quarta-feira, setembro 20
o furacão espectáculo
Agora que estamos entre tempestades, acabou de passar perto uma e está quase a passar ao largo outra, é talvez a melhor altura para reflectir sobre o que realmente aconteceu e sobre aquilo que a comunicação social na sua maioria, as televisões em particular, quiseram que acontecesse. Confesso que não andei colado aos telejornais e outro tipo de telespectáculos mas do que vi fiquei com uma desagradável sensação de mediocridade e sensacionalismo. Bem sei que já devia estar acostumado, que é este o nível dos editores e por aí a fora, mas quando estamos a falar de questões que podem por em causa a vida de pessoas seria legítimo um maior cuidado no tratamento das notícias. Devo dizer que do que vi a RTP-A até nem foi das piores, principalmente quando comparada com a miserável cobertura que quer a SIC, quer a TVI deram ao acontecimento, se bem que, e como muito bem realçou o Alexandre, aquele directo bigbrotheriano pela noite dentro ao som de violinos fúnebres seja altamente discutível. A mim o que me perturba é a ignorância, o atrevimento, a desfaçatez, a arrogância e a impunidade dos meios de comunicação social que trataram o Gordon como uma oportunidade de sangue, criando um pânico desnecessário, desinformando as populações e descrevendo o evento com cores de calamidade pública numa ânsia mórbida de catástrofe, em vez de optarem por uma postura pedagógica, factual, dito numa palavra noticiosa. A SIC enviou uma equipa de repórteres para a Terceira que se estivessem a almoçar no restaurante do peixe em São Mateus ou a fazer aquelas reportagens era a mesma coisa. Tudo aquilo era estúpido. Depois o que chateia mais é a ignorância, ninguém se lembrou de explicar o que é uma escala de Saffir-Simpson, ninguém alertou para a total imprevisibilidade de fenómenos deste género, as mutações, os desvios de rota, a anormalidade climática de um fenómeno destes nesta região, transformaram o Gordon num Katrina e acabaram com um dia de Outono. A vontade de espectáculo é sempre maior do que a responsabilidade de informar factualmente. Um furacão é um fenómeno raro nestas latitudes. Querer prever com a certeza de horas onde e como um furacão vai atingir é uma tarefa impossível. Estes directores de informação e editores e directores das televisões que temos adoram sangue, esperemos que estejam atentos à chuva que vai cair em Lisboa.
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