"To me, consensus seems to be the process of abandoning all beliefs, principles, values and policies. So it is something in which no one believes and to which no one objects"
...
...
Margaret Hilda Roberts Thatcher iniciou a sua vida profissional com uma licenciatura de Oxford em Química à qual, mais tarde, adicionou uma licença para exercer Advocacia na área do Direito Fiscal! Como alquimista não foi além de assalariada num laboratório que desenvolveu o protótipo do sundae; como fiscalista enterrou-se politicamente com uma impopular poll tax, ou seja, um imposto per capita cuja tributação era independente do rendimento. Pelo caminho foi a primeira mulher a assumir o cargo de Primeiro-ministro do Reino Unido e, no Sec. XX Britânico, foi o Primeiro-ministro que mais tempo esteve no poder ([1]).
Começou a sua idiossincrática carreira política como deputada Conservadora na Câmara dos Comuns. Durante esses anos de tirocínio na oposição parlamentar Thatcher deixou registo da sua peculiar personalidade liberal e conservadora: por um lado ,votou favoravelmente a descriminalização da homossexualidade e apoiou, com o seu voto, a legalização do aborto, mas, por outro lado, manteve-se inflexível na defesa da pena capital e opôs-se à simplificação do processo de divórcio. No seu debute governativo, como Secretary of State for Education and Science, no Governo Conservador de Edward Heath (1970-1974) inaugurou uma galeria de alcunhas sendo à data conhecida por "Thatcher Milk Snatcher", pois abolira a distribuição universal e gratuita de leite nas escolas retomando, paradoxalmente, uma medida do anterior governo Trabalhista obcecado em reduzir o orçamento da Educação.
O cognome de "Dama de Ferro" surge, mais tarde, pela primeira vez como um mimo do "Krasnaya Zvezda" ([2]) em réplica editorial ao discurso de 19 de Janeiro de 1976 em Kensington Town Hall ([3]). Nesse recuado ano da década de setenta Mrs. Thatcher era apenas líder da oposição numa decrépita e descredibilizada Grã-bretanha. Contudo, o tom do discurso da "Iron Lady" era premonitório de um indomável voluntarismo que iria transformar o Reino Unido e por arrasto o Mundo.
Nesse célebre discurso, numa época em que a expansionista União Soviética construía um submarino nuclear por mês, para fins ostensivamente hostis como é óbvio, Margaret Thatcher quebrava o gelo da detente ao assertivamente advertir que os sovietes eram apenas uma superpotência a nível militar. Pese embora a propaganda alardeasse o contrário, a Pátria do Comunismo era, na realidade, um fracasso em termos humanos e económicos cuja exportação, por via da Internacional, era um perigo real. Thatcher ilustrou o perigo da deriva expansionista da União Soviética ao evocar a tentação da cubanização do nosso País. No discurso de Kensington exemplificou para os descrentes: "We have seen the Communists make an open grab for power in Portugal, our oldest ally. A sign that many of the battles in the Third World War are being fought inside Western countries.".
Após a primavera eleitoral de 1979, Thatcher passa a governar o Reino Unido com férrea personalidade impondo a sua política, mesmo contra as vozes críticas do Partido Conservador. Modernizou a velha receita liberal de "Menos Estado, Melhor Estado" e, em consequência, cortou drasticamente na carga fiscal colocando no pedestal da economia o modelo do mercado livre. Numa época em que a Europa vivia entretecida na teia do Socialismo, Thatcher iniciou uma revolução económica com a privatização de empresas cuja sacrossanta tutela seria sempre pública independentemente de laborarem atavicamente "no vermelho". Iniciou esta política com uma British Airways, tecnicamente à beira da bancarrota, privatizando-a e metamorfoseando-a numa das mais lucrativas companhias aéreas do Mundo! Foi uma verdadeira "Revolução Conservadora" e um rude golpe no Keynesianismo e no Welfare State. No passo seguinte inicia uma política reformista de "Capitalismo Popular" ! A receita é tranversal pois, se por um lado, faculta a preferência da venda maciça das casas arrendadas com o programa "Right to Buy", por outro lado, expande as privatizações em massa criando novos e ricos capitalistas.
Alma gémea de Ronald Reagan, entretanto eleito Presidente dos Estados Unidos da América em 1980, acicatou ideologicamente a política de afrontamento à União Soviética indo ao ponto de estacionar mísseis de cruzeiro em solo Britânico, directamente apontados para lá da cortina de ferro. A história veio a dar-lhe razão, bem como o seu quinhão de glória na derrocada da União Soviética. Contudo, os ventos de guerra sopravam dos antípodas pois, nas Falklands ([4]), nas palavras ácidas de Roger Waters ([5]), "Galtieri took the Union Jack". Efectivamente, em Abril de 1982, a Argentina invadia as Falklands, numa encenação de patriotismo trauliteiro que foi prontamente rechaçado pela têmpera de Thatcher e pelo aço do exército Britânico que nunca abandonou a sua Pátria. A "Dama de Ferro", ao "comando" do exército Britânico, recuperou a Union Jack hasteando-a de novo em port Stanley. A guerra das Falklands Islands, ou Islas Malvinas para os enxovalhados Argentinos, resultou no fim da ditadura na Argentina e num recrudescimento da popularidade de Thatcher.
Internamente, Thatcher enfrentaria ainda com êxito o IRA, sobrevivendo inclusive a um ataque terrorista. Também, com marcial determinação não cedeu a uma poderosa greve mineira, e após um ano de intenso conflito laboral e social derrotou o National Union of Mineworkers. Pulverizada a influência sindical em 1985 Thatcher encerrou várias minas e privatizou as restantes que tinham viabilidade económica e empresarial.
O declínio e queda de Margaret Thatcher consumou-se no final da década de 80 motivado externamente pelo isolacionismo eurocéptico coadjuvado pela animosidade social gerada com o lançamento da impopular poll tax.
Margaret Thatcher foi indubitavelmente um ícone do Sec. XX cujo magnetismo, carisma, e voluntarismo, gerou legiões de acólitos que ainda hoje a colocam no Top de Grandes Líderes do Séc. XX. Também incendiou populares e viscerais ódios de estimação que, por certo, preferiam ver Maggie no cadafalso embalada nos acordes de "Margaret On The Guillotine" ( [6] ) de Morrissey.
Margaret Hilda Roberts Thatcher nasceu a 13 de Outubro de 1925. Hoje, aos 81 anos, a "Dama de Ferro" enferruja tranquilamente em Londres.
...
Links :
Thatcher Foundation
"Margaret Thatcher: a política que nunca quis agradar", por
Jorge Almeida Fernandes no Público
"Thatcher's children", um excelente artigo de Simon Jenkins no Guardian
Leaders and Revolutionaries da Time
...
Notas :
[1] Para uma sinopse histórica dos Prime Ministers recomenda-se um tour ao site oficial do n.º 10 de 10 Downing Street, mais concretamente em http://www.number-10.gov.uk/output/Page123.asp [2] o.s."Estrela Vermelha" que, à data, era o jornal do exército soviético - http://www.redstar.ru/ [3] O discurso integral, "Britain Awake", pode ser lido na integra no site da Fundação Margaret Thatcher em http://www.margaretthatcher.org/speeches/displaydocument.asp?docid=102939 [4] Sobre a Guerra das Falklands v. o site: http://www.falklandswar.org.uk/ [5] "The Final Cut - A Requiem for the Post War Dream by Roger Waters, performed by Pink Floyd", editado em 1983 é um documento negro e caústico sobre esses anos da Guerra Fria e particularmente crítico para Maggie Thatcher. [6] "The kind people Have a wonderful dream / Margaret on the guillotine / Cause people like you Make me feel so tired / When will you die? Do not shelter this dream / Make it real." Assim se ouvia Morrissey em 1988 no album Viva Hate !
...
posted by João Nuno Almeida e Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário