domingo, julho 11

Sampaio

Em minha casa, tal como no país ao longo destas duas semanas, houve tendências e opiniões que se dividiram. Embora a maioria dos meus fosse favorável a eleições antecipadas. O ponto de partida principal de todas as discussões não foi o da luta entre a esquerda e a direita, que também é um aspecto importante, mas o da escolha dos cidadãos. O que esteve em causa em toda esta trapalhada provocada pelo Sr. José Manuel Barroso e alimentada pelo Sr. Sampaio foi a negação de democracia em prol de valores tão voláteis e esotéricos como o da estabilidade. A única estabilidade que interessava ao Sr. Barroso e ao Sr. Lopes e ao Sr. Portas era e é a continuidade no poder. Algo que o Sr. Sampaio, por manifesta falta de coragem política, legitimou. No seu ridículo discurso de desculpas ao país o Sr. Sampaio passou um atestado de estupidez aos cidadãos de Portugal. O Sr. Sampaio esquece que numa democracia adulta o maior garante da estabilidade não é o Presidente da República mas o povo que em eleições toma a decisão de escolher os seus governantes. Numa democracia a sério as eleições nunca são contrárias à estabilidade. Mais do que isso, o Sr. Sampaio pretende ter mais influência do que pode ou deve ter, condicionando a liberdade do PSD e do Sr. Lopes de apresentarem o governo que acharem melhor. Não compete ao Presidente da Republica definir politicas económicas, de defesa ou de diplomacia. Fazer finca-pé na continuidade das politicas é não só ilegítimo como idiota porque é algo que o Sr. Sampaio sabe que nunca será capaz de controlar. O mesmo desaforo que o Sr. José Manuel Barroso cometeu ao condicionar o Presidente da República na sua decisão exigindo a não convocação de eleições comete agora o Sr. Sampaio ao condicionar o Primeiro-ministro. Toda esta frustrante crise, que em jeito de telenovela foi esticada para duas semanas quando podia ter durado dois dias, apenas deixou mais evidente a miserável plêiade de personagens que da direita à esquerda, da oposição ao poder, comanda os destinos deste país. Por último deixem que diga uma coisa. Quando no calor da emoção ridicularizo o Sr. Sampaio estou a referir-me ao homem e ao político não à instituição de Presidente da República, mesmo que o Sr. Sampaio tenha manifestamente desconsiderado essa mesma instituição.

Merecíamos Políticos Melhores.

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