segunda-feira, outubro 18
O Dia Seguinte
E então Cesar esmagou. A minha primeira reacção foi de espanto, credo não pode ser tanto, não pode ser tão grande. Depois uma constatação amarga instalou-se na minha cabeça, é que o culto da personalidade contínua bem vivo nos Açores. Foi Carlos Cesar quem venceu estas eleições, ele apenas e praticamente sozinho. Um resultado tão folgado só pode ser explicado por esse facto, as pessoas votaram no líder, confiaram nele apesar de tudo, dos oito anos de governação, dos deslizes, da sempre presente arrogância de Cesar, apesar do tudo que foi dito e feito na campanha, apesar e apesar as pessoas votaram nele, da esquerda à direita, em todas as ilhas, de forma avassaladora. Foi uma vitória que nem o próprio Carlos Cesar esperava, mas da qual se vai poder orgulhar por muitos anos. Do outro lado, o reverso da medalha, a derrota estrondosa de Vítor Cruz, e digo de Vítor Cruz porque ele foi, se não o pai, pelo menos a face visível do maior erro estratégico já mais cometido na política açoriana: a Coligação Açores. Vítor Cruz saiu derrotado ontem vítima da sua própria estratégia. Intimamente acredito que Vítor Cruz padeceu de excesso de ambição. Importar a talhe de foice uma coligação já de si impotente no continente para as ilhas e impô-la como o ovo de Colombo eleitoral revelou-se ontem um erro do tamanho do oceano que separa os Açores do continente. É que mesmo que não existissem as trapalhadas do Governo de Santana Lopes a tralha Popular que, apesar dos esforços em a esconder, esteve sempre tinindo como um chocalho ao longo destes longos meses de pré e de campanha nos ouvidos dos eleitores foi demasiado grande para o eleitorado dos dois partidos da coligação engolir. Um dos factos que ficam para a história destas eleições e que todos os próximos líderes do PSD nas ilhas terão que aprender é que o eleitorado destas duas forças que compunham a Coligação Açores odeiam-se de morte. Muitos votantes do PSD e do PP votaram ontem em Carlos César e não engoliram nenhum sapo com isso. Não sei se a Coligação foi uma ideia de Vítor Cruz, se foi um "brain storming" conjunto de uma cúpula de dirigentes próximos de Vítor Cruz, ou se foi uma coisa sugerida de fora, a verdade é que acredito que se o PSD tem concorrido sozinho nestas eleições talvez não tivesse sido tão humilhado, como foi, e, talvez, Vítor Cruz conseguisse sobreviver até 2008. Agora foi o fim e o último prego no caixão do Mota Amarelismo está definitivamente pregado. É um típico caso de ir com muita sede ao pote e parti-lo. Os excessos da campanha são disso exemplo, a propósito outro dos enormes derrotados destas eleições é o Sr. Miguel Brilhante, por sua exclusiva culpa, diga-se. A acusação maldosa é sempre penalizada. Outro derrotado de ontem é a comunicação social. Como é possível que os jornalistas, cuja função é estar mais atentos e ser mais perspicazes e até omniscientes do que o resto de nós, não viram, nem previram, o que acabou por acontecer. Ao longo de duas semanas os principais órgãos de comunicação social, jornais, rádios, televisões, fizeram passar uma imagem de corrida apertada que foi totalmente, e de forma confrangedora para os mesmos, desmentida pelos votos. Algo correu mal e não acredito que tenha sido manipulação do Ministro Gomes da Silva, porque uma das mais tendenciosas coberturas destas eleições foi a da jornalista Ana Sá Lopes no Público, um jornal que se assume como anti Governo. Quanto à questão dos pequenos partidos e da bipolarização, por maior que seja o respeito que tenho pela honestidade e hombridade de Decq Mota, permitam-me discordar. Quem escolhe a representatividade democrática são os eleitores, é pelo voto que se elege e pelo voto que se destitui, se as pessoas preferem apenas dois partidos no parlamento estão no seu pleno direito e isso não deve ser posto em causa. Mais, como se vê pelo exemplo anglo-saxónico a bipolarização abre sempre espaço para grupos e movimentos de cidadãos não alinhados poderem defender causas especificas sem ter que passar pelo filtro dos partidos. Por último uma pergunta: como é que ficam os Açores depois de 18 de Outubro? É certamente cedo para dizer, mas uma ou duas cautelas surgem imediatamente. O perigo da entronização de Carlos César, criando-se uma espécie de Alberto João açórico, não desmerecendo, obviamente, com tudo o que isso tem de mau. A continuação e, previsível, agudização das guerrilhas entre o Governo rosa e as autarquias laranja, com prejuízos óbvios para os cidadãos. O perpetuar nos Açores do total vazio no debate de ideias. A administração está longe das pessoas e governa sem as ouvir, com uma maioria destas isso vai acentuar-se, oxalá que não. Por último, e só para chatear; Merecíamos Políticos Melhores, a campanha a que assistimos deu total razão a este slogan.
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