quarta-feira, maio 30

3 em 1

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O Sr. Pinto de Sousa, afamado amador de jogging internacional, e nas restantes horas primeiro-ministro de Portugal, pode hoje honrar-se de ter, à sua imagem e semelhança, criado um "regime". Como isto da política, mesmo a de baixo calibre, é uma ciência, faço aqui, com a devida vénia, uso da pena dos mestres que recentemente traçaram, a régua e esquadro, a geometria deste "regime". O post é longo mas instrutivo. Está lá tudo !
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1.

"Perdoe-se-me o neologismo bárbaro com que quis misturar disparates e disparidades (de que não sou autor, bem entendido). Indo directo ao assunto, recordo que no tempo do Sr. Sampaio, presidente que se notabilizou pela golpada política de decretar a dissolução da AR quando nela havia uma maioria absoluta que apoiava o governo, a imprensa e os tudólogos habitualmente fazedores da triste opinião pública que temos, fustigavam diariamente, sem cessar e com vigor extremo, o Sr. Santana Lopes e mais o seu governo. Eram os "disparates" para aqui, as "trapalhadas" para acolá, o "clima de instabilidade" para acoli, a "confusão", eu sei lá, havia tudo menos identificação de concretos factos que pusessem em causa o regular funcionamento das instituições.

O dito Sr. presidente de então, entre verter umas quantas lágrimas por alma de um republicano antifassista qualquer falecido em Cascais aos 97 anos de idade, abifar uns croquetes e proferir uns discursos capazes de matar de tédio a direcção da Associação de Contabilistas da Brandoa, fingiu que hesitou e, quando lhe pareceu azado, ou lhe disseram que o era, pimba, dissolveu a AR.

O momento do ciclo político-eleitoral era o mais baixo para a maioria, a seita a que o indivíduo em causa pertence já tinha corrido com o invendável Ferro Rodrigues, e assim foi: com argumentos de "trapalhadas", "disparates", o "clima", a "confusão" e coisa e tal, capazes de matar de riso qualquer ser com cérebro, entregou-se o Poder à rapaziada. E os tais, os da "opinião pública", acharam bem, com eles não se toleram "disparates", "trapalhadas", "climas", "confusões" e outras coisas tão perniciosas ao bem público.

Ora, o chefe da comandita, antes da formalização do truque mediante eleições, e não fosse o Maligno tecê-las, prometeu pelas almas todas que não havia subida de impostos e que "havia vida para além do deficit", frase tomada de empréstimo ao tal presidente; dias depois de ser dono da governança desatou a subir os impostos como se não houvesse amanhã e há muito se não via.

Daí para cá, e assim muito pela superfície da memória, recordo-me de uma ministra da educação que sem corar afirmou haver não sei que sentença de um tribunal de Ponta Delgada que por não ser de um tribunal de Lisboa se não aplicava a Portugal; que anda a fechar escolas primárias a esmo por esses campos fora, a pretexto da poupança com isso obtida mas fazendo a pequenada correr montes e vales para ir para outras escolas em muitos casos piores; que no seu ministério alberga uma directora regional capaz de fulminar com processos e medidas disciplinares quem urda chufas a respeito do chefe; e em suma que quando abre a boca dá uma triste ideia do que já era a instrução nacional há coisa de uns trinta anos.

Lembro um ministro da economia (coisa bizarra...) que já anunciou o fim da crise, ao vivo e em directo; que foi à China explicar aos investidores de lá as vantagens do baixo custo de mão de obra em Portugal (lá chegaremos...); que muito recentemente, face à notícia de que determinada empresa ia desligar 500 postos de trabalho, tranquilizou os súbitos desempregados e a nação em geral com a notícia, tão boa quanto falsa, mas válida por um dia quase inteiro, de que a mesma empresa ia criar outros 250 perto dali.

Trago à lembradura um ministro das obras públicas que de cada vez que fala no projecto de um aeroporto de muitos mil milhões de óritos lembra o Vale e Azevedo a prometer reestruturação financeira e sucessos desportivos ao SLB, e pelo meio faz analogias com cancros e outras maleitas.
Ocorre-me um ministro da saúde que determinou a imperativa necessidade de taxas moderadoras para os abusadores que matam o ócio com intervenções cirúrgicas e internamentos hospitalares escusadas.

Rememoro um secretário de estado que num dia assegura a manutenção do congelamento das progressões de carreira e actualizações salariais dos funcionários públicos e agentes do Estado até aos idos de 2009 e no dia seguinte diz que esse aperto acaba já este ano.Assalta-me o espírito um ministro do interior que logo depois de passar à condição de candidato autárquico pugna pela necessidade de debate sobre o tal aeroporto, que na véspera assegurava ser coisa indispensável e bem decidida.

Assombra-me a recordação da quimera da redução das férias judiciais e os seus infalíveis efeitos benfazejos, que sem dúvida se evidenciarão antes do fim dos tempos; e, já agora, a notável persistência desse arreliante mas dispiciendo probleminha do processo executivo. Para não falar da tentativa de meter a vice-presidente do Tribunal Constitucional o boy jurídico de serviço há longos anos, em justa recompensa pelo seu muito esforço. Quando a coisa falhou, apesar de sempre ter sido metido a Juiz Conselhiero, em substituição da esposa, aproveitou-se a saída do outro para candidato autárquico e deu-se ao tal boy o Ministério da Administração Interna, pelo caminho ficando a nação a saber que por essa via a maçonaria trepava mais um bocadinho das escadas do Poder.Lembro, também, a escolha do ministro da justiça, cuja passagem por Macau, recheada de sucessos memoráveis, oportunamente relatados na imprensa, lhe não beliscou minimamente as notórias aptidões para o cargo.

E como esquecer o truque trapaceiro de uma Sr.ª governadora civil que marcou eleições à pressa para ver se atrapalhava umas candidaturas potencialmente prejudiciais ao seu candidato? Como não lembrar, neste contexto, o facto de há dias, segundo notícia não desmentida, um funcionário da PJ que agendara uma comunicação à imprensa, a propósito de uma pequena desaparecida no Algarve e que tem chamado por isso a atenção maciça da comunicação social, ter sido "aconselhado" pelos serviços do Ministério da Justiça a postergá-la (á comunicação...), pois que na hora prevista o candidato à Câmara de Lisboa iria fazer o anúncio da sua candidatura e do seu "programa"? Poderia olvidar, já agora, que num dia o IEFP assegurou que o desemprego descera em proporções homéricas, e logo no seguinte o INE garantiu que pelo contrário ele subira como nunca desde há 22 anos?
Há maneira de não recordar o Pina Moura, ex-ministro, ex-gestor-público, actual gestor de uma empresa que actua no mercado que tutelou enquanto ministro (e agora nessa qualidade fazendo críticas à legislação que em muitos casos aprovou quando tinha a outra)? E isso em cumulação com a gestão de uma outra, de comunicação e por acaso ligada ao partido espanhol homólogo do que por cá faz que governa?

E o "simplex"!? Hahahahaha! E os planos de investimentos grandiosos que viriam de magnâmimos estrangeiros salvar Portugal da crise? Hihihihihih! Só agora me lembro, valha-me Deus, da inenarrável história do curso aldrabado do Sr. Pinto de Sousa, das suas aventuras académicas, dos termos que não existem, dos professores quadruplamente regentes, das provas de "inglês técnico" e etc. Já não choca, que o governo de Portugal tenha por primeiro ministro um exemplar do bom e velho "doutor da mula ruça", essa figura tão pícara da literatura e do folclore pátrios!
Entretanto, todos os dias sou lembrado da continuada e brutal perda de poder de compra que me aflige, sem fim à vista, como a milhões de cidadãos.

"Trapalhadas"? "Disparates"? "Clima"? Náa... O Sr. Santana Lopes era um modelo de seriedade e rigor. Volte, que está perdoado. Comparado com o seu sucessor, é um fraco aprendiz da arte de semear a confusão e atascar o país mais um bocado. Mas a "opinião pública" ainda se não deu conta disso. Onde estão agora as "trapalhadas"? Os "disparates"? O "clima"? A "confusão"? Foi um ar que lhes deu; sumiram-se. E o actual Presidente lá terá os seus defeitos, mas não é pessoa de golpadas constitucionais... "

Postado por Kzar no Catilinário.
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2.
"O homem não é pior nem melhor que os outros; é igual à generalidade dos ministrozecos que temos. Chegámos a um ponto de não retorno na vida do regime em que só aceitam lugares na governança aqueles que nada têm a perder ou aqueles que, de todo, perderam o sentido do ridículo. Aquele ar de Zé Povinho alvar, a incontinência verbal e desbragamento não diminuem em nada o governo. Ontem vi-o, perante as câmaras, impudente, coçando os testículos. Afinal, como todos os outros, trata-se de figura insignificante, grosseira e semi-letrada que convive perfeitamente com a ideia há muito instalada de que os políticos não são mais que o reflexo de um país que se conformou com a mediocridade, a grosseria, a irresponsabilidade e a impunidade. Lino é ridículo, o governo é ridículo, o presidente abúlico, o regime uma inconsistência. De governo em governo, de primeiro-ministro em primeiro-ministro, temos assistido, entre o gargalhar e o choque, a uma tal parada de trapalhões, mentecaptos e inimputáveis, tão afoitos na arte de cobrir o regime de ridículo que dir-se-ia trabalharem para o afundamento desta 3ª República. O que se seguirá ? O que nos espera ainda ? Quem poderá salvar o regime da anedota em que redundou ? O grotesco suplantou as expectativas mais reservadas. Vivemos em plena era da anedota.
(...)
Que me lembre - na sucessão quase estonteante em que as coisas têm ocorrido - nunca estivemos em situação tão perigosa como hoje: nunca foi tão notória a fragilidade do Estado; nunca a autoridade se mostrou tão errática como incapaz; nunca os poderes constituídos se mostraram a um tempo tão pusilâmines e tão arrogantes; nunca tantos escândalos de nepotismo, abuso de autoridade, censura, intromissão e manipulação da opinião que se publica atingiu foros de verdadeira agonia como hoje; nunca tantos governantes foram confrontados com inverdades e mentiras; nunca se exigiram tantos sacrifícios sem que os seus inspiradores tivessem a elementar coerência de os praticar.

A semana foi, de facto, um torvelinho de pequenos acidentes que deslustram o Estado de Direito, a democracia, o civismo e o bom nome das instituições: um governante que nomeia a filha, mudando-lhe o apelido, uma lista camarária inteiramente composta de arguidos, um ministro boçal desconsiderando milhões de portugueses, um professor denunciado e alvo de processo disciplinar por um inócuo comentário sussurrado a um colega no defeso do gabinete.

A democracia, mais que um método, exige uma ética. Ora, quando um regime que se diz fundado na soberania do povo se precipita na mais ignóbil das mascaradas, quando demonstra não cumprir os princípios elementares da ética do serviço público - Princípio da Legalidade, Princípio da Igualidade, Princípio da Lealdade, Princípio da Integridade, Princípio da Competência e Responsabilidade - e quando a tudo isso soma incompetência técnica, incapacidade de gestão e direcção, favoritismo e incontrolável apetite pelo domínio da palavra, da opinião e até a presunção de certeza, deixa de ser democrático.

Portugal transporta um velho historial de tirania, censura e condicionamento misturado com demagogia, corrupção e má governação, pelo que tomar este momento como uma simples conjugação de acasos é erro; diria mais, é um perigo para todos quantos amam a liberdade e temem os fantasmas do despostismo que ciclicamente regressam triunfantes após o colapso de regimes de balbúrdia. Neste Reino Cadaveroso parece só haver espaço para essa sucessão de tirania seguida de balbúrdia e balbúrdia seguida de tirania.Está escrito, se assim continuar, que em breve lá estaremos. "

Postado por Miguel Castelo Branco no Combustões.
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3.
"Uma quinta-feira, à hora do almoço, o dr. Fernando Charrua entrou no gabinete de um colega, onde estava um grupo a conversar, e disse uma graçola sobre a licenciatura de Sócrates, que, em certas versões, é hoje promovida a "insulto". Um dos presentes resolveu diligentemente denunciar a graçola (ou o "insulto") à directora da DREN. Na segunda-feira seguinte, quando chegou ao trabalho, Fernando Charrua descobriu que tinha o computador "bloqueado", que lhe tinham lido o e-mail e que a directora, Margarida Moreira, lhe queria falar. Para quê? Para o suspender sine die, sem forma de inquérito, e para o prevenir (se "prevenir" é a palavra) de que seria sujeito a um processo disciplinar com a participação do Ministério Público. Fora o vexame e o dinheiro que já gastou com advogados, Fernando Charrua cumpre agora a "pena" num liceu do Porto. O "caso Charrua" não é um acidente. O que se passou não se passaria sem um conjunto de condições prévias. Primeiro, que a denúncia fosse considerada na DREN um acto meritório ou, pelo menos, recomendável. Segundo, que o denunciante contasse com a benevolência e a colaboração da dr.ª Margarida Moreira. E, terceiro, que a dr.ª Margarida Moreira julgasse agradar aos seus próprios superiores, perseguindo a dissidência política ou a sombra dela. Numa repartição normal os funcionários não se andam mutuamente a denunciar, nem os directores toleram a denúncia como método de "vigilância". Até porque a moral comum considera abjecta a figura do denunciante e a do polícia que age por denúncia. O que sucedeu na DREN é um sinal da profunda perversão do regime.
Perante isto, Sócrates, com imensa bondade, assegurou à Pátria a liberdade de expressão e o prof. Cavaco, do lugar etéreo onde subiu, espera que o "mal-entendido" (repito: o "mal-entendido") se esclareça. Não chega. Ninguém se lembraria, como ninguém de facto se lembrou, de acusar (ou de punir) alguém por uma graçola ou um "insulto" a outro primeiro-ministro. O crescente autoritarismo do poder e o extravagante culto da pessoa de Sócrates, que o Governo promove e alimenta, é que pouco a pouco criaram o clima em que se vive e que inspirou o "caso Charrua". Escrevi aqui há meses que bastava ouvir o dr. Augusto Santos Silva (com quem, aliás, Margarida Moreira colaborou) para temer o pior. A história da prepotência e do arbítrio não começou na DREN, não vai acabar na DREN e com certeza que não se limita à DREN."

Vasco Pulido Valente via Bomba Inteligente.
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