sexta-feira, setembro 22

"Dizer Não"... a quê?

Custa-me fazer este post e passei hoje o dia todo a reflectir sobre se o devia ou não fazer, principalmente porque tenho consideração pelo Rui Cabral e considero-o uma pessoa inteligente, capaz e preparada. É exactamente por isso que me custa ter que fazer um post sobre a crónica de hoje do Rui no Açoriano Oriental. O Rui Cabral escreveu hoje isto que passo a transcrever na íntegra para que cada um faça a sua opinião:

Dizer não
21-09-2006
por rui jorge cabral

Entrou esta semana em vigor o Plano Nacional contra a Droga e Toxicodependências. O plano de acção prevê medidas como a criação de salas de injecção assistida (ou salas de chuto); a troca de seringas nas prisões; a preparação de ambulâncias para acudir a situações de overdose ou a velha ideia de fazer mais estudos para compreender melhor o problema.

Por outro lado, subsiste o debate sobre a liberalização das drogas leves, medida que pode ter a vantagem de quebrar o corrente de passagem das drogas leves para as duras que os traficantes tão bem dominam, mas que, no fundo, não resolve o problema, apenas o minimiza. A droga é um problema de carácter. Recordo uma toxicodependente que, num fórum radiofónico, dizia que já andava a tratar-se há anos, mas nunca saía da droga, esquecendo-se que, sem vontade própria, não há tratamento que a cure. Regra geral, as pessoas que vão parar à droga são pessoas que, de alguma forma, têm uma fraqueza de carácter. A dada altura da sua vida, não souberem dizer não a uma amizade perigosa. Em termos muito genéricos, essa fraqueza de carácter pode ser induzida (filho de uma família disfuncional e violenta); pode ser endémica (pessoa que não consegue reagir positivamente às contrariedades normais da vida); pode ser reactiva (menino mimado que não sabe o que há-de fazer da vida e os pais é que têm culpa); pode até ser inconsciente (pessoa tão disponível, que não distingue o lado bom do lado mau da vida). É na família que se previne a droga, com uma boa educação. O resto, são factores incontroláveis. ||


Isto é, na minha opinião, um discurso do mais reaccionário e conservador que consigo imaginar. Reportar as toxicodependências a um problema de carácter não é admissível nos nossos dias. As pessoas não são feitas só pela sua educação, tal como não são feitas só pela sua genética. Desconhecer as enormes imponderabilidades e nuances do ser humano é desconhecer a própria vida. Mas talvez isto seja só uma questão de opinião.

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