O meu prémio por ter acabado bem o 6º ano escolar foi um passeio (se bem que de passagem) por todas as ilhas dos Açores, no Ponta Delgada. Eu com 12 anos e a minha irmã com 13, lá fomos acompanhados pelo meu pai. Tínhamos um camarote, eu e a minha irmã, tomávamos as nossas refeições na mesa do comandante e a viagem correu lindamente. Especialmente a partir do Pico aonde o meu pai ficou "a fazer política", e a minha irmã, e eu, continuamos na nossa viagem de aventuras, "sozinhos". Apesar de parte dessa aventura ser o andar de barco, isso era algo que já estávamos habituados a fazer, pois antes do 25 de Abril, vários foram os anos em que viemos para o nosso verão nos Açores de barco. O Funchal ou o Angra do Heroísmo.
Para mim, a maior aventura vinha da descoberta de novas ilhas, particularmente as Flores e o Corvo. Quando nos aproximávamos de novas ilhas eu ia para a popa e imaginava-me o primeiro a por os olhos naquela ilha, ainda virgem, e quando nos afastávamos sentia sempre uma nostalgia, e já uma saudade, e a todas prometi, baixinho, num sussurro, voltar.
Não posso aqui publicar um diário dessa viagem, mas, por alto, não me posso esquecer de termos perdido, por minutos, o barco em S. Jorge, por causa de um passeio oferecido pelo Dr. Sobrinho, que incluiu a oferta de um queijo de S. Jorge, para mim na altura, enorme. Tivemos que alcançar o barco à boleia de um barquinho, de um "subornado" pescador, que dançou e rebolou até alcançar o Ponta Delgada, e eu sempre agarrado ao meu grande queijo de S. Jorge. Quase que o perdi quando tive de proceder a um verdadeiro salto circense entre o barquinho e o Ponta Delgada.
Não me esqueço de no Corvo ter tido a noção de ter viajado no tempo, isto culminado por um "maluquinho" que na praça central se gabava, aos poucos de nós que descemos no Corvo, de ter estado, na casa D. Maria Pia, com o Salazar. Para mim, isso, na altura, parecia-me um dado quase pré-histórico. Logo a seguir, nas Flores fomos visitar uma antiga colega da minha mãe que estava destacada na farmácia local, aproveitei e comprei uns comprimidos, pequeníssimos, para o enjoo. Tinha sofrido de um ligeiro enjoo na longa viagem e não queria arriscar que o mesmo, ou pior, acontecesse na viagem de volta ao grupo central. Depois de tomar o dito cujo, no caminho de volta ao Ponta Delgada, pus-me a ler as indicações. Lembro-me que li que, nalguns casos, este medicamento poderia causar sonolência. Num espaço de trinta segundo comecei a sentir-me cansado, pedi à minha irmã para nos sentarmos num jardim e já não me levantei. Foi levado em braços para o barco e dormi profundamente horas sem fim. Não me despedi da minha nova, e conquistada, ilha, mas na realidade não enjoei na viagem de volta ao grupo central. Até a hoje, nunca tornei a experimentar qualquer medicamento contra o enjoo.
No todo ficou na memória a simpatia dos açorianos de todas as ilhas, a beleza singular de cada sítio e acima de tudo a aprendizagem de um sentimento, que me lembro perfeitamente ter sentido pela primeira vez, de que erámos um arquipélago, e de ilhas "todas iguais e todas diferentes". Ficou também nas memórias da minha primeira viagem no Ponta Delgada, essa galera na qual descobri e conquistei os Açores, circa 1976.
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