sexta-feira, outubro 20

O mapa cor de rosa

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Embalados no adormecimento da pax açoriana, imposta pelo actual consulado de Carlos César, não causa espanto que a recente sondagem da RTP-Açores mais não tenha sido do que ruído de fundo na nossa sociedade. Com efeito, quem esperava daquele "indicador de tendência" uma surpresa só poderia viver alienado do verdadeiro real social das nossas Ilhas.

Bem sei que ainda há por aí uns velhos do Restelo que teimam em envergar as vestes da desgraça e da depressão social quando, a propaganda e as sondagens, demonstram à saciedade o contrário. Serve de exemplo a recente performance televisiva do insuspeito Padre Weber Machado que literalmente sentenciou: "Infelizmente, os Açores continuam a ser a região mais pobre do País". Dito isto desfilou um rol comparativo dos índices de dependência do rendimento de inserção social que nos colocam no pelotão da frente dos subsidiodependentes. Concluiu o vetusto prelado que "Falta trabalho nestas Ilhas". Ora, que importam estas geriátricas palavras quando vivemos num regime de pleno Emprego Socialista?

Se adicionarmos a esta receita um rol de notáveis feitos arquitectados pelo engenho Socialista dúvidas não temos que o resultado da sondagem não poderia ser outro. Efectivamente, sob pena de atestado de inimputabilidade política, alguém se atreve, por exemplo, a negar o êxito da mobilidade inter ilhas que é hoje uma realidade de sucesso ? É certo que há algumas avarias de permeio, mas isso são pormenores! Alguém medianamente abonado poderá deixar de sentir orgulho de viajar na nossa frota aérea ? Com efeito, é a nossa Sata que nos leva a conhecer o mundo e a fazer a ponte com Lisboa, tudo isto em regime de monopólio nas asas do regime, pelo que, apresenta um tarifário social que se pretende acessível para todos. Poderá alguma alma bem intencionada negar o clima de cooperação entre agentes educativos e a respectiva tutela que em união têm colocado os Açores nos píncaros do sucesso escolar ? Será possível a um cidadão devidamente ilustrado negar o mérito de uma Scut para o Nordeste cujo retorno social será diluído por várias gerações que irão pagar o usufruto civilizacional de termos a 10ª Ilha mais perto de nós ? Não será por vulgar despeito que os críticos da majestática empreitada das Portas do Mar não se cansam de olhar com assomo para a implantação daquele mastodonte financeiro às portas da cidade de Ponta Delgada ?

Em suma : Não será o progresso e o desenvolvimento Socialista uma realidade reconfirmada pela sondagem efectuada a meio milhar de alminhas Açorianas ? Dizem os números da plebiscitária sondagem que sim !

Quanto a índices de cidadania e participação cívica a sondagem sugere, maldosamente, que apenas o PSD Açores constitui o último reduto de alternativa e oposição ao regime. Na verdade, asseveram-nos os números da sondagem que, à excepção do PSD Açores, a restante oposição nos Açores é residual, ou até mesmo marginal. Será que estes dados são o espelho da nossa realidade fervilhante de movimentos de participação cívica político partidária ou de outra natureza ? Que dizer da reserva moral da nossa Direita Açoriana que aparece pulverizada nas sondagens ? Como justificar o enxovalho que representam as intenções de voto nos Comunistas Açorianos que, apesar de terem sido purgados de uma vaga de dissidentes que se passaram para os lados da Rosa, continuam a luta empenhados nos ideais do socialismo ? Como encaixar a paupérrima prestação do Bloco de Esquerda que, como se sabe, está cada vez mais implantado nos hábitos e costumes das nossas gentes ? Respondidas estas interrogações, dúvidas não temos que a mensagem subliminar da sondagem que atribui ao PSD o ónus de ser a única oposição nos Açores, não poderá deixar de ser uma falácia!

Ademais, a sondagem também não reflecte os amplos espaços de cidadania que se movimentam na sociedade Açoriana. Como podemos nós olvidar, por exemplo, a actividade cívica de um Fórum Açoriano ou o empenho ambientalista de um SOS Lagoas ? Como negar o amplo debate jornalístico sustentado por um Promedia ou até o vasto e heterogéneo rol de comentadores que têm assento nos estúdios do canal único da televisão Açoriana ? Como é possível esquecermo-nos da importante mole de produtores culturais, e demais artistas do regime que, sem peias ou amortizações, contribuem com a graça da sua arte para uma cultura alternativa desvinculada do poder ? Finalmente, como podemos deixar de reconhecer o castigo moral da trupe satírica que, de língua afiada, faz humor desabrido com figuras públicas sem que alguma vez os retratados tenham beliscado as intenções dos comediantes de serviço público ?

Como se percebe a sondagem não passa de um mero "indicador de tendência", ilumina parte da nossa realidade ao mesmo tempo que deixa na sombra um lado negro do nosso quotidiano, num mapa que se quer pintar de cor de rosa.
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posted by João Nuno Almeida e Sousa

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