"amor, vamos dar um tempo", esta frase irrita-me sobre maneira. Esta espécie de cinismo lamechas de quem não consegue ou não quer dizer que não. Como se fosse possível acabar sem acabar. Portas e Santana, quais dois amantes desavindos, decidiram "dar um tempo" à sua coligação. Incapazes de avançar para o divórcio mas, ao mesmo tempo, impossibilitados de continuar a relação. Agora segue-se o desconforto de sair de casa, de separar os discos, fazer as malas, combinar horas ao telemóvel para que não se encontrem, enfim, os gestos magoados da separação. Santana o mais apaixonado dos dois ainda foi até ao limite na esperança de aguentar o caso, como uma mulher que chora no chão ao ver o marido partir para uma aventura com uma mulher mais nova. Portas na ilusão de um affair com a secretária, disse que não altivo e confiante e saiu pela porta fora em busca de romance. Mas à família, que somos nós cidadãos e eleitores, o casal diz que "vão dar um tempo". Alguém acredita? Acreditarão eles que é possível regressar? Talvez. Como tudo é justo no amor e na guerra, talvez esta água possa voltar a correr debaixo da mesma ponte, eu por mim, qual sogra desconfiada, duvido, duvido seriamente que este casal possa se unir novamente. Portas muito provavelmente vai ser abandonado pela secretária loura e boazuda quando esta descobrir que este não é um príncipe encantado pleno de aventura mas que não passa de mais um homem, com os mesmos defeitos que o mecânico lá do bairro. E Santana aprenderá a viver sozinho e a tomar chá com as amigas não tendo dos homens mais do que aprazíveis lembranças. "vamos dar um tempo" é a mentirinha branca com que se enganam os espíritos para evitar a dor das grandes mudanças. PP e PSD precisam de grandes mudanças.
No apartamento do lado, ao som entre paredes da discussão dos vizinhos, Sócrates, um solteirão inveterado continua a sua caminhada de eterno engatatão. Vive sozinho, todas as noites saí para colher gajas, de vez em quando dormem umas lá em casa, mas nada de compromissos. De momento está de olho numa morenaça, recém chegada à casa dos trinta, que é formada em sociologia mas trabalha numa produtora independente de conteúdos televisivos, conduz um VW Golf, separa os lixos, conhece o porteiro do Lux e vai todas as quintas-feiras ao King ver cinema europeu e gosta, e lê o Barnabé todos os dias, e apesar de o achar giro acha o solteirão Sócrates um pouco quadrado para o seu gosto. O PS, inseguro na sua autonomia ideológica e política, arrisca um namoro com o Bloco de Esquerda que é um lamentável equivoco. As próximas eleições legislativas, as eleições da ressaca, serão ganhas ao centro, mas é no cativar das margens que estará um dos segredos para a verdadeira vitória dos partidos do centrão - PS e PSD. Estes dois partidos terão que apelar aos eleitorados das margens convencendo-os que o voto importante é ou no centro esquerda, para o PS, ou no centro direita, para o PSD. Tanto para um como para outro é crucial ir buscar votos não só ao centro mas aos partidos nas suas margens esvaziando a importância e o conteúdo de PP e BE, só assim se chegará à maioria absoluta que é a única vitória que interessa neste momento.
Sem comentários:
Enviar um comentário