segunda-feira, junho 4

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Crescimento (in)Sustentável *

Os Açores estão em fase de mutação acentuada. O crescimento, principalmente o relacionado com a construção civil, tende a modificar invariavelmente a morfologia e a tipologia da construção dos aglomerados urbanos e rurais das ilhas.

Em São Miguel assistimos ao anúncio prolífico de múltiplos investimentos na área do turismo e das acessibilidades, sempre com uma receptividade entusiástica (!?). No entanto, e em Ponta Delgada, enquanto se constrói uma malha suburbana pouco qualificada e descaracterizada urge olhar um centro histórico que asfixia por via do excesso do tráfego automóvel e das dezenas de imóveis decadentes, em ruínas e à mercê da pouca escrupulosa especulação imobiliária. Assistimos ao êxodo das populações rurais à cidade e das outras ilhas para São Miguel. As Scuts, em vias de efectivação, vão apenas multiplicar os casos de abandono dos locais de origem e não aproximar os concelhos longínquos. O desenvolvimento nunca será igual a todas ilhas e a todos os concelhos. Esse é um equívoco autonómico que ninguém assume. Obviamente que o investimento público deve pautar-se pela melhoria qualitativa das condições de vida das populações das zonas mais isoladas, onde a insularidade nos toca a pele, mas nunca assumir-se como um coeficiente desculpabilizante.

O ambiente constitui uma riqueza finita cuja preservação é urgente. No entanto, quando se tenta implementar (felizmente há cada vez mais sensibilidade e consciencialização governamental) medidas que promovem a guarda dos bens públicos e privados associados ao meio ambiente não faltam o inevitável rol de críticas primárias (ler edição de 27/05/07 do Açoriano Oriental sobre as recomendações do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) da costa sul de São Miguel).

A riqueza dos Açores reside na identidade idiossincrática que popula estas ilhas. Há que preservar a todo custo as diferenças que nos aproximam, de modo a que hegemonização imposta pela capitalização global não anule aquilo que tanto valorizamos mas tendemos a negligenciar.


* publicado na edição de 28/05/07 do AO
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