segunda-feira, janeiro 17

O voto necessário!

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Cavaco Silva foi indubitavelmente o melhor primeiro-ministro de Portugal depois do 25de Abril. Contudo, o melhor primeiro-ministro da democracia Portuguesa não será necessariamente o melhor Presidente de todos os Portugueses. Mas estes também sabem que Cavaco Silva exerceu o seu mandato em co-habitação institucional com aquele que foi o pior primeiro-ministro de sempre da história da nossa República. Não há memória de figura mais nefasta, deletéria e poluente do bom-nome e honradez de Portugal do que José Sócrates.

Ainda assim hipocritamente há quem, como o bardo Alegre, exija um "país limpo", numa campanha de "recolha selectiva" de uma ou outra nódoa presidencial, deixando de atacar o essencial para se perderem na novela do acessório e do fait-divers. Esquecem com oportunismo que o maior agente poluente da nossa democracia, do apodrecimento do Estado de Direito, e da gangrenização da nossa economia é José Sócrates e a sua camarilha. A este descalabro é inteiramente alheia qualquer responsabilidade presidencial, embora lhe seja imputável a culpa por não ter tempestivamente dissolvido a Assembleia da República, circunstância que, porventura, poderia perversamente reforçar a vitimização de Sócrates.

O Presidente da República, no nosso modelo semipresidencial, é um órgão de soberania activo e como tal muitos cidadãos, como eu, esperavam de Cavaco Silva uma actuação mais assertiva com o fácies da má-moeda que circula em Portugal e particularmente com aquela efígie de José Sócrates que a todos desvaloriza. Essa reacção mais impetuosa não pode deixar de considerar a hipótese alternativa de um Cavaco Silva que, seguindo o precedente de Jorge Sampaio, tivesse liderado o rumo da governação do país lançando mão da dissolução da Assembleia da República. Efectivamente, por muito menos do que tem feito o actual primeiro-ministro, o anterior Presidente da República golpeou mortalmente um governo de coligação PSD/CDS-PP, com apoio numa maioria existente na Assembleia da República, dissolvendo o Parlamento e convocando eleições antecipadas naquilo que muitos, legitimamente, interpretaram como um favor político ao PS que teve assim a passadeira presidencial para se alcandorar ao poder.

Mas, imaginemos que Cavaco Silva tinha seguido o precedente de Sampaio e logo seria acusado de revanchismo e de tentativa de "golpe de estado constitucional". Teria havido um coro de comentadores e de guardiães da esquerda a acusar o Presidente da República de ser um factor de instabilidade e de bloqueio ao programa de governo do partido que os Portugueses masoquistamente elegeram. Na verdade, se hoje os Portugueses têm um "sádico" a fustigar os seus direitos sociais, e a delapidar a economia, a culpa é de quem elegeu Sócrates e não do Presidente da República que a meter-se nessa relação arriscava-se a causar ainda maior agitação social.

Não basta assim avaliar as acções e omissões do actual Presidente da República. É indispensável também avaliar o que poderia ter acontecido com a história alternativa que, infelizmente, não aconteceu, embora continue a acreditar que Cavaco tinha autoridade moral para dar guia de marcha a Sócrates para outras paragens.

Outros dirão ainda que no espectro político nacional e para regente-mor da República não faltam celebridades elegíveis pelo mesmo eleitorado fidelizado a Cavaco. Mas, à margem do laboratório social, e do ensaio de teorias e alternativas de ciência política, o certo é que, na corrida eleitoral, e à Direita do PS, não há outra alternativa. Quem não está com a esquerda capitaneada pelos socialistas, ou pelos alegres radicais do bloco de esquerda, só pode votar em Cavaco. É a realpolitik na sua mais prosaica simplicidade. Votar em Cavaco, custe o que custar, é assim exercer um voto útil contra essa esquerda acantonada no bloco de esquerda ou acomodada no PS. Aquela que junta conseguiu deixar-nos suspensos à beira do abismo.

O utilitarismo da reeleição de Cavaco Silva passa também pela segunda oportunidade que lhe é dada pelo seu eleitorado para se redimir do pecado de não ter mais cedo despachado Sócrates do governo de Portugal. Cavaco ainda merece uma segunda oportunidade para nos livrar antecipadamente de um governo que tenta desesperadamente salvar-se do naufrágio. Votar em Cavaco é também um acto de fé no derradeiro fim desse desgoverno socialista que nos pôs à deriva.

Voto útil ? Nunca um voto foi tão necessário.

João Nuno Almeida e Sousa na edição de hoje do Açoriano Oriental.

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