quarta-feira, setembro 3
Knight Rider
Para a maioria dos rapazes da minha geração a palavra Kit apenas faria lembrar o futurista e ultra-tunificado Pontiac Firebird Trans-Am do Michael Knight, o carro do Knight Rider, o pirosíssimo David Hasselhof que depois foi fazer de nadador-salvador para as praias de Baywatch. Mas, mais recentemente, Kit passou a ser a palavra in do léxico político regional. Pelo que dizem as notícias o Governo Regional andou, em plena silly season, a distribuir pelos Açores um Kit Autonómico. Uma caixinha de prendas, com uma bandeirinha, uma gravação do hino da região e mais uns quantos brindes, para gáudio das criancinhas. Se fosse só isto a coisa passava e rapidamente caía no lixo. Mas o Governo cedeu à tentação de juntar ao dito Kit uma carta de Sua Excelência o Presidente do Governo e aqui é que a iniciativa passa de fútil e ridícula a imoral e perversa. O truquezinho faz-se de cimentar, com pretexto da educação das massas, a imagem de líder do Presidente do Governo. É claro que todos nós sabemos que o actual Presidente do Governo é também já, formalmente, o candidato do PS à sua própria sucessão. E o timming desta campanha é tão mais perverso quanto o PS, que sustenta o Governo, também sabe disto. Mas a estratégia que está por detrás destas acções é clara. O líder do PS, que passou anos na oposição, percebeu que só se ganham maiorias na Região tendo como partido os Açores e os açorianos. O candidato a Presidente rodeia-se de figuras que abarcam todo o espectro político regional, desde a extrema-esquerda à extrema-direita, para assim fazer passar a ideia de que ele, e só ele, está com "todos" os açorianos. E para reforçar esta ideia usa e abusa dos símbolos da região e pior, do discurso autonómico. Este Kit não pode ser encarado sem uma ligação directa com a campanha eleitoral do PS - outdoors, slogans e mais o resto que por aí virá - "Que bom que é ser açoriano"… Como se ser açoriano fosse exactamente aquilo que o Presidente do Governo/Candidato do PS a Presidente do Governo achasse que é ser açoriano. Assim sem mais nada. E como se isso fosse algo de intrinsecamente bom. Os Açores não são um potentado deste Governo. É imoral associar a uma campanha de instrução sobre os símbolos e importância da autonomia e dos seus ideários a imagem de qualquer que seja o Presidente do Governo na altura. As várias pessoas que compõem a direcção do Partido Socialista Açores sabem isto tão bem como eu, o mesmo se passa com as várias pessoas que compõem o elenco do Governo Regional. Talvez, temo eu, não saibam que a autonomia regional não é pertença de um Presidente do Governo Regional, os símbolos da autonomia não se deixam apoderar por quem quer que seja que esteja no poder e o bom de ser açoriano não é, nem nunca será, um ideário político. O Governo Regional e o Partido Socialista Açoriano, que o sustenta, o meu partido, marcham para mais umas eleições no dorso de um cavalo hiper-autonomista, quase no limiar da independência. Convicto de que aí reside a sua plataforma eleitoral. Daí nascerá uma nova maioria. Inequívoca. Mas daí nascerá também a condenação futura à oposição. Ter como única plataforma ideológica e politica um conceito tão etéreo como a independência, ou mesmo a autonomia, não é mais do que a condenação do Partido ao limbo ideológico. Assim que o PSD encontrar um líder com vontade para ser tão demagógico como um líder de todos os açorianos o PS perderá as eleições. Resta saber se é esse o Partido que o actual Presidente do Governo Regional, que também é o candidato do Partido Socialista a Presidente do Governo Regional, resta saber se é esta a Região, se é este o Partido, que ele quer deixar para o seu próprio filho!?!?
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