Artes e Letras *
A publicação literária nos Açores, nos últimos 20 anos, passou, de forma incontornável, pela chancela da editorial Salamandra e pelo empenho do seu editor Bruno da Ponte. Desde que a Salamandra suspendeu o capítulo da edição, temos assistido ao decréscimo de publicação de obras de escritores açorianos ou, pelo menos, de uma parte significativa dos chamados “escritores açorianos”. Esta é uma denominação que transporta em si mesma inúmeros anticorpos e é, eventualmente, ambígua, mas esse é um factor que quero relevar, dando mais ênfase ao carácter criativo associado à publicação da obra escrita e menos à análise do produto final ou à origem do criador-criativo.
Neste sentido, e por via do contacto sistemático com quem publica e edita cultura em São Miguel e nos Açores em geral, os proprietários da Livraria Solmar, José Carlos Frias e Helena Frias assumiram, eles próprios, a tarefa de editar a literatura que cá se faz. Os objectivos primeiros prendem-se com a divulgação da obra literária Made in Azores, estando igualmente implícita a sua difusão e sedimentação no mercado nacional, por via de uma sólida distribuição, bem como uma edição cuidada e que pretende ser sensível aos critérios editoriais e do design.
No passado dia 21 de Junho, a Editora Artes e Letras efectuou a sua apresentação pública na Livraria SolMar. Como forma de marcar esse momento, a estreia juntou-se ao lançamento do romance da autoria do jornalista e escritor Carlos Tomé, intitulado "Morreremos Amanhã". A obra evoca os fantasmas dos antigos combatentes do ultramar, os quais, parafraseando Daniel de Sá, “continuam na memória dos sobreviventes, muitos deles suportando uma estranha espécie de remorso por estarem vivos. Com o espírito atormentado depois da tortura dos combates”.
Num tempo difícil para o mercado do livro (apesar das estatísticas apresentarem um aumento significativo do número de leitores em Portugal!), e em que, devido à acentuada crise económica, o consumo de produtos culturais tende a ser menor e a ser uma das áreas de actividade que mais sofrem com o corte no orçamento familiar, a proposta da Solmar - que tem paralelismo com algumas pequenas editoras nacionais, em termos de definição de um nicho de mercado específico - é, a todos os níveis, uma iniciativa arrojada e merecedora de incentivo.
* publicado na edição de 26/06/07 do AO
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*** Foto Livraria Solmar
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