quinta-feira, setembro 25

A estação das conveniências

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Um dos mais recentes neo-Socialistas sentenciou, numa coluna de jornal, que "não se ganham eleições com crónicas, comentários anónimos, nem desejos de vingança recalcados". Paradoxalmente, não parece ser esse o cânone a seguir por um Partido cujo líder, no mesmo órgão de comunicação social, confessara: "ouço e leio tudo o que dizem e escrevem"! Esta será seguramente uma tarefa ciclópica para o Grande Líder que não dispensará os assessores de ocasião coadjuvados pela legião crescente "cristãos novos" do Partido Socialista. Não se ganham, com efeito, eleições com crónicas, até porque a hegemonia Socialista nos Açores é cada vez mais transversal. Estrategicamente, o PS/Açores, sob a máscara da renovação, tem recrutado para a sua causa personalidades cujas ideologias estão nos respectivos antípodas. Desde simpatizantes da extrema-esquerda bloquista até aos sectores mais conservadores e tradicionais da "direita sociológica" tudo e todos têm lugar nesta grandiosa arca do PS/Açores. A lógica subliminar é simples: unir o Governo e o Partido numa única entidade que se confunde e incorpora com a sociedade civil. Um "partido" com estas dimensões é quase uma corporação omnipresente e omnipotente. Consequentemente, no respectivo xadrez político, até os peões do costume tomam o respectivo lugar no tabuleiro procurando aniquilar toda e qualquer voz dissonante. Para tal vale tudo, incluindo o contorcionismo de jogadas políticas que evidenciam a dualidade de critérios consoante a onda do momento. Sinal inequívoco dessa estratégia, que tem o bónus de distrair o público do debate político, é o recente folhetim da "suspensão de mandatos" dos autarcas do PSD que integram a lista de candidatos por São Miguel. Agora que o PS se diz "renovado" esquece, por conveniência da estação, que também teve nas suas listas candidatos autarcas que nunca suspenderam os respectivos mandatos! Recorde-se, por exemplo, que nas eleições para a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, ocorridas em 2004, os Presidentes de Câmara que foram candidatos a Deputados suspenderam apenas funções e não os respectivos mandatos. Entre eles contavam-se autarcas do Partido Socialista incluindo o destacado Dr. Sérgio Ávila que, à data, era Presidente de Câmara Municipal de Angra do Heroísmo e alto responsável da Comissão Permanente do PS/Açores. Hoje, a mesma Comissão Permanente do PS/Açores faz tábua rasa da leitura que no passado fez da lei, exigindo mais para os outros do que alguma vez exigiu para os seus correligionários. Mais do que a bipolarização da vida política o PS/Açores ambiciona uma vasta maioria absoluta com a inclusão de uma dualidade de critérios ao sabor da oportunidade e da conveniência cor-de-rosa. Para quem está fora de bordo desta arca Socialista sempre restam as crónicas que, podem não ganhar eleições, mas não implicam a alienação da dignidade, a suspensão da liberdade de consciência, e a perda de massa crítica essencial a qualquer democracia. Aqui não há "saldos" nem dois pesos e duas medidas consoante a tendência da estação das conveniências.
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiario.com


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