quarta-feira, dezembro 1

...REQUIEM


Sem surpresa, depois do «boletim clínico» de segunda-feira, no qual o Presidente da República prognosticou a morte política da actual legislatura, era já certo que este Governo estava desenganado.

Efectivamente, não há qualquer equívoco nos termos e, antes de se enquadrar no Direito Constitucional, este episódio deveria ser um «case study» perspectivado numa análise forense própria da Medicina Legal. A propósito, Carlos Magno, no Jornal da Noite da RTP 2, resumiu a causalidade deste óbito à acção conjunta de Jorge Sampaio e Santana Lopes. Disse que o Presidente da República, há quatro meses atrás, quis dar corda a Pedro Santana Lopes para ele próprio se enforcar!!!

É certo que determinados actores da vida política nacional têm vindo a manifestar erupções esquizofrénicas mas, daí a pinchar para uma pulsão mórbida homicida ou suicida, cfr. a etiologia, vai um passo de gigante.

Seja como for, o enfoque da psiquiatria forense sempre ajudaria a uma análise, por vezes «behaviourista», de alguns comportamentos, designadamente, a recente fobia do Presidente da República às luzes da ribalta da comunicação social. Só assim se explica, de boa-fé, que tenha humilhado publicamente o Primeiro Ministro chamando-o ao Palácio Presidencial, para lhe impor na saída, o ónus de núncio enxovalhado a comunicar à Nação a sua própria execução. Este bizarro comportamento seguramente que não foi inocente! Foi deliberado, livre e consciente... mas, desnecessário, se tivermos presente que, para Jorge Sampaio, os passos perdidos de Pedro Santana Lopes no Palácio de Belém tinham o som de um condenado a caminho do cadafalso. A Nação fica à espera da justificação formal do Sr.º Presidente da República.

Até lá a festa será regada com Champanhe rosé e, lembrando o poeta, sendo certo que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, aqueles que ontem haviam massacrado Jorge Sampaio, com apupos de leviandade, hoje, serão os mesmos que dirão que a decisão teve muita dignidade... os outros dirão o contrário!

Porém , se por um lado, havia sinais de aluimento do Governo, para usar uma linguagem Alegre, não é menos certo, por outro lado, que esta decisão Presidencial atira o País para um impasse orçamental que não se vislumbra ter qualquer conexão com a estabilidade de que falava Jorge Sampaio... há quatro meses atrás! Quem deve estar agora a rir-se é Manuela Ferreira Leite...

Acontece que, numa linguagem popular, podemos hoje afirmar que Sampaio deu nozes a quem não teve dentes para as trincar. Ao invés, Pedro Santana Lopes desperdiçou um balão de oxigénio que permitia prolongar a esperança de vida da actual coligação. Mas, agora é também tempo dos algozes internos deixarem de estar embuçados na sombra dos órgãos de comunicação social, expondo-se à luz do confronto directo e dando alvíssaras de alternativas ao Partido Social Democrata.

Entretanto teremos um Governo em câmara ardente, ao som de uma qualquer partitura de Chopin para violino, vaticinando-se que o velório será pouco concorrido. Quanto ao resto, mãos à obra nas diversas fileiras, que a campanha será muito alegre. Já agora esta é uma oportunidade fúnebre para, definitivamente, dar eterno descanso à coligação com o Partido Popular, que já recebeu a extrema-unção do povo Açoriano.

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