domingo, maio 6

Ségolènix ou Sarkozyx

...

La République par Honoré Daumier
(1848 - Musée d´Orsay)

...
Vergados perante o directório do europeísmo dominante os media do velho Continente vivem o frisson das eleições de 6 Maio para o trono do Eliseu. A pátria de Marianne vai já na V República, sendo a sucessão republicana uma versão plebeia de antigualhas dinásticas que os Franceses sepultaram em 1789. O tom épico deste tour de force entre "Ségo" e "Sarko" - (para fazer uso da francomania dos diminutivos) - tem a dimensão dramática de uma arena ideológica. No canto esquerdo do ringue temos uma sorridente Ségolène Royal aparentemente pronta para perder a face no embate contra um sisudo Nicolas Sarkozy que se senta no banco direito do redondel desta luta de galos.
O folhetim foi alimentado durante a campanha com debates e panfletos que, ora instilavam o pendor consensualista e maternal de "Ségo", ora advertiam contra o perigo de um autoritarismo intransigente de "Sarko". Enfim, as mitomanias habituais de uma estirpe que tradicionalmente dá mais importância ao prêt-à-porter das ideias do que à substância da realpolitik. Seja como for, o resto da Europa centra-se nesta lide gaulesa apenas na expectativa de que a eleição não descambe numa arruaça. À colação é inevitável uma longa colecção de pergaminhos desse estilo populista de política, desde os lúgubres terrores da Revolução até às barricadas do Maio de 68. Todavia, esta campanha pela Presidência da França tem sido alardeada como uma oportunidade de restauro desta V República. Porém, paradoxalmente, o poder conservante do prestígio que faz da república Francesa uma grande potência é produto da forma como sempre soube exportar uma concórdia imposta além fronteiras. Em bom rigor, quer ganhe "Ségo", quer vença "Sarko", os Franceses vão continuar a mamar da mesma poção mágica que os tem engrandecido: o temor que os demais confrades europeus têm de uma iracunda França ! Para quem não é francófilo pouco importa quem vencerá, mas fica-se à espreita da conciliação nacional dos Franceses.
A propósito, há mais de um Século, o grande Eça de Queiroz, ele próprio um empedernido simpatizante da civilização gaulesa, escrevia de Londres o seguinte: "Há entre os provérbios diplomáticos um que diz: "Quando a França está descontente, a Europa está em Perigo". Pode-se dizer, que quando a França está feliz, a Europa está tranquila". Confirmado este dogma pela História tudo o resto é acessório, incluindo saber se o próximo chefe da tribo é Ségolènix ou Sarkozyx.
...
posted par João Nuno Almeida e Sousa

Sem comentários: