Um Jornal que fecha*
Não constitui motivo de satisfação para ninguém. Pelo menos não deve. O Correio da Horta com 76 anos de existência suspendeu a sua publicação no passado dia 15 de Fevereiro de 2007. Razões de ordem financeira associadas ao déficit na exploração da empresa que detinha o jornal, a par com uma livraria e tipografia, estiveram na origem deste fatídico desfecho.
Que factores terão conduzido a esta situação? A responsabilidade, dizem alguns, está na falta de apoio institucional (leia-se publicidade). Certo. Mas, uma sociedade que vê desaparecer os seus jornais e não reage - não poderá ser isso sintomático de outros males e de (com) outras leituras!??
No passado e em meios rurais, como o nosso, quem informava detinha, na sua generalidade, um capital cultural e um estatuto comunitário condizente pelo facto de aceder a um bem disponível apenas a uma pequena minoria literata. Actualmente, e nos dias que correm, o referido capital está diluído. E em muitos "profissionais", que se apregoam "jornalistas", esse bem é "deficitário". Isto porque ao jornalista é-lhe imputado um carácter de isenção, de "guardião da verdade", de "justiça" e de responsabilidade. No entanto, nem sempre isso acontece pelo que as "expectativas" são (têm vindo a ser) goradas.
Ler jornais é saber Mais. É concerteza. Mas em alguns casos é um Não-saber. Urge uma discussão aprofundada à real situação do jornalismo feito nas ilhas. É comum o enaltecer da idade e importância que muitas destas publicações tiveram no passado, na medida em que era por esta via que se lia e falava do mundo e das ilhas. Hoje, felizmente, os canais de comunicação são difusos (a expansão mundial do fenómeno dos blogues, por exemplo). A profusão da informação disponível é mais que muita e caberá, talvez, aos jornais - de hoje -"filtrar" muito daquilo que realmente importa.
O papel dos media nos Açores tem de ser revisto à luz do manancial informativo Global. O Local não pode nunca ser esquecido mas deve ser mais e melhor analisado. Não reconhecer as transformações societais impostas por novos comportamentos e culpabilizar, somente, as Instituições Públicas pelo fracasso de muitas publicações periódicas é não querer assumir a crise que grassa em muito do que é publicado.
* publicado na edição de 20/02/07 do AO
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