quarta-feira, março 12

Dividir para reinar

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(*) foto gentilmente cedida pelo Abrupto
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Os Professores saíram das escolas e desceram ao Terreiro do Paço. Diz-se que foram mais de 100.000. O Governo diz que são comunistas manipulados como "carneiros" ao serviço dos sindicatos afectos ao "PêCê". Ora, assim se vê o estado autista a que chegou este Governo da República. Paradoxal é também este Partido Socialista feito à imagem e semelhança do Sr. Pinto de Sousa e das conveniências dos holofotes. Para este PS, por vezes, os comunistas e demais camaradas servem para exortar o regime das conquistas de Abril, pelo que, descem irmanados e solidários a Avenida da Liberdade em dia de São Cravo; mas, outras vezes, quando se trata de exercer essa Liberdade na rua e em oposição ao Governo os amistosos camaradas transfiguram-se em tenebrosos comunistas! Para este PS, fora do unanimismo, todos são perigosos inimigos do Governo e das suas "reformas". Entre esta sanha reformista, e por vezes persecutória, está o Estatuto da Carreira Docente, percursor, como se sabe, do actual desagrado dos Professores. Mas o facto é que estes só agora acordaram para a tenebrosa realidade: a crónica da anunciada morte da função pública. Quem tiver dúvidas que veja o que por aí vem com o novo regime de vinculação, de carreiras e de remunerações dos trabalhadores que exercem funções públicas. Dúvidas não há que este Governo do PS tem por missão aniquilar a função pública tal como a conhecemos. Nesta campanha tem contado com a prestimosa cumplicidade do Presidente da República que, na placidez da sua reforma de estadão em Belém, meteu na gaveta a "magistratura de influência". Neste negro quadro só espanta que a letargia dominante seja pontualmente agitada. Desta feita a erupção deu-se no sector da Educação. Durante anos a Educação foi sendo minada por um empobrecimento do estatuto social dos docentes, descredibilizada pela implementação do "eduquês" elevado à categoria de novilíngua que ninguém entende, desprezada pelos novos mandarins da pseudo-pedagogia dos "saberes" e do "relativismo multicultural", desautorizada pelo fenómeno crescente e imparável da violência no meio escolar. Tem sido este o triste fado da Educação em Portugal ao qual agora se acrescenta um novo regime do Estatuto da Carreira Docente que seguramente contribuirá substancialmente para a divisão interna da classe e para a "luta de classes" entre o vasto exército de Professores avaliados. Mas assim o quer o Governo da República: dividir para reinar. Resta saber se na Educação já se atingiu o ponto de não retorno.

João Nuno Almeida e Sousa nas crónicas digitais do jornaldiário.com

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