quinta-feira, janeiro 27

Praias de Água D'Alto, o novo mistério da atlanticidade

Num exercício de cidadania (manifestação racional em vias de extinção), alguém – um amigo – ergue a sua voz em defesa do bem comum, iniciativa à qual não pude deixar de reagir, partilhando aqui as suas dúvidas, na esperança de que mais consciências se despertem, até porque, já agora, também eu gostaria de saber o que se passa com tão misterioso processo.

Miguel Cravinho dixit

"UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ!


Caros amigos, não sei se têm acompanhado as OBRAS NA ESTRADA VFC-PDL, troço das Praias de Água d’Álto. Eu confesso que estou indignado e estupefacto com tamanha enormidade! Cada vez me convenço mais que somos demasiado complacentes com a negligência, o abuso e a falta de respeito para com os cidadãos. Ou então nos demitimos da nossa cidadania, o que é ainda mais grave, pois a Democracia apenas funciona com a participação activa e plena (de todos!). Mas isto são contas de outro rosário…
Então vejamos:
Primeiro, é criminoso abrir-se 2 frentes de trabalho ao mesmo tempo. É uma autêntica loucura condicionar toda a circulação na única via de ligação. Durante mais de 1 ano a Vila Franca do Campo ficou sitiada, com gravíssimos prejuízos individuais para os que trabalham em PDL (ou VFC) e para a economia local, em particular os agentes turísticos - EU QUE O DIGA! Facto é que ninguém disse absolutamente nada.
Segundo, porque é que não foi feita a discussão pública deste projecto, quando havia todas as justificações para tal. Trata-se de uma área sensível inserida no Plano de Ordenamento da Orla Costeira. Gasta-se milhões euros para alterar profundamente uma paisagem única, de elevado potencial para o lazer e o turismo - não esquecer que há lá um hotel de 4 estrelas - ao mesmo tempo que se está a construir uma Via-Rápida onde supostamente passará todo o trânsito regular. Será que esta era a melhor solução para a Vila e para a Ilha? Quem avaliou o custo-benefício? Onde estão os pareceres técnicos?
Terceiro, o projecto que se está a decorrer é um autêntico mistério. Ninguém conhece os pormenores. Ninguém sabe qual vai ser o resultado final!
Após gastarem-se milhões de euros do erário público da região será que iremos continuar a ter a nossa Prainha? Será ainda possível tomar banho refrescante na água doce na sua cascatazinha?
Será que no próximo Verão, os senhores e senhoras banhistas Ponta-delgadenses, ao estenderem as suas coloridas toalhas nas areias da Praia de Água d' Álto, irão constatar que depois de gasto tanto dinheiro, de se ter descaracterizado tanto a Natureza, afinal não terá um bar de apoio e uns balneários decentes, de acordo com os regulamentos, numa praia de Bandeira Azul? Acho que nessa altura, toda a gente irá gritar, mas já será tarde, pois os "senhores espanhóis" já terão ido embora.
Neste caso, podemos compreender a necessidade de decidir com rapidez e convicção, quando estão em causa questões de segurança e protecção civil. Mas não há NADA que substitua o DEVER de respeito aos cidadãos, pois é o dinheiro dos seus impostos que está em causa. Mais ainda quando está em causa a alteração de valores paisagísticos e ecológicos, pois estes não são propriedade desta geração, mas sim desta e das outras que virão a seguir. Será muito tristes os nossos filhos e netos olharem para os erros que fizemos e pensarem: que falta de sensibilidade e visão tiveram os nossos Pais!
Esta obra realiza-se em regime de concepção/construção, isto é a mesma entidade faz projecto e a sua concretização. É o mesmo consórcio que está a construir as SCUTS. Especulamos que esta empresa, com a sua enorme capacidade técnica e de maquinaria pesada, capaz de arrasar montanhas e construir complexas estruturas de betão, seja afinal INCAPAZ de intervir numa zona tão sensível como as Praias de Água' Álto, onde seria obrigatório "usar pinças" deixando a Natureza tão intacta quanto possível.
Mas o que mais estranhamos é o SILÊNCIO...
O silêncio da Secretaria Regional do Ambiente, responsável pelo licenciamento da obra! O silêncio das associações amigas da natureza! O silêncio da nossa comunicação social! O silêncio das autarquias! Enfim, o silêncio dos cidadãos… Cumplicidade?
Vila Franca do Campo, 26 de Janeiro de 2011."

Sem comentários: