sábado, dezembro 8
sobre aviões, "tostões" e outros populismos
O Rui Gamboa, com o aparente beneplácito do João Nuno, instiga-nos a falar de assuntos que interessam debater. E avança com o transporte aéreo de passageiros. É sem dúvida um tema que tem tanto de interessante como de importante. Mas é também um tema que exige uma abordagem séria e fundamentada. A intervenção apresentada pela deputada Carla Bretão no congresso do PSD-A, apesar de demonstrar grande destreza na utilização das inúmeras potencialidades do Word, comete dois equívocos, se é que assim se podem chamar, fundamentais. Primeiro compara o incomparável, com propósitos puramente demagógicos e populistas. Segundo, lança uma série de objectivos retóricos sem nunca descrever a forma de os atingir. A comparação simplista do preço de uma tarifa Açores–Lisboa com Lisboa–Londres / Bruxelas / Milão e Amesterdão, seria apenas ridícula, não fosse um gesto demagógico grave, o que a torna desonesta e indecente. O preço de uma tarifa aérea é determinado por uma miríade de factores, sendo que o mais importante deles todos é o número de passageiros transportados. Querer comparar as potencialidades dos Açores, enquanto mercado receptor e emissor de passageiros, com Lisboa, Londres, Bruxelas, etc. é uma bizarria abjecta e indesculpável. No resto a deputada Carla Bretão lançou uma série de propostas buriladas em frases de belo efeito mas convenientemente omitiu a forma de atingir esses objectivos. Promover a gradual liberalização, reduzir as tarifas com o continente e inter-ilhas, criar uma tarifa única para os emigrantes, aumentar e criar novas ligações com os EUA, ajustar horários, aumentar as ligações, potenciar as infra-estruturas de Santa Maria e Lajes. Tudo isto são nobres propósitos, mas nem uma única vez é avançada uma explicação sobre como estes objectivos podem ser implementados. Como conseguir uma redução de tarifas com o nível actual de fluxo de passageiros? Como equilibrar a liberalização com a manutenção dos mínimos imprescindíveis para cargas e passageiros? Como é que se potencia o dito "mercado da saudade", em que destinos, com que regularidade de escalas? Os transportes aéreos são, de facto, uma questão fundamental para o futuro dos Açores e para o bem-estar dos açorianos. É por isso mesmo que esta questão merece ser tratada com um pouco mais de seriedade e sensatez, e bastante menos populismo e politiquice. O discurso político do PSD-A, para se constituir verdadeiramente como alternativa, terá que passar por muito mais do que o fogo-fátuo de pretensões avulsas. Compreendo que para os militantes do PSD-A seja doloroso constatar o estado actual da causa social-democrata, mas do congresso do passado fim-de-semana a única coisa que realmente sobressaiu foram fados e fantasmas. Infelizmente para todos.
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