Desafiado pelos sons familiares, recuperei instantes idos. Instantes de um tempo com menos preocupações, onde o mundo era nosso, cabendo no sonho apenas.
“Os Golpes” podem ser um simples “remake”, ou resultado de um “Rock” de raiz portuguesa.
Divertido, lancei a provocação ao vocalista dos “Passos Pesados”*.
“Será que o “Rock” produzido em Portugal tem raízes do nosso folclore, ou apenas são duas correntes musicais distintas?
Ao ouvir o tema ”Arraial” da banda “Os Golpes”, podemos ser induzidos a pensar que haverá uma ligação entre esses dois estilos musicais, e porquê? Pois essa canção consegue transmitir-nos a sensação de estarmos perante uma festa popular, com todos a dançar ao som da música que nos faz bater o pezinho, onde se nota a presença de um ritmo alegre e ritmado. Dado este cenário e sem que o leitor tenha ouvido a dita música, tudo nos leva a crer que estamos perante um “baile de paróquia”, mas ao ligar o volume deparamo-nos com uma das mais promissoras bandas do chamado “Rock Português”, onde o som cru das guitarras se destaca, aliado a uma dinâmica de um som urbano, que caracteriza essa corrente musical. Destaque-se também as palavras utilizadas nesse tema, não sei se em “tom irónico” ou se apenas intencional.
Facto é que estamos perante um tema que apesar de estar identificado como “rock”, nos leva a raízes populares.
Sem arriscar na defesa de que o chamado “Rock Português” tenha raízes no nosso folclore, certo é que o cunho pessoal dos nossos artistas acabe por transportar algo das nossas tradições para um estilo, que surgiu com Elvis Presley e posteriormente com grandes bandas dos EUA e da Inglaterra, que acabaram por globalizar o estilo que, por consequência, acabou por criar simpatizantes e seguidores também em Portugal.
Nos finais dos anos 70 surgem os chamados pioneiros do “Rock Português”, com destaque para Rui Veloso e os UHF, com temas que ainda nos fazem bater o pé, como por exemplo “Chico Fininho” e “Cavalos de Corrida”. Pouco depois aparecem também os “Xutos & Pontapés”, que acabam por cimentar definitivamente a corrente do “Rock Português”. Embora a legião de fãs desse estilo seja bastante significativa em Portugal, o facto é que cada vez mais se caminha para o mediatismo musical, onde diariamente aparecem projectos quase por encomenda, e onde a identidade das músicas por vezes não passam de uma amálgama de estilos musicais, que nem jeito de fusão têm… Mas tudo vale nesta arena.
No início dos anos 90, e na mesma corrente musical, surgem os “Passos Pesados” em Ponta Delgada, aliados também ao gosto musical, das guitarradas puras e intencionais.
Pena minha, é a realidade musical nos Açores ser ainda mais conturbada e de não haver mais bandas do estilo a animar os nossos, “bailes de paróquia”, pois também diga-se em tom de verdade que não é um estilo que todos possam “atingir”.
Aqui sim, e como dizem “Os Golpes”, o folclore está disfarçado de “Rock n’ Roll”. Infelizmente isto é o “prato do dia” no qual a grande parte dos concertos que pelos nossos Açores acontecem são um “arraial”, onde as mulheres se encontram sentadas no muro de jardim, os homens na tradicional “barraca das bebidas” e os putos às corridas, excepto quando aparece um “Grupo Musical” que tenha duas ou três moças, a dançar com uma saia mais curta. Aí sim, talvez o concerto tenha audiência, esta é, a meu ver, a nossa realidade.
Quanto aos nossos jovens, nem comento… No meu tempo de adolescente diziam que éramos a geração rasca. A esta o que se deve chamar?
fica a pergunta no ar…
De uma coisa estou certo: o “Rock” em Portugal não irá acabar. Prova disso são “Os Golpes”, com o seu tema “Arraial”. E muitos mais aparecerão na eternidade dos tempos, a perpetuar um estilo musical que ainda voltará à ribalta.” Toni Pimentel
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