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Em L?ATALANTE?(exposição de arquitectura patente na Academia das Artes)?busca-se, com um travo de estrangeirismo, uma ideia cosmopolita de Arquitectura para os Açores. A filosofia não é inédita nem sequer é censurável. Porém, à margem de uma arquitectura elitista, e por contraponto a uma visão utilitarista para as massas, é tempo de se conceber com qualidade, e o mínimo de dano estético, uma arquitectura para a classe média, ou como em tempos se dizia, para a burguesia. Algo que seja verdadeiramente original, ao invés das corruptelas de Siza Vieira e dos saudosismos de Raul Lino.
Assim, o desafio que hoje se nos coloca é o de traçar o ponto de equilibro entre uma dimensão urbana institucional e pública da Arquitectura, e um planeamento urbanístico que se harmonize com o património edificado e com as novas áreas habitacionais. Vencer este desafio passa pela hábil conjugação de interesses conflituantes entre o tradicional e o moderno. Ora, atingir esse ponto de equilibro é uma hercúlea tarefa que esbarra, logo de início, com um extenso catálogo de estilos, a rivalizar com um rol não menos impressionante de parque habitacional já edificado sob os cânones da nacional piroseira. Aqui chegados é fácil imputarmos o ónus da culpa à difusa responsabilidade das «entidades públicas», todavia, a verdade é que aqui chegamos também por culpa de interesses particulares e de profissionais liberais que facilmente se prostram ao tilintar do dinheiro fácil do novo-riquismo.
Todavia, existe uma qualificada responsabilidade Pública, tantas vezes partilhada entre autarquias e governo regional ou da República, que importa reforçar e credibilizar. Importa efectivamente que a gestão do nosso «habitat» seja equilibrada, evitando-se que o anverso do postal paisagístico, que tantas vezes faz lembrar um ordenado cantão Suíço, seja um amontoado de casebres que evocam uma qualquer favela sul-americana ou um vulgar slum de Calcutá! Fazer seja o que for para contrariar este triste enquadramento é mais do que um imperativo moral; é efectivamente um direito de cidadania que reclama o dever da sua concretização.
Nesse sentido, projectos e ideias como as que emergem em L´Atalante, têm sempre o mérito de buscar a utopia da civilização. Com rigor e suma ciência lá tinha razão Eça de Queirós quando, pela voz do cosmopolita Jacinto de a «Cidade e as Serras» , dizia: «O homem só é superiormente feliz quando é superiormente civilizado.».
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JNAS na edição de 5 de Julho do Jornal dos Açores
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