Plasticidade *
Numa correria cada vez mais antecipada, o Natal traz consigo o frio (pouco, este ano) e o frenesim da prenda, celebrado pelas campanhas publicitárias em prol de um consumo homogeneizado. Daí que tenha recebido com agrado a proposta do governo inserida num ante-projecto de Decreto-Lei, que prevê a redução dos sacos de plástico utilizados no comércio alimentar. Mas, para surpresa minha, ao final do dia o governo recuava na sua proposta e remetia para várias alternativas, esclarecendo que essa hipótese já tinha sido «(…) abandonada (…) por já haver uma taxa sobre sacos de plástico e outras embalagens, a taxa da Sociedade Ponto Verde». Contudo, mantinha-se a intenção de reduzir os sacos de plástico nas paisagens – um cenário que, infelizmente, se observa também na região Açores.
A necessidade de implementação de uma medida desta natureza revela-se por demais evidente, para não dizer urgente. Na maioria dos países europeus os sacos são, há muito, disponibilizados por um preço simbólico. São dadas várias hipóteses ao consumidor: um saco de papel, uma caixa cartonada ou um saco de plástico mais resistente e, por isso, reutilizável. Por cá, estas possibilidades de escolha não se colocam, mas há atitudes individuais que podemos tomar.
Não obstante as possibilidades à nossa mercê, caímos na tentação da versão mais fácil, ou seja, o de retirar sem pudor os múltiplos sacos que se nos colocam à disposição no final da passadeira. Algo que faço quando olvido o saco verde (passo a publicidade!) é o de reduzir o número de sacos ao mínimo indispensável, mas, muitas das vezes, tenho que convencer a menina da caixa de que não necessito de mais. Podia comprar outro saco verde, mas o facto é que os esquecimentos são mais que muitos e a coisa torna-se ridícula… Adiante! A culpa não será de quem atende, mas sim do cliente maioritário, que reclama o saco a que tem direito e, não satisfeito com isso, é capaz de pedir mais uns quantos para levar para casa. Esta é, pois, uma questão que passa, sobretudo, pela reconversão de determinadas práticas.
Uma dessas alterações passa pela reciclagem e pela redução substancial do volume de lixo doméstico que produzimos. Ao efectuarmos uma pequena operação de separação de papel, vidro e embalagens (plástico e metal), conseguimos reduzir significativamente as idas ao caixote do lixo e, por acréscimo, do número de sacos que “utilizamos” para o efeito.
A título de exemplo: do enorme desperdício que criamos em Portugal, são, anualmente, utilizadas pelos cidadãos, duas mil toneladas de sacos de plástico, sendo que a grande maioria não é reciclada, embora essa possibilidade de reciclagem exista. Um pequeno grande dado que nos dá muito que pensar nesta época de consumo desenfreado.
* edição de 11/12/07 do AO
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