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Domingo à noite sem programa. O que fazer? Talvez ver um filme francês!
Do rol de "obras-primas" da nouvelle vague, e outro eurolixo similar, aguardava a vez este "Le Mépris" de Jean-Luc Godard. À data da sua projecção no ciclo de cinema: "Cinema Cidade e Arquitectura", organizado pela Muu Produções, fiz-me valer do meu arsenal de preconceitos e recusei-me a desbaratar o meu tempo com tão incensada película. Recordo que o evento da Muu foi das melhores iniciativas culturais de 2007 e sinal dessa qualidade foi a elevada participação de cinéfilos nas sessões da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Não sei qual terá sido a audiência deste desprezível filme francês de Godard mas creio que terá tido público à altura e até devidamente lobotomizado para depois da fustigante prova que é ver esta xaropada ainda ter meninges disponíveis para o elevar aos Himalaias de objecto de culto do cinema. Seja como for, concedendo uma trégua à minha visceral relutância para com o cinema made in france, e à falta de melhor ocupação para o serão, vi finalmente "O Desprezo" de Godard. Condescendo que no filme salva-se com mérito o alçado tardoz de Brigitte Bardot, uma tirada de génio de Mr. Prokosch, personagem interpretada por Jack Palance, e um relance da casa de Curzio de Malaparte. O resto é tão ridiculamente mau que não sugere sequer a ousadia de ver a restante filmografia do autor de "Pedro o Louco". Louco estava eu, ou pelo menos temporariamente insano, para me atrever a baixar a guarda das minhas férreas defesas cinéfilas colocando a cópia do "Le Mépris" na drive do DVD para uma tranquila sessão de cinema em casa. Apesar de tudo a retina reteve com deleite a escultórica nudez de BB. Registei ainda a ironia da personagem de Mr. Prokosch, produtor de Hollywood, e cínico de serviço numa interpretação notável de Jack Palance, que a meio dos devaneios "criativos" e "artísticos" de Fritz Lang (que não merecia este filme), sentencia:
"Whenever I hear the word culture, I bring out my checkbook."
A frase é ambivalente e se, por um lado, pretendia menorizar o lado popular da cultura em geral, e do cinema, em particular, por outro lado, não pode deixar de sugerir que todo o artista tem o seu preço. Com efeito, não falta no mundo da cultura quem, mais cedo ou mais tarde, se entregue à prostituição dourada do intelecto, mercantilizando a arte em proveito próprio sem outra escola que não seja a do lucro. Afinal de contas os artistas não são Deuses mas sim Humanos, por vezes demasiadamente humanos. Finalmente, do aterrador filme de Godard, permanece na memória a singular casa de Curzio Malaparte. Aliás, foi por conta do postal dessa casa publicado no tapornumporco que cedi à tentação de ver o "Le Mépris". Contudo, quando um post é substancialmente melhor do que um filme isso só pode levar à tripla e concomitante conclusão de que se trata de um post do tapor, que a película em causa é particularmente desprezível, e que se trata de um filme francês ! Apre !!!
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Domingo à noite sem programa. O que fazer? Talvez ver um filme francês!
Do rol de "obras-primas" da nouvelle vague, e outro eurolixo similar, aguardava a vez este "Le Mépris" de Jean-Luc Godard. À data da sua projecção no ciclo de cinema: "Cinema Cidade e Arquitectura", organizado pela Muu Produções, fiz-me valer do meu arsenal de preconceitos e recusei-me a desbaratar o meu tempo com tão incensada película. Recordo que o evento da Muu foi das melhores iniciativas culturais de 2007 e sinal dessa qualidade foi a elevada participação de cinéfilos nas sessões da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada. Não sei qual terá sido a audiência deste desprezível filme francês de Godard mas creio que terá tido público à altura e até devidamente lobotomizado para depois da fustigante prova que é ver esta xaropada ainda ter meninges disponíveis para o elevar aos Himalaias de objecto de culto do cinema. Seja como for, concedendo uma trégua à minha visceral relutância para com o cinema made in france, e à falta de melhor ocupação para o serão, vi finalmente "O Desprezo" de Godard. Condescendo que no filme salva-se com mérito o alçado tardoz de Brigitte Bardot, uma tirada de génio de Mr. Prokosch, personagem interpretada por Jack Palance, e um relance da casa de Curzio de Malaparte. O resto é tão ridiculamente mau que não sugere sequer a ousadia de ver a restante filmografia do autor de "Pedro o Louco". Louco estava eu, ou pelo menos temporariamente insano, para me atrever a baixar a guarda das minhas férreas defesas cinéfilas colocando a cópia do "Le Mépris" na drive do DVD para uma tranquila sessão de cinema em casa. Apesar de tudo a retina reteve com deleite a escultórica nudez de BB. Registei ainda a ironia da personagem de Mr. Prokosch, produtor de Hollywood, e cínico de serviço numa interpretação notável de Jack Palance, que a meio dos devaneios "criativos" e "artísticos" de Fritz Lang (que não merecia este filme), sentencia:
"Whenever I hear the word culture, I bring out my checkbook."
A frase é ambivalente e se, por um lado, pretendia menorizar o lado popular da cultura em geral, e do cinema, em particular, por outro lado, não pode deixar de sugerir que todo o artista tem o seu preço. Com efeito, não falta no mundo da cultura quem, mais cedo ou mais tarde, se entregue à prostituição dourada do intelecto, mercantilizando a arte em proveito próprio sem outra escola que não seja a do lucro. Afinal de contas os artistas não são Deuses mas sim Humanos, por vezes demasiadamente humanos. Finalmente, do aterrador filme de Godard, permanece na memória a singular casa de Curzio Malaparte. Aliás, foi por conta do postal dessa casa publicado no tapornumporco que cedi à tentação de ver o "Le Mépris". Contudo, quando um post é substancialmente melhor do que um filme isso só pode levar à tripla e concomitante conclusão de que se trata de um post do tapor, que a película em causa é particularmente desprezível, e que se trata de um filme francês ! Apre !!!
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