duplo !!). Creio que a monstruosidade destas teses, e outras similares, são quanto basta para que em vez de se celebrar o aniversário do caso Roe versus Wade se reflicta profundamente sobre o destino dos seus intervenientes, o alcance social da sua doutrina, bem como a percepção de que também esta decisão judicial se transformou num case study de como os Tribunais, às vezes, são permeáveis ao ambiente social ou, como diria o falecido Rehnquist: às conveniências...,in casu, das mulheres.
Encontro de Bloggers
Estes Encontros são acima de tudo um pretexto para fazer ao vivo o que os Bloggers normalmente fazem através do teclado e do ecrã do computador, ou seja partilhar informação e debater ideias. Por acréscimo vêm uma série de outros pontos positivos: conhecer pessoalmente personalidades que na maioria dos casos apenas se conhecem virtualmente, potenciar um maior intercambio entre a blogoesfera nacional e o blogoarquipélago açoriano, para além de naturalmente ser uma forma de desfrutar das inúmeras belezas naturais do magnífico Vale das Furnas e do ambiente acolhedor do Hotel Terra-Nostra, do seu parque e da sua piscina de água férrea.
Programa Provisório:
Dia 9
19:00 - recepção no Hotel
20:30 - Jantar de Abertura - 3º Aniversário do blogue :ILHAS (sujeito a confirmação consoante o numero de participantes)
iremos providenciar para que nos dias do Encontro o Bar do Hotel esteja aberto até mais tarde pelo que os participantes poderão reunir-se aí, estarão também disponíveis na sala das Sessões de Debate vários terminais de computador com ligação à internet 24 horas durante os três dias e com acesso livre a todos os participantes.
Dia 10
11:00 - Sessão de Debate
13:00 - Almoço (o singular cozido das Furnas, um cozido à portuguesa cozinhado no calor da terra das fumarolas vulcânicas da Lagoa das Furnas)
16:00 - Sessão de Debate
Dia 11
11:00 - Sessão de Debate-Encerramento
Este programa não é de ferro, antes pelo contrário, é o mais maleável possível, a nossa intenção é potenciar a informalidade e que os participantes contribuam com ideias, façam sugestões e desfrutem dos três dias nas Furnas, obviamente que com alguma conversa pelo meio. As sessões de debate seguem o mesmo espírito e pedimos aos convidados e participantes que sugiram os temas que gostariam de ver debatidos, a intenção do jantar do primeiro dia é, também, lançar as pistas para as sessões de debate dos dias seguintes.
A MUU-Produções, mediante os apoios conseguidos, fez vários convites a bloggers nacionais para estarem presentes no Encontro sendo que brevemente serão anunciados aqueles que poderão estar presentes. Para além disso e num esforço para potenciar a participação do maior número de participantes regionais temos o prazer de anunciar que a estadia durante os três dias do Encontro no Hotel Terra-Nostra fica pela ridícula quantia de 20 euros por pessoa por noite (dormida e pequeno almoço) e o jantar de sexta-feira e o almoço de sábado são oferta da organização.
Esperamos poder contar com o máximo número de participantes, desde bloggers profissionais a anónimos assumidos, desde comentadores habituais a leitores secretos, e respectivos acompanhantes, os interessados deverão contactar por email a MUU-Produções.
Pra informar a malta
segunda-feira, janeiro 22
Veni, Vidi , Vici ?
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Estará o futuro da América nas mãos de Hillary Clinton ? Desassombradamente a Senadora Clinton pensa que sim. Consequentemente, numa antevisão triunfante, avança para a arena política, sem tropeçar em qualquer dúvida. "I'm in, and I'm in to win", afirmou Hillary Clinton, numa pré campanha Presidencial alojada no seu site. Em sintonia com a actualidade a candidata à Casa Branca lançou a sua candidatura na net com um vídeo "íntimo" e coloquial. Como se isso não fosse suficiente a Senhora Clinton promete um tour de diálogo on line com os Americanos. A mensagem subliminar é clara pois arranca do eleitor o sentimento de que Hillary precisa dele. É neste tom de "chá das cinco" que se inicia a campanha...mas não é apenas uma campanha, pois Hillary promete: "I'm not just starting a campaign, though, I'm beginning a conversation with you, with America"(...)"Let's talk. Let's chat. The conversation in Washington has been just a little one-sided lately, don't you think?". O paralelo com o famigerado modelo das "conversas em família" é inevitável, contudo a tecnologia moderna promete que o diálogo será em tempo real e via web cam !
Como se afigura óbvio a candidata promete uma retirada digna do atoleiro Iraquiano. Posteriormente, assevera que irá restaurar o respeito pela América nos quatro cantos do Mundo. Porém, na mediática apresentação não há uma única linha dedicada à política externa dos Estados Unidos. Ora, no estado em que o Mundo se encontra, e com as responsabilidades históricas dos Americanos, este vazio de promessas para a política externa da Casa Branca parece-me a maior e mais preocupante pecha da Senhora Clinton. Com efeito, embora a mitomania do politicamente correcto o negue, o certo é que o Ocidente trava neste momento uma guerra contra o terror. Guerra essa que na frente interna dos colaboracionistas conta com a cumplicidade néscia daqueles que, passo a passo, vão capitulando e trinchando a matriz cultural Ocidental, num falso equilíbrio perante a ameaça do fundamentalismo Islâmico. Sobre isto nem uma palavra de Hillary ! Clinton acredita que o Mundo pode esperar e que é tempo de renovar a promessa do sonho Americano. Seja como for, se as eleições fossem hoje, estou certo que a larga maioria do povo Americano concordaria com esta doutrina de Hillary...hoje a América, amanhã o Mundo
A verdade é que Hillary Clinton tem neste momento um património de dignidade que lhe permite ir às urnas para vencer. Junte-se a isto charme q.b. , carisma em iguais proporções, e a receita será por certo a preferida dos Americanos. Resta aos Republicanos a ousadia de elevarem a fasquia lançando na pista uma outra mulher...porventura "afro-americana"? Vivemos sem dúvida tempos interessantes.
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(live video chat room with Hillary starts next monday)
domingo, janeiro 21
Danças com Lobos
Devo iniciar este post com uma declaração de interesses: sou amigo do Paulo Casaca. Entrámos juntos para a Universidade dos Açores em 1982 e sempre admirei a sua sagacidade e cultura política. Hoje ao princípio da noite, no telejornal da RTP 1, vi a Judite Sousa noticiar o célebre video do Youtube, Dancing with terrorists. O Paulo tinha virado prime time news e o lead do telejornal vinha às cavalitas de outras notícias entretanto divulgadas no Expresso e no Correio da Manhã. Para os menos desatentos, esta ligação do Paulo aos ditos terroristas, os Mujahedines do Povo (MEK), já tinha sido posta em evidência pelo jornalista do Expresso Daniel do Rosário há um ano ou dois atrás. Então, como agora, receio que o grande frenesim da comunicação social se desenrole em torno de questões jurídicas bizantinas (ex.: se o MEK é, ou não, uma organização terrorista no Index da União Europeia), desviando-se as atenções da questão política essencial: o MEK é uma das principais forças de oposição ao actual regime teocrático Iraniano, foi quem primeiro denunciou as tentativas desse mesmo regime para adquirir armas nucleares e, last but not the least, sempre foi um inimigo visceral do fundamentalismo religioso dos ayatholas iranianos, e daí o apoio logístico e político que sempre receberam do regime de Sadam Hussein, exactamente pelas mesmas razões que os americanos apoiaram Sadam no decurso da guerra Irão-Iraque. Tudo isto para dizer que terrorista, sobretudo no Médio Oriente, é um conceito de geometria tão variável que, até por isso, discutir a sua legalidade, ou ilegalidade, ainda se torna mais bizantino.
O homem é o lobo do homem, dizia Thomas Hobbes, mas isso não é nada que o Paulo já não saiba há muito tempo.
sábado, janeiro 20
Reporter X
sexta-feira, janeiro 19
Geração de 70
La France
Primeiro o cinema, depois a televisão e, finalmente, a Internet, tornaram o mundo cada vez mais anglicizado. Contudo, mesmo um empedernido anglófilo como eu, deve reconhecer o privilégio de ter aprendido, tant bien que mal, francês no Liceu graças aos esforços do Dr. Pequito, cuja competência me fez passar muito ao largo da Alliance Française anos mais tarde. A França, aliás, transbordava das salas de aula para a rua, na Lisboa dos anos 70. As raparigas liam o Salut les Copains, revista de referência para as aspirantes a Sylvie Vartan, à venda em todas as bancas de jornais. Os rapazes colecionavam posters da BB, ou deixavam-se arrepiar pela beleza esfingíca da Catherine Deneuve. Na programação das salas de cinema, o francês traduzia a sua presença, desde logo, na terminologia, as matinés e as reprises, e havia fitas para todos os gostos, desde o impagável Louis de Funés até ao Jean-Paul Belmondo, cujo desempenho em Pierrot le Fou jamais esquecerei. Das pequenas multidões que se juntavam no sopé da Calçada da Glória em dia de ciclo Truffaut, quando a Cinemateca asilava no Palácio Foz, soltava-se uma devoção laica de fazer inveja aos católicos mais praticantes. Até mesmo uma criatura tão deliciosamente britânica como a Jane Birkin, entrou nas bocas do mundo com a interpretação do Je t'aime, moi non plus, música que fez mais pelo francês do que o método Assimil, então também vendido em discos LP. Carmen, a empregada do andar de cima, com a sua honrada 4ª classe feita em Cernancelhe, trauteava a canção de fio a pavio no mais perfeito karaoke e muitas vezes, ao ouvir a sua voz harmoniosamente entrelaçada com os gorgorejos da Jane Birkin, dei por mim a pensar que isto do amor, em francês, é que é. O amor e, bien entendu, o intelecto, pois o idioma de Voltaire era uma espécie de língua mãe para a inteligensia portuguesa daquele tempo, quando a agenda política e cultural das Universidades seguia as nouveautés editoriais da rive gauche parisiense. Fernand Braudel, Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, Edgar Morin, eram portagens obrigatórias no nosso caminho para o conhecimento.
Ora, 30 anos passados, o francês tornou-se praticamente uma lingua morta. Longe vão os tempos em que assisti a um concerto do Leo Ferré no Coliseu dos Recreios, com a sala apinhada de gente a cantar em uníssono os poemas do velho anarquista monegasco. O Ferré não tinha o talento literário e musical do Jacques Brel, mas possuia uma intensidade dramática absolutamente incomparável. Ficou-me gravada a melancolia com que tocou ao piano o Avec le temps, mas só hoje, ao escrever estas linhas sobre o crepúsculo francês, compreendi o verdadeiro alcance das suas lágrimas em palco.
quinta-feira, janeiro 18
quarta-feira, janeiro 17
hoje na :2
terça-feira, janeiro 16
ALTA FIDELIDADE
segunda-feira, janeiro 15
domingo, janeiro 14
STAND UP POETRY
Ansel Adams, Oak tree, California, 1962.
Há qualquer coisa no branco
que me desvia
dos anjos
lá em cima.
Tenho sapatos
pretos
bem assentes na terra
e as mãos sempre abertas
para as estrelas.
É isso que me deixa erecto
todos os dias.
sábado, janeiro 13
quinta-feira, janeiro 11
quarta-feira, janeiro 10
Reporter X
«Não é o que não sabemos que nos cria problemas, é aquilo de que temos a certeza e que afinal não é assim» Mark Twain*
Uma citação retirada de Uma Verdade Inconveniente, recentemente exibido em Ponta Delgada. O filme, que recoloca Al Gore no prime time noticioso, expõe o político e o homem por via de uma auto-reflexão da sua vida até ao período da pós-derrota eleitoral com George W. Bush. Devido ao Natal, o filme passou infelizmente desapercebido.
Al Gore interpela a audiência com as suas preocupações em prol do ambiente e descreve as várias etapas que estiveram na preparação do filme, com preponderância para as disputadas conferências pelo globo. Uma jornada que o levou aos quatro cantos do mundo, por forma a despertar a consciência colectiva planetária para um desafio ambiental à escala mundial. A apresentação gráfica é irrepreensível. A comunicação é cuidada, quer na apresentação dos gráficos quer nas explicações científicas mais complexas, de modo que a mensagem é perceptível por todos.
Se no início o filme se apresenta descomprometido, rapidamente a apreensão toma conta do espectador. Perante o cenário de catástrofe eminente, o futuro que se nos afigura é negro. Mas como o filme não vive sem um lado político é-nos possível vislumbrar uma saída através de uma alteração radical nas nossas práticas e uma postura pró-ambiente. Essa mudança é também política, claramente subentendido, e é ela própria renovável (os EUA são o exemplo apontado!).
Uma visão catastrófica, sensacionalista e alarmista?! É possível. Mas, a aparente negação do óbvio por aquilo que permanece oculto tem sido uma constante na história da humanidade. As vozes dissonantes em torno deste filme e em torno dos movimentos ambientalistas são mais que muitas. A mim parece-me fundamental dissecar a informação que importa reter - e isso basta-me.
Estaremos todos dispostos a alterar as práticas quotidianas em prol do ambiente?! E nos Açores?! Andamos iludidos com o carácter intacto da Natureza e por aquilo que ela representa. Utilizando uma chavão corrente apetece-me dizer: Não penses naquilo que o Ambiente faz por ti. Pensa naquilo que és capaz de fazer pelo Ambiente...
* Citado em Uma Verdade Inconveniente de Al Gore (Ed. Esfera do Caos, 2006)
** na edição de 09/01/07 do AO
*** mail to reporter.x@sapo.pt
terça-feira, janeiro 9
à:mesa
segunda-feira, janeiro 8
Reporter X
domingo, janeiro 7
Bettie Xmas
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Pelos cânones da mais milenar tradição Católica o Natal finda em dia de Reis. No elenco da nossa hagiografia os beatíficos magos Gaspar, Belchior e Baltasar, teleguiados pela estrela de Belém, visitaram o Salvador precisamente no dia 6 de Janeiro do ano zero! Quem eram os "Reis Magos" que inevitavelmente têm lugar, por inerência, nos nossos presépios? Os Evangelhos são lacunares quanto à sua identificação, a História é avara quanto à integração das ditas lacunas e a Net pouco acrescenta à dimensão de lenda. De essencial julga-se que Gaspar, o rei negro, andava à deriva com um coração destroçado por uma odalisca de ébano; Belchior enfrentava o exílio certo após uma traição palaciana que lhe tomara o poder; Baltasar buscava a redenção das imagens das divindades do seu povo em crise de fé. O resto são estórias magistralmente tecidas por Michel Tournier em "Gaspar, Belchior & Baltasar", livro editado pela Dom Quixote e que revisito sempre por esta época. Seja como for, no calendário gregoriano, o dia 6 de Janeiro assinala o terminus das festividades natalicías. Revisito também com prazer e deleite a dulcíssima tarefa de enfeitar a árvore de Natal...que agora, em Janeiro, se desmancha. Para o ano há mais e se Deus quiser contaremos com o ânimo e entusiasmo desta lendária ajudante do Pai Natal !
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sábado, janeiro 6
sexta-feira, janeiro 5
Thank God its Friday # 7
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Bem sei que o tom deste "hino" dos Black Eyed Peas é lamechas mas em época de beatíficas resoluções de Ano Novo ninguém leva a mal. Infelizmente, ao contrário da benigna utopia de "One world", a verdade é que somos todos diferentes e todos desiguais. Consequentemente, o almejado "concerto das Nações" é uma horripilante cacofonia muito pior do que qualquer composição orquestral de Krzysztof Penderecki! Mas, em período de compensação entre as hostilidades da vida real, não deixa de fazer sentido, ainda que o seja ao ritmo de uma melodiazinha rapper, a interrogação : "whatever happened to the values of humanity ? Whatever happened to the fairness in equality ?" Ou seja, dito de outro modo e trauteando o refrão da canção : "Where is the love" ? Noutros tempos, em pleno vigor da geração de 70, a resposta estaria no slogan "Make Love Not War"!
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
quinta-feira, janeiro 4
My Man #1
Edward Shils (1911-1995)
Gurus intelectuais não são propriamente my cup of tea, mas posso-vos garantir que este senhor escreveu coisas interessantes sobre o Centro e Periferia, mais a mais com tradução portuguesa desde 1992 na colecção Memória e Sociedade, primorosamente dirigida por Francisco Bethencourt e Diogo Ramada Curto para a editora Difel. A versão original, Center and Periphery. Essays in Macrosociology, foi publicada pela Universidade de Chicago em 1974, ano em que Portugal terminava o seu terceiro ciclo imperial e, simultaneamente, dava início ao que o politólogo Samuel P. Huntington viria a chamar a terceira vaga da democratização, cujas ondas de choque se fizeram depois sentir na Espanha, Grécia e América Latina.
Não faço parte do bem-aventurado reino dos cientistas sociais, nem sou grande consumidor das suas previsões oraculares, mas respeito a obra de sociólogos que, como Edward Shils, dedicaram grande parte da vida ao estudo da relação entre os indivíduos e o centro das sociedades em que estes se integram.
"As sociedades são demasiado grandes e demasiado diferenciadas para que o centro possa ter um conhecimento completo acerca do resto da sociedade. Há muitos obstáculos a uma tal saturação cognitiva. Existe além disso uma tensão entre a aspiração de conhecimento do centro, a aspiração que a periferia tem de se proteger dessa tentativa de conhecimento, e o desejo do contra-centro de penetrar os arcana imperium do centro."
As palavras são de Edward Shils, os sublinhados são meus ... e desculpem lá qualquer coisinha pelo tom erudito.
quarta-feira, janeiro 3
terça-feira, janeiro 2
Mensagem de Ano Novo
Foto Diário Insular
Sempre achei a famigerada ideia dos Açores ultraperiféricos uma enorme desonestidade intelectual, para não lhe chamar outra coisa. O facto de muitos celebrarem a homologação deste conceito pelo Directório da União Europeia como uma espécie de "conquista de Abril", quase tão preciosa como a da constitucionalização do regime autonómico, causa-me autênticos arrepios pela espinha abaixo. Em suma, a ultraperifericidade tornou-se o rendimento mínimo garantido da sociedade açoriana. Aceitar esta situação, considerá-la organicamente ligada à nossa condição insular, é quase um pedido colectivo de reforma antecipada e meio caminho andado para hipotecarmos o futuro à política assistencialista da União Europeia. Dito por outras palavras, é pôr todos os ovos no mesmo cesto. Admito o valor instrumental da ultraperifericidade enquanto abre-latas dos Fundos Europeus, mas não me venham tentar convencer que estas ilhas, a meio caminho da Europa e da América, por sinal os dois maiores pólos económicos, tecnológicos e culturais do mundo inteiro, são ultraperiféricas, coitadinhas.
Feitos estes considerandos, foi com surpresa e agrado que registei as seguintes palavras do Representante da República para os Açores na sua mensagem de Ano Novo:
"... Mas a ultraperiferia dos Açores é um prejuízo que nos habituámos a ver como uma inevitabilidade, uma condenação ou uma fatalidade. Nada menos exacto. O Mundo mudou. E se nem sempre mudou para melhor, aproveite-se da mudança o que o novo paradigma tem para nos oferecer, porque a novidade tem sempre oferta nova. O fantasma da mundialização, com os seus medos e os seus assombros ? os seus Adamastores ? veio neste ponto a desmentir a fatalidade da ultraperiferia.Os Açores não são mais o ponto mais ocidental, a cauda da Europa, mas antes o centro do Mundo que agora é global e intercontinental. Por outro lado, a Europa em que nos integramos tem hoje na sua Agenda a definição de uma Política Marítima Europeia que passa necessariamente pelo aproveitamento e valorização dos Açores com a imensidão e a riqueza dos seus mares. A sua zona económica exclusiva é algo de muito valioso que os Açores oferecem à Europa, mas que, por ser sua pertença, a Europa deve devolver aos Açores em medida equitativa e proporcional ao seu contributo. O mar deixou de ser fronteira e distância para voltar a ser caminho de comércio e de esperança. E é aqui que este porta-aviões no Atlântico, entre a Velha Europa e os Novos Mundos, vem a ganhar a centralidade que lhe abre novos horizontes, lhe volta a traçar novos caminhos e lhe potencia novos destinos."
Graças ao agregador de blogs Planeta Açores, dei com as declarações do Dr. José António Mesquita via Azoriano. Bem sei que o Representante da República não descobriu a pólvora e que o seu low profile também ajuda, mas não é todos os dias que se ouvem coisas destas e, correndo o risco de ser pouco rigoroso, parece-me que a comunicação social da Região não lhes deu o merecido destaque. É por estas e outras razões que gosto muito da companhia da blogosfera açoriana, com todos os seus defeitos, odor corporal e posts politicamente previsíveis, como este, por exemplo.
Bom Ano Novo, blogosfera. É dar-lhe vergas em 2007.