quarta-feira, março 26

“Dá-me o telemóvel, JÁ"

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O Mundo mudou rapidamente num escasso período de tempo. Com a aceleração da tecnologia também mudou para pior. Cenas como o episódio "Dá-me o Telemóvel, Já", retiradas de um reality show que é a Educação, que a semana passada teve o seu palco numa escola com pronúncia do Norte, eram impensáveis há vinte anos atrás. Naquele tempo não existiam telemóveis na sala de aula e o youtube era uma utopia de ficção científica. Mas, há vinte anos, ao contrário da cáfila que hoje, de modo geral, vegeta pelo ensino básico sem "chumbar", um aluno que se atrevesse à tentativa de agressão a um Professor seria por certo sovado pelos seus congéneres. Hoje, o último reduto de um Professor numa sala de aula já não são os alunos mas, eventualmente, se as tiver, as suas tácticas de guerrilha defensiva, o curso pós laboral de krav maga, ou qualquer outra arte de prestidigitação na defesa pessoal pois ele está, efectivamente só, à mercê de quem à primeira oportunidade não hesita em ser cúmplice da sua desonra. Foi assim que se passou na Escola Carolina Michaëlis e é assim que se passa frequentemente nas "comunidades educativas" de Portugal. A culpa não é da tecnologia, como é óbvio, mas sim do desnorte e do laxismo de um sistema que em 30 anos de Democracia gerou uma média aproximada de um Ministro da Educação por ano! A actual inquilina do dito Ministério tem, como se sabe, contribuído consideravelmente para a degradação da condição do ensino em Portugal. Nesse sentido basta ver a sua reforma no Estatuto do Aluno (Lei 3/2008 de 18 de Janeiro) que ironicamente assevera no site do MNE visa "reforçar a autoridade dos professores". Se esse foi o desiderato da reforma podemos concluir que a mesma falha diariamente por esse País fora. O episódio difundido pelo youtube em que uma Professora é enxovalhada por uma aluna histérica, com o deleite voyeur dos seus colegas, só é possível com um Estatuto do Aluno que é permissivo, laxista e, no fundo, perverso. Embrulhar o mesmo numa novilíngua que fala de "projectos educativos", "integração sócio-cultural" e "provas de recuperação" para alunos com "excesso grave de faltas" não abençoa o Estatuto do Aluno com o cumprimento na prática do dever que o mesmo impõe de "tratar com respeito e correcção qualquer membro da comunidade educativa". Como todos nós sabemos o que falta aos Professores é autoridade e às Escolas disciplina. Mas, também como sabemos, neste Mundo ao contrário, os Professores são agredidos impunemente pelos seus alunos e a disciplina apenas serve os delírios totalitários dos algozes ao serviço da Educação, sempre prontos ao excesso de zelo em casos similares ao do professor Charrua e sempre coniventes com o estado de sítio que recorrentemente se instala nas nossas "comunidades educativas".
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João Nuno Almeida e Sousa nas crónicasdigitais do jornaldiário.com

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