quinta-feira, outubro 7

A «cabeçada» da direita.

Esta coisa de acordar cedo tem as suas desvantagens, para mim a pior é que acordo sensível, para não dizer acordo já irritado. Ora como todo o homem sabe a irritação matinal é a pior inimiga da higiene diária, a irritação corta. Pois em plena higiene diária dou com o último post do João Nuno, este que está mesmo aqui por baixo, e corto-me pior do que se me tivesse cortado a fazer a barba. Vamos lá ver. Eu sou socialista, não o escondo, da ala a que gosto de chamar equilibrada. Não sou bloquista, vejo no bloco um excesso de radicalismo, próprio para a UDP ou para o PSR, mas que a mim me irrita, os meus radicalismos eu gasto nas ondas. Mas apesar disso o radicalismo reaccionário do João Nuno, se bem que humorado, também me irrita (eu avisei que acordar cedo...). É que o problema de um post como o teu, meu querido amigo, é alguém decidir fazer o mesmo mas ao contrário. Ora vamos lá imaginar que a Coligação Açores chega ao poder nestes abençoados calhaus, conhecendo-lhes a ideologia, pouca é verdade, mas mesmo assim conhecendo o que conhecemos da ideologia da coligação imaginemos o que aconteceria com estes senhores e senhoras no poder.

Vejamos: Prioritária seria a criação, nos ilhéus dos Mosteiros, de uma instalação prisional para opositores ao regime. Nesse local idílico seriam acondicionados todos aqueles culpados de contrariarem as normas e os preceitos da moral instituída e dos bons costumes. Gays, lésbicas, toxicodependentes, poetas, cumonistas, socialistas, putas, arrivistas, e por aí fora. Depois, no plano económico todos os serviços seriam privatizados, sendo que apenas uma mão cheia de grandes conglomerados controlaria todas as áreas do tecido económico em estreita colaboração com o poder político, os benefícios e os dividendos seriam, é claro, distribuídos entre os poderosos. No domínio do ambiente havia que criar sectores distintos para as duas classes sociais, trabalhadores e privilegiados. Obviamente o Ilhéu da Vila Franca, a Caloura, a Silveira, a cidade da Horta, toda a ilha do Pico, o vale das Furnas, as marinas, as piscinas naturais ou construídas e todas os outros locais, digamos turísticos, das ilhas seriam de acesso reservado aqueles que possam comprovar, através de cartão do estado, ou Visa Gold, pertencer às classes privilegiadas. Aos restantes será concedido acesso ao bairro do caranguejo em rabo de Peixe e à ilha do Corvo. A educação seguiria o modelo instituído pela Secretaria da Moral e da Propaganda e os preceitos da Santa Madre Igreja. O horário escolar, das 8 às 5, seria preenchido para além do currículo académico normal, com aulas de Moral, de lavores femininos, de trabalhos manuais, e ginástica sincronizada. Nas aulas de português seria de leitura obrigatória o compêndio de discursos do honorável Dr. Paulo Gusmão. As uniões de facto ficariam proibidas bem como todas as demonstrações públicas de afecto, excepto entre casais heterossexuais com mais de cinquenta anos. Todos os jovens até aos dezasseis anos teriam obrigatória mente que participar todos os anos em jambories da Liga Açoriana, devidamente supervisionados por um padre, uma representante da Associação da Mães de Família, e do Estado. Escusado será também dizer que os jovens seriam proibidos de participar em ajuntamentos que apenas servissem para consumos inconsequentes de bens de primeira necessidade. A Semana do Chicharro na Ribeira Quente passaria a ser organizada pelas senhoras da Associação de Mães de Família, como grande evento de propagação da moral cristã e de distribuição de dádivas aos mais desfavorecidos, tudo, obviamente, ao som de fados de Coimbra pelo grande Machado dos Santos... te gusta!!! A mim não!!!

O arremesso serve para os dois lados, meu amigo, ou se calhar sou só eu que acordei irritado.

Sem comentários: