segunda-feira, julho 4

O Discurso e a Prática

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Na diacronia do antigo regime o missal era sempre o mesmo: "tudo pelo Estado, nada contra o Estado.". Essa omnipresença do Estado, do Partido, e dos Situacionistas foi uma fórmula do Estado Novo. Contudo, paradoxalmente, a mesma foi depurada, refinada, e destilada pelo Socialismo.

Na liturgia oficial do actual cânone do Socialismo à regional, feito à imagem e semelhança do cónego-mor, a doutrina e a praxis da seita é a presença ostensiva, ubíqua, e transversal na sociedade Açoriana. A longa manus do poder Regional alcança tudo e todos, ou pelo menos tem essa ambição, e essa mão bem visível insiste em deixar uma perene nódoa rosa em tudo o que toca.

Os Açorianos já perceberam que a escola é sempre a mesma, o discurso é formatado e decalcado pelo "livro rosa" do "chefe", como se fosse o mesmo modelo de fato de risca oficial, pesaroso, feito a metro, com o mesmo padrão, como se faz um uniforme. O figurino é o mesmo, o discurso oficial idem, mesmo quando dito de improviso é "escrito" pelo evangelho do costume. Só mudam mesmo as insígnias pois os novos apóstolos vindos da "jota", ou os convertidos "cristãos-novos", apesar de terem patente mais baixa, cedo ficam mais "presidenciáveis" do que o próprio presidente!

Como tudo isto não é só retórica exemplifique-se: Recentemente, em mais uma inauguração de um espaço comercial em Ponta Delgada, em vez de um discurso, "fresco e pronto", feito à medida da ocasião, o Presidente do Governo Regional retomou o tique de que o Governo aí está para vitalizar a economia Regional. Pouco importa se o investimento é preponderantemente particular e o risco é dos privados pois, o que releva, é passar a imagem pública de que há economia porque há governo. Ora essa é uma falácia que inevitavelmente nos atira à falência. Só há governo com uma economia forte e sustentável.

Na fotografia inauguracional apesar de figurar a imagem do Presidente do Governo, os empresários sabem, e bem, que há ali, falsamente, uma subliminar sugestão de que é "por obra e graça" do poder que as pedras se transformam em edifícios prontos a inaugurar. Outra falácia. Mas a cartilha oficial do Socialismo à regional é essa, apesar de tantas vezes a prática não corresponder ao discurso oficial, por exemplo, do orçamento regional sai um volume incomensurável de mega-empreitadas que são adjudicadas a empresas que não são dos Açores num volume de milhões de €uros exportados da região.

Mas, o discurso oficial é no sentido unilateral de que o Governo aí está para caucionar a economia Açoriana. O Governo comporta-se como se fosse dono e senhor da economia regional, fantasiando que é o resguardo e solução para todos os problemas da mesma. Com outro realismo, e por sinal na mesma ocasião, a líder do PSD/Açores, apontava a necessidade de integrarmos a solução num "triângulo virtuoso". Berta Cabral sustentou a necessidade de interligarmos Governo, Privados, e Banca como forma de, nesse circuito, encontrarmos um rumo sustentável. O Governo sozinho não é parte da solução: é o problema. A solução para a crise passa por um Governo que integre, mas não monopolize, a economia. O diagnóstico diferencial está feito. A escolha far-se-á já no próximo ano de 2012.

Como está temos uma economia estagnada, e um Estado socialista voraz, que será incapaz de recuperar a economia porque esta faz-se também com privados. Estes sem capacidade de consumo não rentabilizam as empresas e estas deixam, consequentemente, de obterem financiamento. Está aqui uma reacção em cadeia que Governo nenhum é capaz de resolver sozinho. Muito menos um Governo Socialista cujo discurso insiste na ideia messiânica de que melhor Economia significa mais Estado. Um discurso e uma prática que a realidade dolorosamente contraria.

João Nuno Almeida e Sousa na edição de hoje do Açoriano Oriental

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