terça-feira, junho 6

O acessório e o principal

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A actual Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, useira e vezeira em afrontar a classe docente, recentemente veio ao palco mediático da política portuguesa publicitar mais um libelo acusatório contra os Professores imputando-lhes a culpa pelo mal-estar da Educação. A desastrada proposta de alteração do estatuto da carreira docente, com inclusão do regime "tutorial" dos Professores pelos pais dos alunos, é a perversão integral da ordem natural das coisas e traduz-se na passagem de um atestado de infantilização dos Professores Portugueses.

Como se adivinha esta nova reforma será imposta com punho de ferro ao arrepio do diálogo, do debate e da "concordância prática" que sempre serviram de parangonas de propaganda dos governos Socialistas quando, na prática, a lógica autocrática prevalece. Neste como noutros domínios de acção Socialista o debate é, como se sabe, indispensável, desde que, a discussão não altere a decisão previamente definida à partida.

Mas, parece que nem é essa sequer a táctica de Maria de Lurdes Rodrigues que não está para perder tempo com as minudências do diálogo com os seus parceiros sociais, já que urge implantar a sua política reformista cuja matriz passa pela culpabilização dos Professores pelos desmandos actuais do Ensino em Portugal. A etiologia deste achaque Ministerial estará por certo numa "compulsiva e permanente manifestada aversão relativamente à classe docente" conforme justamente diagnosticou a Fenprof que, ao pedir a demissão da Ministra, ainda adiantou que "os professores e educadores estão fartos dos descontrolados impulsos persecutórios da ministra da Educação e Portugal não suporta mais o seu olhar de medusa.". Mas, de pouco serve replicar contra esta prosa hostil quando os factos põem a nu uma reforma Ministerial que é mais uma afronta à classe docente e apenas mais um capítulo da saga Socialista para tentaculizar a sua acção em todos os domínios da vida comunitária. Com efeito, como se não bastasse à Ministra a tentação de por os pais a "vigiar" os Professores do mesmo passo lançou um Plano Nacional de Leitura, com nomeação da respectiva "comissária da leitura", que até irá educar os pais dos alunos ao criar uma lista de sugestões de leitura. Assim, para breve o Ministério prepara uma listagem de 600 obras de referência, uma espécie de índex ao contrário a fazer lembrar a bafienta mentalidade de uma cultura de Estado, sendo desde já fácil prever o rol de escribas do regime que irão constar da lista de "recomendações" de "leitura orientada" para alunos e pais! Quem precisava mesmo de orientação é a actual Ministra da Educação que até poderia ter explicações com o seu colega titular da Pasta das Finanças que esta semana cometeu a proeza política de aprofundar, sem grande contestação, o regime dos supranumerários rumo à "desvinculação voluntária" dos excedentários o que, em bom rigor, não passa de mais propaganda Socialista, meticulosamente embrulhada, pois já todos percebemos que o governo quer transformar a miragem dos despedimentos colectivos em realidade pretensamente negociada. Mas, nem para este estilo de propaganda de veludo a Ministra da Educação tem aptidão. Ao invés atropela-se em propostas avulsas e acessórias que em vez de unir dividem, e cujos paradigmas recentes são a intervenção dos pais na avaliação dos Professores e a figura "vigilante" do "professor titular".

Do que a Educação precisa é de mais investimento infra-estruturante, mais autonomia pedagógica, mais e melhores incentivos à formação e um Plano Nacional de inclusão tecnológica das escolas no domínio da sociedade da informação. O resto é acessório mas, infelizmente, parece que é o principal para a Ministra da Educação.
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JNAS na Edição de 6/6/6 do Jornal dos Açores.

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