sexta-feira, setembro 29

a falar é que nos entendemos

depois do artigo da semana passada que tanta perplexidade me causou e que gerou aqui nos comentários uma acesa discussão, o Rui Cabral, num gesto de grande inteligência que merece elogio, publica hoje o texto que reproduzo aqui em baixo. Ficam assim esclarecidas algumas questões fundamentais. Oxalá outros editores e jornalistas, ou até mesmo outros articulistas da nossa praça, tivessem a honestidade e a nobreza de carácter do Rui para não fugirem de uma discussão e esclarecerem os leitores das suas opiniões e das suas reais intenções. Faz muita falta na opinião publicada nos Açores este tipo de frontalidade. Um abraço Rui.

O que não foi dito
29-09-2006
por rui jorge cabral


No artigo ?Dizer não? (?Crónicas do Aquém? de 21 de Setembro) não se pretende lançar um estigma sobre o toxicodependente como alguém ?fraco de carácter? para toda a vida. Se é uma fraqueza que leva um indivíduo a uma dependência, é também uma enorme força que o tira de lá e o carácter está em ambas.


Também não se quis afirmar que os Planos contra a droga para nada servem. O que se pretende em ?Dizer não? é chamar a atenção para uma espécie de resignação em que se caiu, onde as medidas muito meritórias que são tomadas resultam em cuidados paliativos, perante uma doença sem cura à vista. No caso da droga, não se resolve o problema desresponsabilizando o indivíduo dependente. Associados ao tratamento da dependência, deviam estar sempre programas de formação profissional e de trabalho para quem deles necessite. Nos casos em que isso existe, a taxa de sucesso na recuperação é mais elevada. Estabilizar fisicamente um dependente e depois mandá-lo para a rua refazer a sua vida num cenário em que ele destruiu as suas relações sociais, é reenviá-lo para a droga. Isso é fácil. Difícil é conseguir despertar no indivíduo a força de vontade, sem a qual ele nunca vai recuperar. Ao que se quer ?Dizer não? é a uma sociedade que está a ter muitas dificuldades em formar homens e mulheres com um carácter que lhes permita assumir as responsabilidades da vida, sem deixarem de a gozar. Essa é a melhor prevenção para os problemas e todos os contributos são bem-vindos. Isto porque, na cadeia indivíduo/família/escola/trabalho, quanto mais tarde entrar o sentido de responsabilidade, mais difícil é a recuperação de quem fica para trás. ||

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