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By the books ensinam os clássicos que a comunicação social é o "quarto poder". Também no mundo do "dever-ser" a separação de poderes é extensível à imprensa em geral. Livres e Independentes dos demais poderes, em particular do poder político, os órgãos de comunicação social teriam apenas por missão, e responsabilidade, informar os cidadãos para o exercício de uma democracia esclarecida. Essa cartilha deveria ser transversal.
Porém no mundo do "ser" a realidade não replica a teoria. Por vezes o "quarto poder" não é mais do que uma extensão do poder político. Efectivamente, os media podem ser uma luva à medida da "longa manus" do poder político.
Assim se explica, por exemplo, o inusitado protesto formal da Assembleia Legislativa Açoriana pelo facto da televisão regional ter interrompido o "relato" do plenário, no "derby" clássico do Plano e Orçamento, por sinal na altura em que o "mister" do PS discursava, apenas para emitir o Telejornal! Não subscreveria, nem por distracção, tal protesto.
Sempre entendi, do ponto de vista dos princípios, que os trabalhadores da RTP-Açores não são funcionários da Assembleia, do Governo de qualquer Câmara ou, por absurdo, de qualquer Junta de Freguesia ou outro poder público ! São "Jornalistas" e como tal não estão funcionalizados a trabalho jornaleiro por conta dos poderes políticos. A questão do critério editorial pode e deve ser discutida mas não justifica uma espécie de "cartão amarelo" passado pela Assembleia à Redacção da RTP-Açores. Esta é, e pode ser, muito mais do que um mero canal em circuito fechado para o poder executivo ou deliberativo no actual enquadramento mediático.
Tratar com respeito e igualdade os Jornalistas da RTP-Açores é o mínimo que se exige no plano ético. Admoestar os mesmos por não fazerem o seu trabalho de acordo com os seus critérios, mas sim pela cartilha do poder político, é reduzir os mesmos à qualidade de assalariados dos poderes públicos. No final o Serviço de Informação da RTP ficou "fora de jogo" e os verdadeiros árbitros da partida, - os telespectadores -, mostraram o inevitável "cartão vermelho" ao fazerem zapping para outros canais que não o tal.
Para o registo histórico ficou ainda a réplica do Conselho de Redacção em comunicado que repudiou a interrupção na transmissão, em directo, das declarações finais sobre o Plano e Orçamento, na passada semana. Na "segunda mão" desta partida os visados assinam uma resposta contra a "prepotência, arrogância e desrespeito pelos jornalistas" que resultou de tão insólito recado enviado pelo parlamento ! "Ultrajados e envergonhados" pelo poder político mostraram-se corporativamente solidários com a demissão do Chefe de Serviço de Informação da RTP Açores.
Tudo isto seria efectivamente ficção se na realidade a comunicação social em causa fosse efectivamente Livre e, no uso dessa Liberdade de Imprensa, fosse também capaz de escolher inter-pares a sua classe dirigente para uma missão muito além dos projectos pessoais de poder ou de "revanchismo" político de ocasião.
João Nuno Almeida e Sousa
Na edição de hoje do Açoriano Oriental
By the books ensinam os clássicos que a comunicação social é o "quarto poder". Também no mundo do "dever-ser" a separação de poderes é extensível à imprensa em geral. Livres e Independentes dos demais poderes, em particular do poder político, os órgãos de comunicação social teriam apenas por missão, e responsabilidade, informar os cidadãos para o exercício de uma democracia esclarecida. Essa cartilha deveria ser transversal.
Porém no mundo do "ser" a realidade não replica a teoria. Por vezes o "quarto poder" não é mais do que uma extensão do poder político. Efectivamente, os media podem ser uma luva à medida da "longa manus" do poder político.
Assim se explica, por exemplo, o inusitado protesto formal da Assembleia Legislativa Açoriana pelo facto da televisão regional ter interrompido o "relato" do plenário, no "derby" clássico do Plano e Orçamento, por sinal na altura em que o "mister" do PS discursava, apenas para emitir o Telejornal! Não subscreveria, nem por distracção, tal protesto.
Sempre entendi, do ponto de vista dos princípios, que os trabalhadores da RTP-Açores não são funcionários da Assembleia, do Governo de qualquer Câmara ou, por absurdo, de qualquer Junta de Freguesia ou outro poder público ! São "Jornalistas" e como tal não estão funcionalizados a trabalho jornaleiro por conta dos poderes políticos. A questão do critério editorial pode e deve ser discutida mas não justifica uma espécie de "cartão amarelo" passado pela Assembleia à Redacção da RTP-Açores. Esta é, e pode ser, muito mais do que um mero canal em circuito fechado para o poder executivo ou deliberativo no actual enquadramento mediático.
Tratar com respeito e igualdade os Jornalistas da RTP-Açores é o mínimo que se exige no plano ético. Admoestar os mesmos por não fazerem o seu trabalho de acordo com os seus critérios, mas sim pela cartilha do poder político, é reduzir os mesmos à qualidade de assalariados dos poderes públicos. No final o Serviço de Informação da RTP ficou "fora de jogo" e os verdadeiros árbitros da partida, - os telespectadores -, mostraram o inevitável "cartão vermelho" ao fazerem zapping para outros canais que não o tal.
Para o registo histórico ficou ainda a réplica do Conselho de Redacção em comunicado que repudiou a interrupção na transmissão, em directo, das declarações finais sobre o Plano e Orçamento, na passada semana. Na "segunda mão" desta partida os visados assinam uma resposta contra a "prepotência, arrogância e desrespeito pelos jornalistas" que resultou de tão insólito recado enviado pelo parlamento ! "Ultrajados e envergonhados" pelo poder político mostraram-se corporativamente solidários com a demissão do Chefe de Serviço de Informação da RTP Açores.
Tudo isto seria efectivamente ficção se na realidade a comunicação social em causa fosse efectivamente Livre e, no uso dessa Liberdade de Imprensa, fosse também capaz de escolher inter-pares a sua classe dirigente para uma missão muito além dos projectos pessoais de poder ou de "revanchismo" político de ocasião.
João Nuno Almeida e Sousa
Na edição de hoje do Açoriano Oriental
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