quarta-feira, fevereiro 4

Miudezas

A reportagem que foi capa do Açoriano Oriental do passado sábado abordava um assunto que não é uma novidade para ninguém: a falta de apoios privados no sector cultural. Este é um problema antigo, que se apresenta agora com sintomas agudizados pela conjuntura económica actual e cujo diagnóstico é por todos conhecido. Não discuto os critérios que estão na génese da construção do artigo em destaque, mas existem algumas questões com as quais não concordo, nomeadamente, com a assumpção do todo cultural pela análise de um dos seus apêndices. Como ponto de partida, foi referenciado o relatório do Instituto Nacional de Estatística relativo ao consumo cultural e ao lazer em 2007, o qual coloca os Açores numa posição confortável: um quarto lugar em sete possíveis, revelando que os açorianos gastaram em média cerca de € 875 em fruição cultural diversa. No artigo em questão, confunde-se a promoção de espectáculos ao vivo e similares (em especial ao ar livre) com os verificados em salas de espectáculos e não existe qualquer menção àquilo que podemos designar por ‘alta cultura’ (concertos eruditos, museus e galerias de arte, por exemplo), consubstanciando-se somente a opinião em práticas comerciais e recreativas que, per si, não constituem a imagem de um todo. Nada tenho contra uma visão mercantilista da coisa cultural, mas outra coisa será basear nesse paradigma toda a acção do meio. Uma e outra são em regra antagónicas e apontam para objectivos diferenciados. E, ao contrário do que foi dito, as pessoas habituaram-se a pagar pelos espectáculos a que assistem. Ao mesmo tempo não compreendo o teor da notícia, em que se defende que, por um lado, a crise pode colocar em risco a oferta cultural mas em que, por outro lado, os empresários entrevistados dizem ser possível realizar espectáculos sem apoios oficiais (!). Há, no mínimo, um contra-senso e são dados contributos pouco esclarecidos relativamente a um sector importante na dinamização sócio-cultural das ilhas.

* edição de 03/02/09 do AO
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*** Imagem X TM/Fernando Resendes

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