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"Numa palavra: a Europa vive fora do imaginário Português. A ironia da história – verdadeiramente digna de figurar numa história da ironia – consiste, pois, nesta opção europeia de Portugal. Não só não há sinais da constituição de um império – o quinto, o português -, como parece sancionar-se a "integração-dissolução" de Portugal num outro espaço imperial. Um espaço em que pretensamente hipoteca a sua "soberania" e perde poder de mando, em que se mistura, dissolve e anula em vez de triunfar. Mas curiosamente não desaparece a identidade, nem a aguda consciência dela. Bem ao contrário, o confronto apertado de identidades alternativas e concorrentes reforça o sentimento nacional e os traços de homogeneidade cultural. A saga europeia desafia, pois, o "pensamento português" e reclama, porventura, a teorização de um sexto império – repete-se: de um sexto império. Um império em que os portugueses, sem prescindirem da identidade cultural e de autonomia política, partilham com os restantes cidadão europeus um projecto político humanista. Ao cabo e ao resto, algo que estará decerto mais próximo da filosofia cristã do que está o lado glorioso, onírico e triunfal do Quinto Império original."
Paulo Rangel - in "O Estado do Estado" para as Edições Dom Quixote
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"Numa palavra: a Europa vive fora do imaginário Português. A ironia da história – verdadeiramente digna de figurar numa história da ironia – consiste, pois, nesta opção europeia de Portugal. Não só não há sinais da constituição de um império – o quinto, o português -, como parece sancionar-se a "integração-dissolução" de Portugal num outro espaço imperial. Um espaço em que pretensamente hipoteca a sua "soberania" e perde poder de mando, em que se mistura, dissolve e anula em vez de triunfar. Mas curiosamente não desaparece a identidade, nem a aguda consciência dela. Bem ao contrário, o confronto apertado de identidades alternativas e concorrentes reforça o sentimento nacional e os traços de homogeneidade cultural. A saga europeia desafia, pois, o "pensamento português" e reclama, porventura, a teorização de um sexto império – repete-se: de um sexto império. Um império em que os portugueses, sem prescindirem da identidade cultural e de autonomia política, partilham com os restantes cidadão europeus um projecto político humanista. Ao cabo e ao resto, algo que estará decerto mais próximo da filosofia cristã do que está o lado glorioso, onírico e triunfal do Quinto Império original."
Paulo Rangel - in "O Estado do Estado" para as Edições Dom Quixote
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