segunda-feira, abril 16

A História não se mede aos palmos





Confesso que o concurso Grandes Portugueses me passou bastante ao lado. Mal foi noticiada a shortlist dos 100 maiores, fiquei logo em guarda baixa. O meu favorito, obviamente, nem sequer dera entrada nesse redil. Tombara, sem glória nem proveito, nas primeiras eliminatórias da Taça de Portugal. Fui acompanhando a competição à distância e nem mesmo durante os playoffs, quando personalidades vivas advogavam os feitos de personalidades mortas, segui em directo qualquer uma das performances tribunícias. Como entretenimento, prefiro de caras os Sopranos, a Ally McBeal, ou a Bones, por esta ordem. É certo que se trata do nosso país e da nossa História, que é aquilo que o Estado me paga para ensinar, mas tenho alguma dificuldade em levar a sério o Portugal dos rodapés televisivos e, portanto, não me surpreendeu o resultado final do concurso que, bem vistas as coisas, foi um braço de ferro entre a II e a III República portuguesa. Que António de Oliveira Salazar, Álvaro Cunhal e Aristides de Sousa Mendes, tudo homens do século XX, tenham ocupado o podium, diz muito acerca da crescente presentificação da História de Portugal, agravada pela já de si débil cultura histórica da maioria dos cidadãos. Dir-me-ão que o concurso televisivo foi um bom contributo para o seu fortalecimento, mas não lhe consigo vislumbrar outro mérito que o de case study para identificar as novas coordenadas da esquizofrenia nacional. A verdade é esta: os portugueses, de tanto abjurarem a sua falta de modernidade, têm uma relação imbecil e provinciana com o seu passado, designadamente com algumas partes em tempo modernas desse mesmo passado.

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