terça-feira, março 4

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Inconstância(s) *

Numa época de constantes mudanças impostas ao status quo, alterações climáticas e de eventuais retornos saudosistas a modelos e valores “nacionalistas” perigosos, o tempo exige-nos espaço para a reflexão - o que em si nem sempre abona a nosso favor. A culpa do mal que aflige a nação não irá morrer solteira. Mas, a existir culpa, esta será sempre do vizinho. Será a reflexividade do tuga “autista”?!

Arregimentados ou não pelo discurso político circunstancial, os diseurs de opinião da nação acenam com o fantasma da nação deprimida, um reflexo de si próprios (!), e com comparações inevitáveis a modelos estrangeirados. Senão, leia-se este pequeno excerto da crónica de Vasco Pulido Valente da passada 6ª feira: «Alexandre Herculano, o maior "intelectual" do liberalismo, que passara pelo exílio e combatera no cerco do Porto, deixou, já em agonia, um último juízo sobre a Pátria: "Isto dá vontade de morrer." D. Carlos, que foi de facto o último rei e o último reformador da Monarquia, achava Portugal uma "piolheira" e os portugueses, fatalmente, uma "choldra"». VPV redime-se, mas será ele próprio o protótipo do optimista?!

Numa vivência quotidiana regida pela imprevisibilidade do emprego, das relações sociais e de localização, o carácter egocêntrico e individualista assume uma preponderância inconsequente e da qual nem os políticos se furtam à participação. E num novo modelo “desportivo” nacional passou a ser corrente a elevação do contraditório a “debate”, por forma a suscitar “polémica” e a elevar as vozes da “opinião pública” à indignação. Os papeis principais estão reservados à classe política de serviço, que, a corroborar todo o circo mediático que os circunda, a alimenta, todos os dias, e na qual se contradiz profusamente e desdobra em múltiplos papeis antagónicos, em ameaças inócuas de idas a tribunal, com pedidos de desculpas, da atribuição a 3ºs dos problemas da paróquia e com um sem fim de despropósitos.

É tempo de sairmos deste "autismo" a que nos querem reduzir e avançar com propostas concretas. Parafraseando Augusto Mateus, na conferência de encerramento do(s) Encontro(s) de Cultura(s) – Alcutur, no passado dia 23 de Fevereiro, em Guimarães: «Passamos muito tempo à procura das culpas do passado e não nos protagonistas do futuro». A síntese perfeita para compreender parte parte desta inconstância portuguesa.


* edição de 04/03/08 do AO
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*** Fotografia X Lomo

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