quarta-feira, maio 13

Redondel

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Sem brilho ou glória os Açores arriscam-se a ter a sorte de ficarem geminados com Barrancos. Este lugarejo na raia da fronteira com Espanha é, por tradição, sancionada por lei, uma excepção aos Touros de Morte em Portugal. Nós por cá, na ilha Terceira, queremos ser mais Espanhóis do que os Barranquenhos importando agora a tradição dos Toiros Picados. Segue-se a imolação dos Toiros como divertimento público ? Nesta, como noutras matérias, não há qualquer demérito em ser-se conservador e reaccionário. Manter uma tradição, que está na matriz cultural do nosso povo, é conservar a nossa identidade. Entre nós, na Terceira, a "festa brava" tem por peculiar tradição a "Tourada à Corda" que tem efectiva singularidade patrimonial nos costumes da ilha. Preservar esta tradição local é indiscutivelmente pacífico, mesmo para os que não são aficionados das touradas. Importar uma tradição das praças de Espanha, para as lides taurinas da Terceira, é já uma inovação nefasta que merece a mais veemente reacção. Qualquer "tradição" deve evoluir sob pena de regredirmos colectivamente como povo. Vejamos : é exemplo desse sinal dos tempos da evolução a "higienização" das tradicionais matanças por conta dos Impérios do Divino Espírito Santo que deixaram de ser o público festim de sangue que eram, decorrendo agora em matadouro com controlo sanitário, sem que a tradição da festa da partilha comunitária tenha esmorecido. No caso da "sorte de varas" não há tradição, nem evolução da nossa "festa brava", mas apenas retrocesso civilizacional. Esse atavismo pelo prazer do sangue, e por um modelo social decalcado de uma arena, é uma mácula que se quer espetada na nossa Autonomia, paradoxalmente com epicentro e lobby na cidade Património Mundial de toda a Humanidade ! Mas, que humanidade é esta que se compraz na dor e tortura dos animais? Que sociedade é esta que se quer moderna mas venera um modelo social típico do antigo regime? Com efeito, a Tourada, também representa na arena uma reminiscência de uma sociedade feudal de cavaleiros e peões! São ritos ordenados por castas sendo a dos cavaleiros de origem e estirpe nobre, enquanto os "toureiros" descendem daqueles plebeus que, originariamente, corriam vilas e aldeias de Espanha como saltimbancos de um espectáculo circense que só começou a ganhar a forma de "corrida de toiros" nos finais do Século XVIII! Como se vê é uma tradição que não é nossa mas que uma certa "nobreza" da "terra dos bravos" teima em importar de Espanha ! Triste é que tenham feito da Assembleia Regional dos Açores um redondel para a sua lide. Se isto é interesse específico da região não tarda e teremos plenário para regulamentar a genuidade do nabo de Santa Maria ou o defeso das ervas do calhau no Corvo para preservação das respectivas tortas.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com

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