domingo, agosto 27

Fim da 1ª etapa

Mais belo que o belo
A exposição "9 ilhas 9 fotógrafos", presente no Teatro Micaelense, é de uma qualidade rara e imperdível. Nunca as nossas ilhas terão sido tão bem captadas e registadas. Gente de fora que sabe muito da sua profissão e que não deixa passar nada do que se lhe mete pelos olhos dentro. Olhos que vêem a luz. Olhos que do feio fazem o belo mais belo que o belo.


Expresso das Nove
Sexta-Feira, 25 Agosto 2006

quinta-feira, agosto 24

terça-feira, agosto 22

FÉRIAS

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Blogar todos os dias também cansa. Consequentemente, cedo entrei de estágio para as habituais férias prometidas pelo calendário estival. Primeiro seguiu o Vox Populi (como já bem observou o Alexandre), secundado pelas crónicas mensais do Jornal dos Açores, e daí em diante fui entrando no doce prazer de postar "coisas realmente insignificantes" profusamente ilustradas por pin up's como Kate Moss ou Asia Argento.

No gozo das férias por cá vou passando e lendo o que resto da "comunidade" vai postando. Tradicionalmente, algures no mês de Agosto, tenho a pretensão de partilhar algumas sugestões de leitura com os bloggers que ao longo do ano são frequentes leitores deste blog; afinal de contas durante as férias, para quem é um leitor compulsivo como eu, é tempo de nos atiramos a alguns livros que, na voragem dos dias que passam, vão ficando em standby. Na lista que se segue não há qualquer colagem literal ou subliminar do título ao leitor. Importa sim o sumo destas delícias que já consumi e cuja leitura ou releitura recomendo com apreço.
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Para o Nuno Barata: "Um Herói Português - Henrique Paiva Couceiro" (Ed. de 2006 da Alêtheia) o mais recente ensaio de Vasco Pulido Valente que recupera a memória de uma outra direita precedente à República e ao Salazarismo. Henrique Paiva Couceiro serve de personagem tipo no enredo de um Portugal que se afundava na I República. O antigo Governador de Angola, que havia participado em várias campanhas de África, como Monárquico que era sustentava que nada o impediria de defender a "tradição". Consequentemente abominava o Partido Republicano e a república jacobina de Afonso Costa. Quixotescamente organizou a resistência à República e com os "pinocas", seus sequazes exilados no Norte e na Galiza, pretendeu lançar uma carga a cavalo pela Coroa para varrer do mapa o Partido Republicano. Não teve sorte e acabou ostracizado pela I República e pelo Estado Novo. Um livro que se lê com paixão na revisitação do nosso passado.
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Para o Pedro Arruda recomendo partilhar a leitura que conclui recentemente: "A possibilidade de uma ilha", de Michel Houellebecq (Ed. de 2006 da D. Quixote), que assinala com o habitual escândalo o regresso do enfant-terrible das letras francesas. O romance gravita em torno da biografia de Daniel 1 narrada pelo próprio e, num cenário pós-apocalíptico, pelos seus clones Daniel 24 e Daniel 25. Daniel 1 é um humorista niilista e cáustico que ganhou a vida a satirizar cinematograficamente a humanidade. Sintomaticamente o seu maior sucesso comercial fora uma paródia intitulada "Broute-moi la Bande de Gaza - mon gros colon juif" (g.m. "Lambe-me a faixa de Gaza - meu grande colono judeu"). Houellebecq afirma que os artistas dividem-se entre revolucionários e os decoradores sendo que "os revolucionários são pessoas capazes de assumir a brutalidade do mundo e de lhe responder com uma brutalidade acrescida." À margem destes os humoristas, no seu desencantado modo de ver a humanidade, não têm por finalidade "transformar o mundo, mas em torná-lo aceitável, transformando a violência, necessária a toda a acção revolucionária, em riso e, acessoriamente, ganhando também muita massa.". Longe do fulgor de "Partículas Elementares" ainda assim esta última excrescência literária de Houellebecq lê-se com sobressalto e com bolinha vermelha, pois o autor nada tem de decorativo. Nas palavras do ensaísta Eduardo Lourenço "sob a aparência do cinismo, A Possibilidade de uma Ilha, é um livro grave. Talvez seja a máscara que convém pôr num mundo que não conhece a fundura da sua perdição.".

Para o Tózé Almeida, uma lamentável defecção do :Ilhas, fica o registo de uma outra dissolução magistralmente narrada em "A Obra ao Negro" (Ed. 2002 da D. Quixote) de Marguerite Yourcenar. Pela vida errante de Zenão dissolve-se a ordem de valores da Idade Média abrindo-se ao leitor uma janela para uma nova ordem precursora da Modernidade. Um livro denso e apaixonante cuja sabedoria contagia pois, como diria Zenão, "a vida empareda os loucos e abre uma fresta aos sábios.".

Para a mais erudita, mas também, por dever de ofício, errante participação da blogoesfera Açoriana deixo à consideração do Carlos Riley uma longa crónica de viagens de Henry Miller, por vezes acompanhado de Lawrence Durrell, numa demanda pela metade da alma coeva da nossa civilização. Uma espécie de "Cherchez la Femme" civilizacional e de costumes que tem por destino essa divindade Europeia que é a Grécia. A narrativa em tom coloquial, instigada pelo entusiasmo de uma ninfeta de Miller, ficou condensada em "O Colosso de Maroussi" (Ed. De 1996 da Livros do Brasil).

Para o Alexandre Pascoal presumindo que como militante do Bloco é um prócere entusiasta das artes circenses aqui fica a recomendação de "Shalimar - O Palhaço" (Ed. De 2006 da D. Quixote) de Salman Rushdie. A milhas da obra-prima que é "O último suspiro do mouro" este livro de Rushdie, com um palhaço assassino a servir de fio condutor da narrativa, é um patchwork épico que atravessa parte do nosso Século XX. Em suma: nas palavras de Rushdie é mais uma peça para a "crescente irascibilidade do mundo". O livro requer alguma tenacidade e paciência mas a leitura é gratificante.

Para o André Bradford fica a sugestão de um Clássico da Língua Portuguesa: "Eusébio Macário" de Camilo Castelo Branco (Ed. Ulmeiro 1998). Esta "história natural e social de uma família no tempo dos cabrais" é livrinho que nos reconcilia com o pesaroso Camilo Castelo Branco de "Amor de Perdição" pois foi arquitectado para ridicularizar. Um retrato impiedoso de públicas virtudes, "Eusébio Macário" fustiga os vícios privados, ilustrados num estilo rendilhado, e devidamente embrulhados numa farsa de costumes de chorar a rir. Com razão lá diziam os clássicos que "ridendo castigat mores". A edição faz-se acompanhar de um indispensável rol de notas de rodapé.

Para o João Pacheco Melo recomendo a revisitação de uma pequena mas deliciosa monografia: "Corografia Açórica" (Ed.1995 da Jornal de Cultura) por João Soares de Albergaria de Sousa. Neste ensaio oitocentista o autor assevera que "Os Micaelenses são altos e fortes e os melhores agrícolas dos Açores: os civilizados são muito tratáveis pela sua sinceridade e franqueza; e os que se não têm familiarizado com os estrangeiros, reúnem as boas qualidades dos Açorianos."! Nem imagino o que diria hoje o autor dos autóctones, em especial da estirpe que idolatra o Sandro G e afins.

Para o indispensável Carlos Falcão, em complemento de outras leituras nas cercanias de Goa, sugiro "A Índia Portuguesa em meados do Séc. XVII" de Carl Boxer (da Edições 70).

Para o Nuno Mendes, um dos melhores livros que reli este ano: "A Invenção de Morel" (Ed. de 2003 da Antígona) de Adolfo Bioy Casares. Em 120 páginas é um livro tão fantasticamente complexo, embora de leitura voraz, que ando desde o ano passado a tentar escrever um post sobre esta obra-prima da "literatura fantástica" sem nunca encontrar o caminho para a ilha de Morel!

Para as Miauu Girls, capitaneadas pela Maria Graça da Silveira, um livro excelente que recebi no dia do meu aniversário: "Cisnes Selvagens - Três Filhas da China" de Jung Chang (Edição da Quetzal / 2004). Uma saga familiar, vista pelo lado do ascendente feminino, num país que despreza a condição feminina entre outros valores que nos habituamos a respeitar no "mundo Ocidental".

Para o Rui Lucas, que este ano tive a gratificante honra de conhecer profissional e pessoalmente, fica a indispensável sugestão de leitura para quem partilha o gosto pelos trilhos de Santiago. O "(Des)Caminho para Santiago" de Cees Nooteboom (Ed.de 2003 da ASA) é um erudito e completo guia para quem quiser andar perdido por terras de Espanha.

Para o humor desconcertante do Nuno Costa Santos serve adequadamente "O Avesso da Vida" de Philip Roth (infelizmente julgo que não há tradução portuguesa pelo que terá que se amanhar com a Brasileira da Companhia das Letras/1987).

Para o Guilherme Marinho, sempre a par da agenda política Espanhola (além da nossa como é óbvio) fica o atrevimento da recomendação de "Vagabundo ao serviço de Espanha" desse grande senhor das letras que foi Camilo José Cela (um merecido prémio Nobel da Literatura). Por vezes gongórico, outras vezes coloquial, este pequeno livro de viagens mergulha no sangue garrido do lastro histórico de Espanha. (Ed. De 2002 da Asa).

Para o Pedro Gomes ocorreu-me "A Grande Ruptura" de Francis Fukuyama (Ed. de 2000 da Quetzal) uma obra densa que pretende dissecar e incensar a sociedade da informação. Pelo volume é uma garantia de leitura para um semestre!

Para a Mariana Matos, como é óbvio não cometeria a ousadia de recomendar poesia, pelo que optei por uma obra cujo gosto fosse possível partilharmos. Presumo que "Errata: Revisões de uma vida", de George Steiner, preenche este propósito. (Ed. 1997 da Relógio De Água)

Para o empresário cultural Victor Marques é também tempo de férias e o desejo de evasão evoca porventura outros quadrantes. Fica assim a sugestão de "Noa Noa - Voyage de Tahiti" de Paul Gauguin (excelente Ed. De 2003 da Assírio & Alvim). "Noa Noa, que em tahitiano quer dizer cheiroso; ou seja, como cheira o Tahiti" que, como se sabe não é aqui, evoca o relato duma evasão apaixonada, pela pena peculiar de Gauguin, que apenas ambicionava, entre outras coisas, "o gozo do dia a dia sem contratempos.".

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Finalmente, não poderia olvidar os meus dois comentadores favoritos: o Ezequiel e o Edgardo, ambos de pena cortante, por vezes lancinante, são contudo visitantes recorrentes deste blog cujos comentários só o enriquecem. Para o Edgardo, acaso encontre o livro num alfarrabista, fica a recomendação da "Antologia do Humor Português" de Armando de Mello (é mesmo com dois ll) da Edições Afrodite. Para o Zeke uma leitura mais actual na demanda da compreensão global mas também Europeia do resto do mundo. Que, como se sabe, tende hoje a ser o mundo do Islão cujos muçulmanos formam entre nós "coágulos lentamente absorvidos" (na fórmula de Houellebecq). Actual e de leitura compulsiva aqui fica para o Zeke, em particular, a sugestão de "O Ocidente e o Resto" de Roger Scruton numa edição de 2006 para a Ed. Guerra e Paz.
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Prometo voltar algures em Setembro com outras Ilhas. Posto isto até um dia destes num blog perto de si!
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

segunda-feira, agosto 21

* * * * * * * * * ÚLTIMA SEMANA * * * * * * * * *


O Decrypter e a Formiga


Agosto é mês de armazenamento para o Inverno.
Cá em casa quem mais trabalha são os DVD-Writers

Feios, Porcos e Maus *

[Summer Cota edition]

(...) as mulheres não estão mais presentes na vida política porque não querem, porque valorizam mais a sua função social na família e na sociedade e também por uma questão eminentemente cultural.
Política no feminino por Carlos Pinto Lopes na edição de 20/08/06 do AO.

* o LADO B do Vox Populi (de férias e sem net!)

Encontro do poder legislativo nos EUA

...no Tennessee Fried Chicken!??? Esta era a fotografia (!!!) associada à noticia da deslocação de Vasco Cordeiro aos EUA e na qual «O governante participou em várias sessões temáticas dedicadas a questões tão diversas como a Imigração, a Comunicação Social, a Educação e a Saúde e assistiu a uma conferência proferida por Michael Chertoff, secretário da Segurança Interna dos Estados Unidos, o ministro da Administração Interna da administração Bush. A conferência tem realização anual». Edição de 20/08/06 do AO. Silly, de facto!...

festival de cultura

"talvez a maior alguma vez feita na Região"
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"todos estes eventos que serão dez dias de cultura maciça, que nunca aconteceu nos Açores"
Percebo a necessidade dos promotores/autarcas/empresários em divulgar e de promover o(s) seu(s) evento(s). Mas, gostaria de compreender o porquê dos exageros incontidos na adjectivação promocional associada!?... O festival de cultura organizado pela PV é apenas o exemplo recente de um Verão pleno de grandezas...

sábado, agosto 19

classificações

Li com satisfação esta atribuição à Colmeia. Entretanto o JdA (versão online desactualizada) tem vindo a desenvolver um inquérito popular sobre a restauração em São Miguel. E cujos resultados são os normais para a Época. Espero que o critério de selecção não omita o segmento premiado.

elas andam aí

Informação de utilidade pública: a MUU Coléçam está à venda na Azores Gifts - Rua de São João/Ponta Delgada (telf. 296 28 71 70).

fim de Ciclo

Encerramento do Ciclo de Cinema em torno do Verão que passou pelo TM nestas últimas 3 semanas. Hoje tem lugar Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera, um filme de Kim Ki-duk que utiliza a mudança das estações como uma metáfora para a vida. E se isso não é uma ideia original, é feito de uma forma particularmente invulgar: é um belíssimo filme. Mas essa beleza visual destina-se a amplificar emocionalmente a história, e a sua profundidade espiritual. Este filme levanta questões sobre a forma como vivemos e como as nossas acções e as da natureza podem ter consequências inesperadas anos mais tarde. É uma parábola que restaura a esperança de que o mundo possa enfrentar os seus problemas e retirar ilações para o futuro (via Cinema 2000).

quinta-feira, agosto 17

CineClube

Amor de Verão - My Summer of Love é a história da amizade obsessiva entre duas adolescentes, num inesquecível Verão em Yorkshire. "Amor de Verão" é realizado por Pawel Pawlikowski ("A Última Oportunidade - Last Resort") e foi distinguido com um BAFTA para melhor filme britânico. Passa hoje no Teatro, numa das últimas noites do ciclo de cinema dedicado ao Verão.

Lisboetas é um filme que rejeita o habitual tratamento jornalístico e aborda a experiência humana dos imigrantes da grande Lisboa de um ponto de vista cinematográfico. Estreia hoje no Solmar.

quarta-feira, agosto 16

Língua Afiada

Há determinadas coisas que não devem ser discutidas em público. Mas neste tempo em que tudo é mediático, em que tudo é revelador e passível de ser revelado, o que são os blogues se não uma enorme montra individual para o mundo..., neste tempo nada resiste à voracidade da opinião pública, por maioria de razão algo como um programa de televisão está isento de privacidade e é matéria de natural escrutínio público. O Língua Afiada não é excepção e na exacta medida da dimensão regional têm sido um caso sério de critica e comentário. Eu por mim preferia deixar-me recatadamente deste lado, o do interveniente directo e não me imiscuir na discussão, porque, tal como disse no início, determinadas coisas devem ficar dentro de portas. Estive em silêncio durante muito tempo, embora acompanhando de perto as discussões como esta no Foguetabraze. Agora acho que chegou a hora de dar a minha opinião, mas aviso de início que não vou revelar tudo e que concordo com muito do que o Nuno aí escreveu.

Algumas histórias, para serem bem contadas, precisam de um bom começo, mais do que um fim. A história do Língua Afiada começa no Choque de Gerações. Já praticamente tudo foi dito sobre o Choque de Gerações, mas para os mais esquecidos ou para aqueles que só agora chegaram aqui podem aceder aos arquivos deste blogue entre Outubro de 2004 e Junho de 2005 e ler o que por aí se disse. A história do Choque de Gerações é importante para se perceber o antes, o durante e o depois do Língua Afiada. O Choque de Gerações foi a primeira oportunidade que uma determinada geração de gente dos Açores, que está entre os trinta e os quarenta anos, teve de aparecer na RTP-A com a possibilidade de opinar e discutir uma vasta abrangência de temas fora do estrito âmbito de uma entrevista biográfica ou temas da sua especialidade a que antes estavam confinados. Essa foi uma das principais qualidades do programa. Perto do final do Choque de Gerações começamos a falar no que viria a seguir e na importância de não perder esses cunho geracional. O Joel Neto optou, legitimamente, por acabar com o Choque e partir para um outro programa fora do formato de debate. Em conversa com o Nuno Barata e com o Miguel Monjardino, e tendo a garantia do interesse por parte da direcção da RTP-A em manter uma colaboração connosco, decidimos apresentar uma proposta para um programa semanal em directo de debate sobre questões regionais, nacionais e internacionais. Por diversas razões essa proposta acabou por ficar na gaveta e em Setembro de 2005 a RTP-A abordou ao Nuno e a mim com a proposta do que viria a ser o modelo inicial do Língua Afiada.

Um programa de má-língua, feito em directo, semanalmente, apresentado por um jornalista, o Vasco Pernes, com três comentadores residentes, o terceiro seria o Nuno Mendes, e um painel de uma dúzia de personalidades que iriam rodando todas as semanas no papel de quarto comentador. O foco principal eram os temas regionais, maioritariamente políticos, mas de tempos a tempos outros assuntos, mesmo exteriores à região, iriam ser e foram comentados. Por parte da RTP-A foi posto um enfoque muito especial no estilo combativo e descomplexado de um verdadeiro programa de má-língua em que se discutiam sem pruridos os temas mais importantes da semana. O Vasco teve a ideia da Bica Escaldada, um momento no final do programa para cada um de nós lançar um pensamento, sugerir um livro, ou pura e simplesmente acabar de comentar um tema que tinha sido abordado ao longo do programa. Estava também definido desde o início a duração do programa, 45 a 50 minutos e que este não teria intervalo.

Pela minha parte posso confessar, com sinceridade, que quando este modelo me foi proposto hesitei em aceitar e não foi pelo parco retorno financeiro que era proposto, mas por considerar que um programa de má-língua não era para mim, sou por natureza, e quem me conhece sabe, uma pessoa diplomática e conciliadora. Por isso o tom peremptório e acertivo de um programa do género não me parecia o mais indicado para o meu tom. Mas a vontade de fazer televisão e de dar opinião foi mais forte. Aqui vale a pena fazer um parêntesis para dizer o seguinte: ao contrário do que as pessoas podem pensar a vontade de fazer televisão tem menos a ver com o anseio de fama ou de reconhecimento, mas mais com a própria adrenalina do meio e a possibilidade de participação na vida pública. O ambiente de um estúdio é extremamente solitário e fechado, para além dos técnicos que nos rodeiam nunca sabemos o que o espectador pensa se não quando chegamos cá fora ou quando no dia seguinte somos abordados na rua. A suposta fama associada à exposição pública traz poucos benefícios práticos. Não há nada de muito positivo ou estimulante em ser reconhecido na rua, mas a noção de que as pessoas vêem e ouvem algumas das coisas que vamos dizendo é importante e é um dos aspectos mais agradáveis do fazer televisão. Sim, porque também ao contrário do que é voz comum, há muito mais gente a ver a RTP-A do que se diz por aí.

Ao fim destes dois anos de aparecer na televisão apenas conto como positivos os frequentes contactos na rua com pessoas que não me conheciam mas que vinham dar a sua opinião, o seu incentivo, ou muitas vezes apenas para encomendar, entre aspas, um tema, muitas pessoas sentiram que ali poderiam fazer ouvir os seus problemas e as suas preocupações, houve até quem sugerisse que o programa devia ser aberto a telefonemas. Essa foi a parte boa, o resto foi levar porrada. Porrada anónima nos blogues e indirectas dos políticos que chegam sempre por vias travessas do género alguém disse que fulano diz que vocês, nós, são uns idiotas, incultos, mal preparados e convencidos. Dessa parte consegui criar uma carapaça suficientemente forte para não me preocupar. Sempre que as criticas foram construtivas dei-lhes o máximo de atenção, do mais tenho a consciência tranquila que fiz o que me pediram e pagaram para fazer dando sempre o meu melhor, mesmo quando não me apetecia. Quando digo isto acho que o posso dizer também pelos restantes participantes no programa.

Ao longo de mais de trinta emissões todos os intervenientes, salvo uma ou duas excepções que confirmam a regra, participaram no Língua Afiada de forma isenta, descomprometida, fiéis aos seus ideais e tentando sempre dar o seu melhor para que este fosse um bom programa de informação, mas também de entretenimento. 45 minutos de televisão é muito pouco, dividindo por quatro dá 10 minutos a cada um o que é quase nada, 10 minutos para comentar três a quatro temas é insignificante, suficiente apenas para dois ou três sound-bytes mais ou menos marcantes. Isso foi feito e bem feito. A prova de que o Língua Afiada foi bem feito foi a reacção dos políticos. Falamos de temas de que ninguém falava abertamente, fomos até violentos muitas vezes, mas era isso que se pretendia. Abanamos o sistema. Nos Açores as pessoas dão opinião no café, em casa dos amigos e pouco mais. A grande maioria da opinião publicada é movida por interesses que não são claros, por motivações políticas, económicas, pessoais. O facto de não haver nos Açores um único cronista pago é revelador da falta de isenção, mesmo de qualidade, da opinião que aqui é feita. Não digo que um cronista ser pago seja a principal maneira de aferir da sua qualidade mas é um elemento essencial para garantir a sua independência em relação aos poderes instituídos. Ao contrário do que muita gente pode pensar fazer o Língua Afiada não trouxe qualquer tipo de benefício político ou de qualquer outra espécie aos que nele participaram, antes pelo contrário e é assim que deve ser.

Perante a nossa frontalidade e honestidade fomos atacados com uma suposta falta de preparação da nossa parte. Não vou falar outra vez da questão dos tempos televisivos, mas não posso deixar de finalmente refutar em absoluto essa acusação. É óbvio que não se pode ser especialista em todos os temas, em todos os assuntos, mas aquele também não é um programa de especialistas. O que se pretendia era uma conversa acessível e descomplexada. Mas a verdade é que nunca na vida, e eu sou um viciado em jornais e revistas e blogues e internet, nunca na vida tive que ler tantos quilos de papel de jornal, ver tantos telejornais e debates, ler manifestos partidários e até, coisa impensável para mim até então, relatórios do tribunal de contas. Até para se dizer disparates é preciso saber. O único insulto que nos fizeram e que eu acho legítimo foram os de ordem pessoal. Quem não gosta de mim não gosta, pronto. O mesmo para os Nunos e para o Lucas e para todas as outras pessoas que por lá passaram e se há coisa que eu aprendi é que as pessoas são muito emotivas na hora de fazer um juízo, na hora de gostar ou não gostar.

O programa depois teve uma evolução atribulada, com saídas e entradas, com mudanças de figurino, mudanças essas que em muito contribuíram para a sua flutuação em termos de qualidade, por tudo fomos passando sempre com espírito de abnegação e vontade de andar para frente. Para mim foi mais fácil que nunca saí da minha posição inicial, ao Nuno Barata faço-lhe um enorme elogio pela forma sempre profissional como foi aceitando e praticando diferentes trabalhos no Língua Afiada. Umas semanas fomos melhores, outras piores, como é inevitável num programa deste género, mas fomos sempre verdadeiros, honestos, nunca levianos, tudo o que fomos dizendo foi com a certeza das nossas convicções e acabamos bem com as nossas consciências. O que para mim, sinceramente, é o mais importante.

Terminada esta primeira época do Língua Afiada ficam-me muitos motivos de satisfação e alguns, poucos felizmente, amargos de boca. Ficam também algumas das críticas a que fomos sujeitos e aqui tenho que me referir, finalmente, ao texto do Emanuel Carreiro, independentemente da opinião pessoal que este possa ter de cada um de nós, como referiu o Nuno e bem, o mínimo que se exige a um profissional de televisão com a sua tarimba e conhecimento e que ainda por cima no mesmo texto faz uma análise tão correcta e completa dos aspectos organizativos e de gestão da RTP-A era que quando se refere à programação fizesse, no mínimo repito, uma análise crítica dos programas, utilizando para isso a sua própria experiência pessoal. Dizer que um programa falhou, decididamente, é manifestamente pouco e vindo de quem vêm é quase insultuoso. A nós acusavam-nos de leviandade e falta de preparação, de sermos ligeiros na forma como tratávamos dos temas, pelos vistos fizemos escola.

O balanço público que posso fazer do Língua Afiada é este, o resto terá que ser tratado, a seu tempo, dentro de portas.

terça-feira, agosto 15

será mesmo da silly season ou os jornais são sempre assim?

Ontem na página de anúncio da eliminatória do dia do concurso Construções na Areia que o DN têm vindo a fazer no seu suplemento Boa Vida vinha anunciada a eliminatória do concurso na praia dos Areais de Santa Barbara na Ribeira Grande e a ilustrar uma grande fotografia da zona balnear, se é que assim se pode chamar, do Rosário da Lagoa. Hoje, na notícia do que lá se passou, há um mapa que põe a dita praia dos Areais mais ou menos entre Santo António e os Remédios da Bretanha [ver mapa de São Miguel aqui]. Será que é da Silly Season ou os jornais são mesmo assim?

Outra do género. Ontem o Açoriano Oriental ilustrava uma pequena notícia sobre surf na Ericeira com uma pequena fotografia de um bottom turn em drop knee de um bodyboarder açoriano da velha guarda, fotografia essa provavelmente tirada nos idos de 2003 num campeonato que houve na Ribeira Grande. Isto não tem mesmo importância nenhuma, mas o bodyboarder sou eu e mais uma vez não bate a bota com a perdigota. No verão quem é que fica a fazer os jornais, o contínuo, a porteira? Será da Silly Season ou os jornais são sempre assim?



Nota: este foi o primeiro de muitos, espero eu, posts feitos via Windows Live Writer, um óptimo conselho do sempre atento, mago da net, Paulo Querido.

segunda-feira, agosto 14

a este Jardim

falta a inevitável Poda.

dishing

Nestes dias quentes comer não se (me) apresenta tarefa fácil. Daí que exija rapidez na confecção e frescura ao palato. Camarão + Massa. Ingredientes (2 pax): 500grs. de Camarão médio. 250grs. de Massa (+++ esparguete). Alho (muito e imaculadamente picado). Sal. Pimenta preta. Salsa. Acompanha uma salada de tomate e um Maria Gomes fresquíssimo. Recomenda-se moderação. Uma dica simples e eficaz do Vítor.

sábado, agosto 12

o mundo anda perigoso

Hoje dei comigo a concordar com Estevão G. Câmara e a discordar de Vasco P. Valente. Um enviesamento proporcionado, provavelmente, por uma leitura solarenga!

sexta-feira, agosto 11

Jenna Jameson


A bio de uma das maiores estrelas da porno aparece despercebida na D. Quixote numa tradução que é assim-assim e num livro que está recheado de gralhas, mas de qualquer modo é uma leitura interessante principalmente nestes dias de calor, é bom para ler na praia e assustar as tias...


- então filho o que é esse livro tão grande que ?tá a lere??
- Ó tia é a biografia da Jenna Jameson, uma atriz pórnó.


Proposta a Preto e Branco

Reporter X

Igreja Matriz. Ponta Delgada. Agosto 2006. O culto iluminado. Uma intervenção meritória, sem dúvida. No entanto, o carácter ostensivo ou excessivo do projecto luminotécnico pode constituir-se como supérfluo e eventualmente em acessório kitsch pela forma como tenta sobreelevar o próprio edifício. Outros imóveis requerem o mesmo tratamento, bem como algumas artérias desta cidade, que teimam em permanecer obtusamente sombrias. Diz, quem Sabe, que foram cometidos alguns crimes aquando da implantação dos projectores - garantidamente, uma situação a indagar por quem de direito!

actualização

para 27 links sem detrimento d' o especialista.

quarta-feira, agosto 9

Cherchez la Femme *

[the dark side]

Na rota da imbecilidade recente dei de letras com um nome e um rosto Ann Coulter. Já havia cruzado com a dita senhora no sofá do Jay Leno mas foi por via da Pública, do passado domingo, que me inteirei do verdadeiro carácter da besta. Esta personagem sinistra é uma das recentes relações de amor-ódio nos EUA e preenche o prime time televisivo de talk shows & noticiários em busca de instantâneos preconceituosos feitos à medida de um país pantanoso, incendiando a suposta facção liberal da terra de todas as liberdades. Provavelmente, a parceira de piscina ideal para alguns dos veraneantes de serviço. Ou quiçá a mulher de sonho para os conservadores residentes. Para mim é uma aberração e um sub-produto de uma nação atemorizada e à mercê do fabrico de heróis (patrióticos) à la minute. + pérolas benignas aqui.

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Shake it baby...shake it !

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Se a saison é definitivamente silly então que tenha uma banda sonora à altura. Recomenda-se pois a repescagem deste "The Sunny Side of the moon" de Richard Cheese...and Lounge Against The Machine, agora em formato de best of, adequado para deglutir languidamente entre um Dry Martini e uma piscadela à miragem mais próxima. Este Richard é deliciosamente "cheesy", que é como quem diz "corny", mas está para a lounge music como Jeff Koons está para as artes plásticas.

Neste CD estão embrulhados 18 temas de estilo jazzy, assumidamente easy-listening, servidos por um mestre de cerimónias que faz lembrar os crooners de Las Vegas. Nem imaginam a delícia e o divertimento que é ouvir "Sunday Bloody Sunday" dos U2 ao ritmo das modinhas do caribe, uma remake de "Another Brick in the Wall" à moda de Sinatra, ou um swingante "Creep" dos Radiohead...and so on.
Aqui fica a lista de ingredientes deste cocktail :
01 RAPE ME
(originally by NIRVANA)
02 PEOPLE EQUALS SHIT
(SLIPKNOT)
03 BABY GOT BACK
(SIR MIX-A-LOT)
04 GIRLS, GIRLS, GIRLS
(MOTLEY CRUE)
05 CLOSER
(NINE INCH NAILS)
06 BUST A MOVE
(YOUNG MC)
07 DOWN WITH THE SICKNESS
(DISTURBED)
08 SUNDAY BLOODY SUNDAY
(U2)
09 FREAK ON A LEASH
(KORN)
10 NOOKIE
(LIMP BIZKIT)
11 ANOTHER BRICK IN THE WALL
(PINK FLOYD)
12 ROCK THE CASBAH
(THE CLASH)
13 FIGHT FOR YOUR RIGHT
(BEASTIE BOYS)
14 HOT FOR TEACHER
(VAN HALEN)
15 GIN AND JUICE
(SNOOP DOGGY DOGG)
16 COME OUT AND PLAY
(THE OFFSPRING)
17 BADD
(YING YANG TWINS)
18 CREEP
(RADIOHEAD)

...
Shake it well and enjoy it.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

terça-feira, agosto 8

a verdade vem sempre ao de cima

Há situações em que ter razão antes do tempo não traz satisfação nenhuma. Já lá vão quase três anos desde que neste blogue comecei a falar mal dos investimentos brutais e perversamente desnecessários que nesta ilha se iam fazendo e fui equitativo o suficiente para falar mal tanto dos que foram e são promovidos pelas câmaras municipais como pelos do governo regional. No caso concreto que agora me interessa, do prolongamento da avenida marginal para São Roque, quando essa obra de construção/destruição da orla marítima entre a Calheta e São Roque foi anunciada eu insurgi-me contra e alertei para os verdadeiros interesses por detrás desse investimento. Na altura o Pedro Gomes, que como bom PSD anda sempre por aí, contrapôs os meus argumentos com sugestões de leviandade da minha parte, com a importância da obra para as populações, solidificação dos terrenos e defesa das casas e até me convidou para um passeio de barco como forma de mitigar a minha ignorância sobre o assunto. Ontem a Dra. Berta Cabral em mais uma mediática cerimónia de adjudicação de empreitada, cerimónias que a Dra. já faz de cátedra e tal é o à vontade que fugiu-lhe finalmente a boca para a verdade e, tantos meses depois, veio dar-me razão. "Esta obra pretende requalificar a orla costeira e Berta Cabral salienta que assenta em três objectivos: a requalificação ambiental e valorização da orla costeira de São Roque; em segundo lugar, vai criar oportunidades de desenvolvimento económico na área do turismo, uma vez que a zona tem grandes oportunidades, e além disso, vai proteger as populações que residem à beira-mar, uma vez que é uma zona muito fustigada pelo mar", salientou a autarca". Cito directamente do parágrafo do Açoriano Oriental [link só para assinantes] e permitam-me que repita e destaque esta parte da citação "vai criar oportunidades de desenvolvimento económico na área do turismo, uma vez que a zona tem grandes oportunidades", este é o verdadeiro propósito. E mais uma vez é o monstro imobiliário que levanta a cabeça e come tudo o que lhe aparece no caminho. O idiota argumento da protecção das casas e das pessoas do mar violento é tão só isso - um argumento idiota. Ou pior mesmo, é um acto de demagogia estúpida tão mau ou pior do que alegar o fim do pesqueiro para anunciar a criação de uma nova zona balnear no ilhéu de São Roque. Assim vai a nossa governação: cega pelo dinheiro e pelos interesses, ausente de bom gosto e de bom senso, mentindo como se não houvesse amanhã. No meio disto tudo eu só tenho pena de três coisas: que as pessoas não se apercebam da verdadeira cara dos políticos que elegem se não quando já é tarde de mais; de ter tido razão antes do tempo; e de nunca ter usufruído desse passeio de barco que o Pedro Gomes me prometeu. Por fim deixem que ressuscite uma frase já velha mas sempre actual - Merecíamos Políticos Melhores.

Swimsuit versus Bikini

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Em 1946 foram lançados sobre o atol de Bikini, no Oceano Pacífico, os primeiros de uma longa bateria de testes nucleares com bombas atómicas e de hidrogénio. Noutras latitudes, e poucos dias depois do primeiro ensaio nuclear, o estilista francês Louis Réard lançava outras bombas ao revelar ao mundo quatro pedaços de pano triangular que, num oportuno golpe de publicidade, apelidou de Bikini. Quanto às ilhas de coral homónimas, após uma década de testes nucleares, definharam irremediavelmente. Os autóctones do atol de Bikini, arrastados à força para fora de tal paraíso, ainda regressaram em 1969 para, uma década depois, serem novamente evacuados devido aos elevados níveis de radiação. Em suma o atol estava definitivamente condenado. Sorte diversa teve o celebérrimo traje feminino que lhe tomou o nome. À época o Bikini de Louis Réard foi uma verdadeira revolução e a sua penetração nos costumes estivais esbarrou no padrão vigente de uma moral conservadora. Consta até que o estilista, à míngua de modelos, teve que recrutar uma corista do Casino de Paris para a campanha de lançamento. Com efeito, naqueles anos de antanho, em 1946, nenhuma mulher decente ousaria usar um Bikini. Porém, a resistência não tinha argumentos para opor, por exemplo, à emergência de uma Brigitte Bardot envergando um Bikini amarelinho em "E Deus Criou a Mulher"! Nada de surpreendente pois a iconografia da época ficara marcada por Ursula Andress, no papel de Honey Ryder, em "Dr. No", o primeiro de um filão de filmes de James Bond, cuja presença ficou marcada mais pelos dotes do Bikini da primeira Bond Girl do que pelas suas capacidades de representação.

Conhecida a evolução, é caso para os saudosistas se interrogarem se ainda há adeptas do discreto fato de banho que ilustrava as praias antes da explosão do Bikini. Embora minoritárias ainda há senhoras que preferem o tradicional fato completo.



Que o diga a bela Jenna de Rosnay que veste a camisola desta causa de tal forma que ganha a vida a desenhar e vender fatos de banho femininos com um look desportivo. Nem poderia ser de outra forma pois Jenna de Rosnay é uma celebridade do windsurf, detendo vários recordes mundiais de velocidade nesta modalidade de desporto náutico, carreando assim o élan aerodinâmico para as sucessivas colecções de fatos de banho. Mas, como se vê, nem mesmo a empenhada Jenna de Rosnay, que fez parte da sua fortuna a vender fatos de banho ao estilo baywatch, resiste, de quando em vez, ao charme de um Bikini.



Afinal de contas trata-se de um clássico moderno que neste ano de 2006 perfaz 60 anos. No caso de Micheline Bernardini, a obscura corista que fez a première mundial do Bikini, em 5 de Julho de 1946, acaso ainda estivesse por aí para as curvas estivais, o bom senso e o bom gosto, recomendariam por certo um fato de banho bem completo.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

para ouvir

Os Gaiteiros de Lisboa hoje no Faial.

segunda-feira, agosto 7

Insularidade Atlântica

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Há cerca de uma década atrás o Estado Português assumiu em letra de forma, impressa no Diário da República, que seriam integralmente "equiparados entre o continente e as Regiões Autónomas os preços de venda ao público de livros, revistas e jornais de natureza pedagógica, técnica, científica, literária, informativa e recreativa.". Para o efeito o Estado suportava os encargos totais relativos ao transporte. Ardilosamente este regime foi amputado pelo DL 43/2006 de 24 de Fevereiro, arquitectado para por termo aos abusos vigentes que haviam já provocado "uma distorção inaceitável das prioridades definidas", cfr. se lê num moralizante preâmbulo do diploma em causa. Vai daí o Governo Sócrates sentenciou, como norma geral, que "são equiparados entre o continente e as Regiões Autónomas os preços de venda ao público de publicações não periódicas e de publicações periódicas de informação geral." Mas, logo acrescentou: "A obrigação de equiparação impende sobre os editores ou distribuidores das publicações nele referidas.". Se juntarmos a isto um apertado regime burocrático para as excepções que beneficiam do reembolso dos encargos de expedição o resultado é o que está nas bancas. Por exemplo, no caso do último número da revista Atlântico, pelo mesmo espécimen que custa no continente 4 Euros, tive que desembolsar em Ponta Delgada 5 Euros e 20 cêntimos! Viva a iliteracia "subsidiada" por um Estado que parece ter reformulado um velho slogan pois, nos tempos que correm, para quem vive nos Açores ou na Madeira, ler custa cada vez mais.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

9ª SEMANA








FLORES ©LUÍS VASCONCELOS






9 ILHAS, 9 FOTÓGRAFOS
TEATRO MICAELENSE
14h00 ÀS 20h0




domingo, agosto 6

15 anos

w.w.w
6 de Agosto de 1991 - 6 de Agosto de 2006

weekend postcards

Areal de Santa Bárbara. Agosto 2006. Provalmente a Praia de São Miguel.

06.08.45

CineClube

A Vida Secreta das Palavras Numa plataforma petrolífera onde só trabalham homens, num lugar isolado no meio do mar, houve um acidente. Hanna, uma mulher misteriosa e solitária, que tenta esquecer o seu passado, é enviada para a plataforma para cuidar de um homem que ficou temporariamente cego. Entre eles cria-se uma estranha intimidade que se vai aprofundando, laços cheios de segredos, verdades, mentiras, humor e dor que mudarão as suas vidas para sempre. É um filme, segundo a realizadora, "sobre o silêncio repentino que antecede uma tempestade, e acima de tudo, sobre o poder do amor, mesmo nas mais terríveis circunstâncias". "A Vida Secreta das Palavras" conquistou os Goyas (os mais importantes galardões de cinema espanhóis) de Melhor Filme, Melhor Realização e Melhor Argumento (via Público). A prova de que felizmenteCinema, em Ponta Delgada, para além do ciclo no Teatro. Em exibição no Solmar.

coisas realmente importantes

[update] "o despacho do Ministério Público ilibou Luís Nobre Guedes, mas lembra o objectivo inicial do inquérito: verificar se essas operações financeiras estão relacionadas com eventuais crimes de corrupção e branqueamento de capitais"

sexta-feira, agosto 4

Asia Argento

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Todos os anos, por esta altura, repete-se o petit drama do vil abandono dos animais de estimação. Claro está que no top dos motivos deste flagelo estão as férias dos donos. Depois há aqueles episódios recorrentes de snobismo daqueles que após comprarem um animal de raça, logo se apressam a fazer dumping do fiel rafeiro que até à data lhes serviu de copain. Enfim, sinais dos tempos em que os bichos são objectos de afecto descartáveis e consumíveis.

Todavia neste mundo cruel ainda há lugar a criaturas altruístas capazes de acolher qualquer criatura. Que o diga a belíssima Asia Argento exibindo, numa ternurenta composição, o abafo de um chihuahua cujo recolhimento em tão lustroso colo deixa embevecido qualquer um. Claro está que a meiguice desta ninfeta bem poderia ter melhor fetiche do que um infeliz e escanzelado canídeo. Mas, este episódio é uma excepção, pois a periculosa Asia é mais dada a outras artes, conforme atesta um escabroso portfolio que mais não é do que o reflexo exibicionista desta polivalente ragazza. Nada e criada entre cineastas, desde o avô Salvatore que fez carreira como produtor de cinema, até ao pai Dario Argento, realizador de filmes de terror de série B, a menina Asia estreou-se no cinema aos 9 anitos ! De lá para cá foi um ver se te avias. Filmou com Nanni Moretti (!), participou no entediante Rainha Margot, desfilou perante Abel Ferrara, e recentemente fez de caça-zombies em "The Land of the Dead", uma película medianamente gore que assinala a ressurreição do mestre George Romero.

Actriz, cineasta, fotógrafa, exibicionista tatuada e poliglota,(além do originário Italiano, sabe-se que fala fluentemente o Francês e o Inglês, e dizem as más línguas que ainda é capaz de ousar outras línguas vivas),questionada em Inglês sobre como gostaria de ficar para a posteridade, respondeu: "As somebody who as done everything, but didn´t know how to do anything". Tendo presentes os dotes desta diva do cinema Italiano é caso para dizer que apesar do estatuto de actriz de culto Asia é, afinal, uma moçoila modesta!

Enquanto não chegam à sala de projecção os filmes em rodagem, "Une Vieille Maitresse" (mais uma perversão do estilo "Relações Perigosas"...mas com mais picante) e "Marie Antoinette" (uma mega produção realizada por Sofia Coppola tendo Asia Argento no papel de Comtesse Du Barry, cortesã do Rei Luís XV, et por cause, também decapitada), resta-nos rever o bio pic que realizou e que ficou registado como Scarlet Diva. Como o nome sugere, sem qualquer publicidade enganosa, a Diva é mesmo escarlate, pelo que, a fita tem bolinha vermelha. Em alternativa recomendo a visita ao site oficial ou a googlarem livremente este nome: Asia Argento!
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posted by João Nuno Almeida e Sousa
(por indisponibilidade do chihuahua tive que refrescar a ilustração)

Reporter X

À janela. Largo de São João. Ponta Delgada. Agosto 2006. Sei que a maioria das obras em curso estão para além do carácter fundamental e essencialista. Mas, porque raio é que foram todas agendadas em simultâneo e no pico da época estival!???...

coisas realmente importantes

Luís Nobre Guedes inverteu, ontem, uma parte da história da investigação do processo Portucale, afirmando que a tramitação do dossier no anterior Governo "nunca teve início, nunca foi liderado ou concluído" pelo Ministério do Ambiente, remetendo para os anteriores ministros da Agricultura e Turismo, Costa Neves e Telmo Correia, a condução do mesmo.

Get Physical

Versão japonesa.

quarta-feira, agosto 2

always listen to good music





"uma nódoa de céu nos xailes pretos"

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Rabo de Peixe por John Court
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O TURISMO

Visitar este país
até à última gota:
O porco e o Porto
A bola e a bolota
O que é como quem diz
itinerar a derrota

Tudo tem lugar no mapa
Paris, Washington, Moscovo
Em Itália vê-se o Papa
Em Lisboa vê-se o povo.

Welcome, Bienvenus, Salud, Willkommen?Viva
A sífilis saúda-vos
saúda-vos a estiva
desta carga de heróis em carne viva
nociva mas barata
vindes matar a sede com uva
beber o sumo de ócio que nos mata

Desemborcais nos cais
Desembolsais de mais
mas não sabeis
as coisas viscerais
as coisas principais
deste país azul
com mais hotéis do que hospitais
talvez por ser ao sol
talvez por ser ao sul.

Aqui ao pé do mar bordamos a tristeza
as toalhas de mão
as toalhas de mesa
que levais para casa
Souvenir
deste povo sem pão
que se cose a sorrir.

Aqui ao pé do rio gememos a saudade
nosso fado submisso
nossa água a correr.
canção de mal devir
Souvenir Souvenir
deste povo de trégua
que se canta a morrer.

Aqui ao pé do vento forjamos o lamento
dum país que se vende a peso nos prospectos
tanto de sol ardente
tanto de cal fervente
e uma nódoa de céu nos xailes pretos.

Aqui ao pé do fel gritamos o segredo
do que parece fácil neste país de luz:
é apenas a fome.
É apenas o medo.
É apenas o sangue.
É apenas o pus.

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José Carlos Ary dos Santos
(posted by João Nuno Almeida e Sousa)

coisas realmente importantes

Anoche, el Tribunal Electoral del Poder Judicial de la Federación (TEPJF) determinó entrar al análisis "de la pretensión consistente en la realización de un nuevo escrutinio y cómputo de la votación total recibida en las casillas instaladas para la elección presidencial en los 300 distritos electorales, que subyace en la pretensión de los juicios de inconformidad promovidos por la coalición Por el Bien de Todos".

terça-feira, agosto 1

Meia Coroa versus Robusto

Kate Moss via Bomba Inteligente.
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"Uma mulher é apenas uma mulher, mas um bom charuto pode ser fumado.". Esta grandiosa boutade, para não dizer alarvidade, foi proferida por um nobelizado Rudyard Kipling denotando um descompensado ardor pelo vício de despachar um bom habano. Ao mirar esta delambida Kate Moss, rendida ao prazer de um petit corona, imagino que a diva da moda britânica dos anos 90 diria, mutatis mutandis, o mesmo de Rudyard Kipling e seus confrades. Contudo, nisto de prazeres epicuristas, razão tinham os clássicos quando apregoavam que in medio virtus, expressão latina que, como se sabe, quer dizer que a virtude está sempre equidistante dos extremos, residindo na prudência, na moderação, opondo-se aos excessos e exageros.

Ora, um prudente Jeremy Irons, que personifica a imagem do dandy moderno dado, com moderação, aos prazeres da vida mundana, sentenciou em Havana que: "Smoking a cigarette is like having sex, and smoking a cigar is like making love.". Cá por mim deixei de fumar cigarros há longos anos. Contudo, não prescindo, de quando em vez, de um bom charuto com a prévia garantia de uma hora de prazer. Mas, ao invés da ostentação nouveau riche da menina Kate, aqui cometendo a gaffe de exibir a cinta de um presumível puro, prefiro a modéstia descomplexada de um "Meia Coroa", sem cinta, da Fábrica de Tabaco Estrella. Como o nome indica são charutos de mediana e prudente dimensão, com uma copa saborosa, construção aceitável, tiragem regular e combustibilidade contínua. Em suma: uma valor seguro e previdente.

Todavia, assegura-me o Barata (um especialista nesta matéria como em tantas outras!) que nada bate um "Robusto" da mesma casa Estrella. Enrolado com uma melange de Cuba, Sumatra, São Domingos e Brasil, o dito "Robusto" é um charuto cosmopolita. Porém, algo me diz que não é para iniciados. Consequentemente, resta-me permanecer fiel ao comedido "Meia-Coroa", um petit-corona que é uma "jóia" Açoriana, consumindo com moderação os prazeres da vida.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa