terça-feira, novembro 29

UM ROBOCOP DE PAPELÃO !

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Porventura seguindo a inspiração da mais recente moda na estatutária insular, cujo ícone vigilante é o «action man» de pedra, em versão comando do ultramar, que nos observa às portas do Hospital do Divino Espírito Santo, temos agora nas nossas estradas um Robocop de papelão! Efectivamente, numa iniciativa piloto o comando da PSP, em parceria com Prevenção Rodoviária Açoriana, tem agora ao seu serviço uma maravilha da tecnologia moderna que recebeu o nome de código de Agente Melo. Com menoscabo para esta arrojada iniciativa, com o ambicioso timbre de «Operação Observação Permanente», há até quem veja o Agente Melo, literalmente, como um boneco. A tal circunstância não será alheia a realidade de que na retaguarda do Agente Melo estão agentes de carne e osso que, muito apropriadamente, se dirá estarem a trabalhar «pró boneco».

Na verdade, o boneco é um vulgar engodo, pois fazendo o «back-up» do polícia de papel estão verdadeiros agentes da PSP trabalhando neste «projecto-piloto» para ulterior «análise sociológica dos dados». Ora, numa análise sociológica preliminar damos todos por assente que seriam de maior préstimo se estivessem afectos a outras tarefas.

À margem da ironia o facto é que esta iniciativa não dignifica a Polícia de Segurança Pública. Quando temos um corpo policial que muito faz com os escassos meios que possui, em vez de se honrar o seu indispensável ofício, coloca-se ao serviço da corporação um boneco! Dirão as luminárias responsáveis por este projecto que o mesmo tem em vista monitorizar a conduta dos condutores, privilegiando assim a prevenção rodoviária primária, e como legitimação do mesmo lá irão invocar um documento de natureza comunitária, como por exemplo, a Carta Europeia da Segurança Rodoviária.

Seja como for, a iniciativa é infeliz, e esta espécie de «big brother» terceiro-mundista ridiculariza, desde logo, a política de policiamento de proximidade. A origem de projectos deste jaez deriva de uma desventurada mentalidade habituada a colocar no topo das prioridades a sociologia, e só depois a lei e a ordem, ou até mesmo o modelo do policiamento de proximidade já experimentado noutros «laboratórios sociais» com comprovado êxito. Porém, mesmo sem cuidar de discutir o mérito ou demérito do Agente Melo, o certo é que este não é o parceiro que os homens e mulheres da PSP precisam para dignificar o seu trabalho tantas e recorrentes vezes menosprezado pela comunidade. Nestas, como noutras matérias, o pioneirismo estrangeirado ou nacional não passa de papel, dando assim razão ao bom senso que recomenda o conservadorismo das medidas da «velha guarda».

JNAS na Edição de 29 de Novembro no Jornal dos Açores

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