Quando eu tinha dezasseis anos queria ser o melhor poeta da História e o melhor surfista do mundo. Quando eu tinha dezasseis anos todas as mulheres eram desejadas, todas mesmo - mais novas, mais velhas, giras, feias, gordas, magras, com aparelho, com borbulhas, tímidas, mamalhudas, burras... - se bem que umas em doses maiores do que outras. Se algumas eram conseguíveis, só duas foram conseguidas. A política aos dezasseis anos resumia-se a criar, implementar e cumprir um programa de engate. Todos os dias eram dias de campanha. Desde a roupa a vestir, ao autocolante a colar no dossier, à marca da mochila, ao estilo de franja, o sorriso vermelho, a esquiva do olhar, a maneira de dobrar um bilhete, a organização de uma roda de grupo, a resposta a uma pergunta, o caminho a pé depois das aulas, tudo era campanha. As eleições ganhavam-se por voto dos pares no dia seguinte no intervalo. É claro que ganhar uma eleição para presidente da junta de freguesia, que é como quem diz a Joana que até tinha um bom corpo mas era o crânio da turma e usava óculos e aparelho e tropeçava nas aulas de ginástica, não era o mesmo que ganhar uma eleição para o parlamento, que é como quem diz a Sara que era boa, gira, popular, que vai com todos, pelo menos é o que todos dizem, muito menos ganhar uma eleição presidencial, que é como quem diz a Marta que era a mais simpática, a mais gira, a mais interessante, a que estava sempre a sorrir e tinha boas notas e era amiga de todos e andava com um gajo mais velho... Ter dezasseis anos é andar sempre em campanha sem que importe minimamente qual a eleição. Sexta-feira à noite é um verdadeiro comício de encerramento. Sábado é o dia de reflexão. Domingo contam-se os votos. Segunda, honra aos vencidos, glória aos vencedores. Nos intervalos no pátio é vê-los a ambos - acabrunhados e triunfantes -, ou abandonados a um mínimo de fiéis amigos, ou rodeados de todos os aplausos. Ter dezasseis anos é, enfim, um treino para a vida.
Post de sexta-feira à noite no Central em Dezembro de 2004.
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