sexta-feira, julho 9

O QUINTO IMPÉRIO



Fernando Pessoa viveu na esperança do Quinto Império...Seguindo a nossa matriz cultural da Grécia provinha o Primeiro Império. O Segundo é o de Roma que sucumbiu ao Terceiro Império da Cristandade. Este evoluiu materialmente para o Império da Europa...o Quinto Império « nós o atribuímos a Portugal, para quem o esperamos ». Esta nova «era de confraternização Universal» seria, necessariamente, um Império do Espírito. Dele disse o poeta e filósofo Português que « Todo o Império que não é baseado no Império Espiritual é uma Morte de pé, um Cadáver mandando. Só pode realizar utilmente o Império Espiritual a nação que for pequena (...) ». Logo, o Quinto Império seria Português.

Contudo, este esoterismo não está desgarrado duma dimensão popular que exulta a Idade do Espírito Santo, nomeadamente, em folclóricas manifestações de fé em honra do Divino. Fluindo da raiz filosófica de Fernando Pessoa para a dimensão festiva da terceira pessoa da Santíssima Trindade perguntar-se-á afinal porque razão atavicamente se honra a «Pombinha» do Espírito Santo ? A resposta, aparentemente intrincada, afinal é simbolicamente de uma singela simplicidade ! O trinitarismo da Santíssima Trindade não é apenas a amalgama de três divindades é, também, a representação de três Idades. A Primeira do Pai cuja genealogia abre-se com Moisés em pleno domínio Judaico. A Segunda decorreu sob o signo de Roma e é a Idade do Filho. A Terceira Idade, porventura anunciada por uma língua de fogo precedida de uma pomba branca, seria a Idade do Espírito Santo...a era da confraternização universal e a instauração do reino dos céus na terra de acordo com o espírito do evangelho.

Assim visto o culto do Divino Espírito Santo, não adulterado por meros rituais báquicos, é fácil de perceber porque razão esta festa é essencialmente popular. Sem que seja ostensivo ela transporta uma contestação aos poderes instituídos, às relações de domínio e de propriedade, à estratificação social e...finalmente mas, seguramente, não menos relevante afronta a Igreja de Roma.

A génese deste culto é Medieval havendo registo de irmandades já na Baixa Idade Média. Todavia, presumo que a exultação da «era da confraternização universal» não agradou a Igreja de Roma que, durante séculos, depreciou o culto do Divino. Curiosamente, este mesmo culto nestas Ilhas encontrou condições ideais de preservação mas, ainda assim, só muito recente e timidamente a hierarquia da Igreja tem vindo a aproximar-se dos rituais dos Impérios do Divino Espírito Santo...À margem não deixa de ser curioso que os «Impérios», «Altares» ou «Teatros» estão bem demarcados geograficamente dos «Templos de Roma» não ficando sequer nas suas cercanias.

Mas, o que importa é que todo o envolvimento comunitário simboliza a esperança no advento de uma Era de Igualdade, Partilha e Solidariedade que, por isso mesmo, mereceu durante séculos o menoscabo de uma Igreja de linhagem e organização aristocrática que, mais não era do que o reflexo de uma sociedade estratificada onde seria impensável, por exemplo, comermos todos à mesma mesa partilhando a mesma refeição. Esse ideal é celebrizado no momento das sopas do Espírito Santo e é essa Grande Festa Comunitária que começando por unir os homens à divindade une igualmente os homens entre si !

A Câmara Municipal de Ponta Delgada não quis ficar indiferente à maior manifestação da religiosidade popular açoriana. Assim de 9 a 11 de Julho temos as Grandes Festas do Divino Espírito Santo em Ponta Delgada. Nesta Grande Festa Comunitária muitos deram o melhor de si em honra do Divino e estou certo de que esse Espírito abençoará uma festa para a qual estamos todos convidados...cá por mim se não falho no Império da minha Freguesia da Fajã de Baixo não deixarei de estar presente na Coroação e nas Sopas na nossa cidade...A Bem do Divino Espírito Santo.

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