... de valores, sobretudo.
Apeteceu-me hoje retratar o estado de risco de implosão em que a Região Autónoma dos Açores se encontra.
Depois de quatro páginas escritas sobre esta temática horripilante, eis que me confrontava com uma falta de clareza atroz, que culminava numa escrita mal estruturada e cheia de “gaps” intoleráveis (um pouco como a vida que se vai vivendo aqui por estes Açores, enfim).
Desisti, portanto, e como já devem ter calculado, de escalpelizar toda a situação, por se tornar maçuda e improvavelmente interessante.
Resolvi, em vez disso, contar um pequeno acontecimento banal que aconteceu em mais um destes dias de banalidades, quando alguém se dirigia a um amigo de longa data - daqueles que conhecemos desde sempre – e dizia, como quem não quer a coisa: “Foi uma pena teres dado nota da tua orientação política há algum tempo atrás, senão, onde não estarias tu neste momento.”
O meu amigo apressou-se a desvalorizar o dilema, dizendo que as pessoas têm ou não têm valor, acrescentando que, quem tem, tem por obrigação colocá-lo ao serviço do bem comum (coisa que este meu amigo faria com muito bom gosto).
O problema, procurando apurar o que aqui está verdadeiramente em causa, é, por mais valor que as pessoas possam ter, servindo por conseguinte para a defesa do bem comum, ou da rés pública se preferirem, só será utilizado caso permitam aqueles que chamam a si essa responsabilidade, supostamente legitimada por sufrágio, devendo, em minha opinião, ser levada ao extremo na sua prossecução, acima de qualquer reserva que não a luta pela preservação dos recursos naturais e pelos direitos dos homens seus concidadãos, com equidade e respeito pela diversidade.
E o que vemos nós a esse respeito?
Como o mérito de cada cidadão é muito mais difícil de identificar do que distinguir as cores que, de repente, qualquer cidadão possa eventualmente ostentar, vai-se premiando o pictórico em detrimento do intelecto.
Neste carrossel, até os melhor intencionados vão ficando contaminados com a vertigem da viagem, que lhes faz dizerem coisas incapazes de resultar do raciocínio que haviam sido capazes de estruturar até então, ou seja, até começarem a rodopiar vertiginosamente nessa viagem.
No entanto, o problema deste meu amigo não se resume a esta pobre dialéctica com o poder instituído. Por seu turno, os entrincheirados do outro lado, que podiam aproveitar a massa cinzenta disponível para contrapor com propriedade e argumentar com criatividade, já têm os “boys” de outrora que agora vislumbram um reentrada de Leão, apostados apenas no suposto desgaste politico dos seus adversários (quiçá corrompidos pelo poder, em função do seu exercício por tanto tempo), em vez de assentarem a sua caminhada numa reflexão cuidada e consequente sobre o verdadeiro estado das coisas e a sua influência no quotidiano dos açorianos, o que faz com que ninguém se sinta convencido com esta dita alternativa credível que pretendem ser.
A discussão que se estabelece por estes dias, nos vários ciclos e hemiciclos, tem muito mais a haver com o pequenino da questão (o orador que utiliza toda a sua capacidade retórica quando lhe cabe a vez de utilizar a palavra e acaba quase invariavelmente no insulto fácil a quem não partilha da sua douta opinião) do que com a ordem de grandeza relativamente à influência que os temas discutidos têm na vida desta sociedade insular.
Dirão alguns que tal comportamento não é de estranhar, quando a malta está maioritariamente preocupada com a manutenção do seu status quo.
Outros dirão que o meu amigo é um asno por se preocupar com estas coisas, pois, é o sistema político que temos montado e, se não está satisfeito com os actuais representantes, crie um novo partido (coisa que o meu amigo rapidamente faria e a apelidaria de Força Cívica Viva) e vá à luta (talvez a ajuda dos “Homens da Luta” não fosse de deixar de lado).
Eu, se calhar mais comedido, desaconselharia tal medida, pois acredito que o que está a provocar este suicídio colectivo é a falta de inteligência e de perspicácia para se identificar os meliantes e os seus malabarismos, bem como, a falta de honestidade e coragem para colocar um fim a este modelo que, aparentemente, começa por criar os profissionais da política que, dali a nada, se transformam (à imagem da metamorfose kafkiana) em parasitas de um modelo social cada vez mais débil e menos esclarecido.
Há quem diga que há um polvo que tudo procura controlar. Eu diria antes que, nós todos e novamente, estamos a deixarmo-nos encobrir por uma massa de xailes negros que nos suga a massa crítica, que nos suga a alma e nos impede de rejeitar este regime de treta.
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