sexta-feira, novembro 30
prólogo
Nas suas escassas palavras de abertura, Manuel Arruda, lançou o mote para tudo o que aqui se vai passar nas próximas 48 horas, "fazer melhor do que aqueles que estão no poder", sendo que a sílaba tónica é a conjugação do verbo estar e onde todos os que aqui estão querem estar é no poder. Bem, todos não, eu preferia estar em casa a ver uns episódios seguidos do Heroes, deitar cedo e amanhã de manhã ir surfar, mas adiante. Este PSD é notoriamente um órfão de 12 anos seguidos de oposição e o que aqui se respira é sede de poder. Infelizmente para Costa Neves, como antes para Vitor Cruz, essa sede transforma-se em desconfiança, em apreensão dos militantes em relação ao líder. Continuando com as metáforas futebolísticas, esta angústia do militante é um pouco como a do guarda-redes antes do pénalti, a maior probabilidade é sofrer um golo mas algo o faz acreditar que pode defender e atira-se às cegas para um dos lados. Da mesma maneira, o partido atira-se para Costa Neves com a angústia de quem acha que vai sofrer um golo. A chegada de Costa Neves à sala é anti apoteótica, e o seu discurso começa com uma mini ovação em que de braço levantado no v costumeiro os congressistas gritam PSD durante menos de 30 segundos. Aliás, de acordo com o meu aplaudómetro, todo o discurso de Costa Neves foi recebido com manifesto desentusiasmo. Uma hora e apenas dezoito rondas de parcos aplausos, sendo que duas delas foram a pedido. Fica a sensação de que o líder não conquista o congresso. Isto apesar da tentativa de pacificação interna, feita nos primeiros vinte minutos de discurso, com um apelo enfático à união das hostes, o estender de mão a Natalino (que de forma insólita chegou atrasado e obrigou Costa Neves a repetir o pedido de aplauso ao candidato derrotado), as listas unitárias e o apresentar, mais ou menos espúrio, de medidas de organização interna, como um Núcleo de Autarcas Social Democratas e um Gabinete de Estudos, liderados, respectivamente, pelos "pesos pesados" Francisco Alvarez e Luis Bastos. Mas depois dos 20 minutos de discurso sobre o partido Costa Neves atira-se ao PS com esta frase bombástica: "com os socialistas não saímos da cepa torta". Eu por mim temo que esta frase tenha um vago pendor premonitório, quase uma profecia, e que o próprio Costa Neves tenha consciência de que enquanto o PS tiver Carlos Cesar o PSD não vai sair da cepa torta. Mas, é claro que o líder do PSD se estava a referir aos Açores em geral e aqui está também, julgo eu, o seu maior erro. 40 minutos de discurso zurzindo no estado da região, lançando todos os petardos a Carlos Cesar, transmitindo uma imagem fatalista e desiludida do que são os Açores e, por maioria de razão, do que são os açorianos é um enorme erro. É que, por mais que doa a Costa Neves e ao PSD-A, foram os açorianos que elegeram livremente Carlos Cesar para lhes dar o que têm hoje. Por mais que, por entre o seu discurso de catástrofe e de critica generalizada, Costa Neves tente afirmar que os açorianos estão fartos do PS e que corre por aí uma revolta surda o facto é que o âmago do seu discurso apenas reflecte a enorme ressaca em que o PSD ainda está mergulhado, ansiando, este sim, mais ou menos silenciosamente, por um tropeção no PS que possa dar a estes militantes a vaga esperança de, um dia, estar no poder. No final Costa Neves lá fez o que se lhe pedia, anunciou que este tinha sido o seu último discurso de oposição. Ainda bem, porque uma coisa é certa o PSD precisa urgentemente de mudar de discurso, sob pena de nunca mais sair da dita cepa torta. Depois lá se seguiu para as moções e o jantar, que isso sim é bom porque traz dinheiro para a economia dos restaurantes aqui ao lado do hotel. São dez e meia e os militantes lá vão regressando, um desgraçado toca em vão umas musiquinhas aqui mesmo ao meu lado numa guitarra que soa a 4 instrumentos diferentes, ninguém lhe liga nenhuma, lá ao fundo Pedro Gomes conversa animadamente com a jornalista Berta Tavares. Vou tomar uma cerveja ao bar e socializar com os sociais-democratas.
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