quarta-feira, abril 11
sobre jornais e outros poderes
Sobre o "tema do dia", permitam-me que apresente uma opinião dissonante. A maioria segue pela via da condenação imediata dos Srs. Juízes do Supremo e pela defesa cega da sacrossanta Liberdade de Imprensa. Antes de mais parece-me claro que há aqui uma ressalva importante a fazer na avaliação do caso concreto, muita gente quer fazer deste caso uma questão genérica sobre valores fundamentais quando no fundo o que os Juízes avaliam são casos concretos e do pouco que me pude aperceber há neste caso uma questão concreta da forma como a notícia é dada e acompanhada pelo jornal, já para não falar no problema, que já foi realçado por diversos comentadores, do choque claro entre dois direitos e da sua ponderação. A este propósito e não sendo constitucionalista parece-me inacreditável o comentário do Dr. Marinho Pinto na TSF declarando que as instituições e as empresas não têm direito constitucional ao bom-nome. Depois, e isto sim é que me parece fundamental, há aqui um problema de fundo que tem haver com a forma como os jornais e os jornalistas concebem o seu próprio trabalho. A arrogância permanente dos profissionais da comunicação social em acharem que têm sempre razão, a constante tendência para se entenderem como justiceiros detentores de toda a verdade, o gosto pelo escândalo, pela polémica, as relações pouco claras com poderes políticos e económicos, leva a exageros e atropelos, muitas vezes graves, da decência e, até, do bom-senso e do bom-gosto. Se juntarmos a isto a crescente tendência da generalidade da comunicação social em se assumir como empresas cujos lucros advêm da venda de exemplares temos um acidente à espera de acontecer. A Comunicação Social, no seu todo, pretende ser inimputável e, mais grave, quer ser a única detentora da Verdade, arroga-se o direito de acusador mas não quer ser condenada. O Tribunal dos Media, como um rolo compressor, passa por cima de tudo e de todos, terra planando a realidade num xadrez de pretos e brancos, sem lugar às nuances, aos equilíbrios instáveis, que são a matéria da realidade e não os maniqueísmos fáceis da grande maioria dos jornalistas e redacções. Quem sofre com isto somos todos nós, cidadãos. A credibilidade dos órgãos de comunicação social é feita da sua relação de escrutínio mútuo com o resto da sociedade, o mesmo para qualquer um dos outros poderes. Da mesma forma que Juízes, Governantes ou políticos não estão isentos de avaliação e escrutínio dos media, também os media não podem querer estar isentos de condenação. É disto que é feita a democracia, deste escrutínio, deste equilíbrio. Se é verdade que temos governantes corruptos e Juízes incompetentes, não é menos verdade que cada vez mais temos Jornais irresponsáveis e jornalistas ignorantes. Os órgãos de comunicação social são mais rápidos do que a própria sombra em apontar o dedo à degradação da sociedade, do sistema judicial e político, mas recusam fazer uma análise isenta da sua própria degradação. A este respeito e em jeito de nota de rodapé deixo aqui o lamento de um amante de jornais que assiste impotente à derrocada dos dois únicos jornais de referência do País, Público e Diário de Notícias, que nos últimos tempos se transformaram em tablóides sensacionalistas desprovidos de pensamento. A mais recente machadada na credibilidade foi dada no DN com a "dispensa" de um dos mais cultos, interessantes e relevantes dos opinion-makers nacionais, José Medeiros Ferreira. Os Jornais podem estar cheios de verdades e de razão, os jornalistas podem se sentir vítimas de terror e censura, mas hoje é cada vez mais difícil acreditar na Imprensa.
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