Sob o signo de uma gigantesca onda o PS Açores realizou o Congresso que se esperava ser o da entronização de César mas, como simbolicamente sugeria a vasta massa de água que emoldurava o palco do Teatro Faialense, a ambição deste PS Açores transcende a figura de Carlos César e espraia-se num desejo de hegemonia Socialista em todos os quadrantes da vida Açoriana.
O certo é que, cumprindo o calendário estatutário, muitos congressistas rumaram à Horta num transe próprio de uma peregrinação, orando à recandidatura do líder, como se o Partido e os Açores fossem submergidos por um caos diluviano após a saída de Carlos César da Presidência do Governo Regional dos Açores. Terá por certo contribuído para tal «onda de fundo» a circunstância de o próprio Carlos César ter assegurado que este seria o seu último mandato como Presidente do Governo Regional dos Açores. Ora, como bem o disse Carlos Riley, na última edição da «Conversa a Quatro» na TSF, «o trajecto de um político não pode estar preso às suas palavras.». Assim, na crista da onda do Partido Socialista, Carlos César vai gerindo o tabu do «timing» da sua sucessão que, curiosamente, é também uma obsessão para os militantes Socialistas.
À margem desta personalização da política Regional o Congresso do Partido Socialista Açoriano, consciente da actual fragilidade ou inexistência de oposição, reforçou a sua dinâmica de infiltração na gestão quotidiana da vida Açoriana. O desejo de omnipresença do aparelho do Partido e do Governo ficou patente em duas emblemáticas linhas de força do novo modelo de «inter acção social» que foram levadas a Congresso, a saber: o reforço da proximidade com o poder local(!) e o estatuto do simpatizante(duplo !!).
Para lá dos rendilhados do costume, Vasco Cordeiro resumiu a dita política de proximidade com as autarquias à seguinte doutrina: «acima do poder local está o regional.». Daqui resulta, sem qualquer ambiguidade, a confissão de que o Partido Socialista e o Governo Regional dos Açores perspectivam o poder local como um poder que está abaixo do poder regional, quando na realidade deveria ser visto como um poder que está ao lado de outros com os quais concorre para a prossecução do interesse público. Esta visão redutora de um poder local, em submissa genuflexão ao Poder Regional, não só demonstra a falta de apreço pela autonomia do poder autárquico, como deixa ainda antever a continuidade da política discricionária na distribuição do quinhão do tesouro regional para o qual as Câmaras Municipais também contribuem.
Na sanha de tudo querer para o Partido Socialista este foi ainda mais longe na institucionalização do «Estatuto do Simpatizante», sintomático de uma política de Partido único, que a ser levado até às últimas consequências resulta numa divisão engendrada entre aqueles que estão com o PS, incluindo os seus «simpatizantes» devidamente identificados, e os outros que, por exclusão de partes, «antipatizam» com o PS-Açores. Com este «estatuto do simpatizante» cria-se uma nova «casta» de Socialistas que nada mais são do que militantes de segunda. Ou será que este novo cartão de «simpatizante» também dá pontos nas prebendas e sinecuras da primeira liga dos Socialistas Açorianos ?
Quanto ao resto, a onda de mudança passou ao largo preservando uma espécie de Atlântida reinventada pelo PS onde este reina para felicidade de todos...desde que todos sejam «simpatizantes». A pretexto do Congresso e por «simpatia» com o líder insular, veio até ao reino do milagre económico do superavit, o líder Nacional do PS que cruzou o Atlântico para vir à Horta desejar boa sorte à Governação Socialista, e levar de souvenir um coro de insatisfação pelo garrote que tem aplicado às Finanças Regionais. Ironicamente, é com um torniquete de igual calibre que o PS Açores se prepara por cá para «inter agir socialmente»...a começar pelas autarquias.
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JNAS na Edição de 22 de Novembro do Jornal dos Açores
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