domingo, dezembro 2

Epílogo


Depois das palavras, das moções, das muitas intervenções, depois dos votos, depois da trivela do Quaresma, o encerramento. Manuel Arruda vai chamando pelo microfone os diversos membros dos corpos dirigentes que tomam o seu lugar no cenário. No fim entram os líderes, Luís Filipe Menezes primeiro e Carlos Costa Neves atrás dele. Antes dos discursos, passa num ecrã gigante montado a um canto um slide-show com fotografias de Costa Neves em várias poses artísticas: lavrador, alpinista, numa fábrica, cumprimentando cidadãos, etc. tudo ao som de um tema instrumental que pretende rivalizar com o já clássico Vangelis dos congressos e comícios do PS. A sala assiste em silêncio. Depois vêm os discursos e o primeiro a falar é o vice-presidente do PSD-Madeira. Convêm assinalar que o próprio Alberto João não veio aos Açores porque amanhã inaugura, em Lisboa, uma Casa da Madeira, deve ser para poupar no dinheiro das passagens. Mas pelo estilo e pela retórica ninguém diria que não era o próprio Alberto João Jardim que ali discursava. Num tom manifestamente populista e demagógico, agitando todas as bandeiras do anti socialismo e do anti continental, falando de autonomia como se de um proto separatismo se tratasse, acusando Sócrates de ser um ditador, it takes one to know one, os cerca de trinta minutos de agit prop do social-democrata madeirense foram o momento mais efusivo da noite. A cada atoarda a sala reagia com entusiasmo e aplauso, e a verdade é que estes congressistas estavam bem carenciados de entusiasmo. Mas a propaganda e o estilo madeirenses deviam preocupar tanto Menezes como Costa Neves, é que no registo do aplaudómetro nem um nem outro se conseguiram sequer aproximar dos valores obtidos pelo enviado de Alberto João. Luís Filipe Menezes, que veio a seguir, cumpriu apenas os serviços mínimos, num discurso que para a região deixou apenas a estafada noção da autonomia inacabada, e que para fora bateu novamente na já gasta tecla do passado, dos anos que uns e outros passaram no governo, Santana, as crises e as debilidades ou não do actual Governo do PS. A única nota a salientar foi a confirmação do ónus que o PSD nacional põe nas próximas legislativas regionais, que o partido deseja que sejam o tiro de partida da dinâmica de vitória para uma eventual conquista de poder também a nível nacional. Estamos, obviamente, no campo dos ses e dos talvez e dos supúnhamos, resta saber se os próprios sociais-democratas põem fé neste discurso. Carlos Costa Neves, visivelmente cansado e abatido, veio a seguir para cumprir a promessa do dia anterior de fazer o seu primeiro discurso de campanha e de conquista do poder. Não quero ser drástico, mas pareceu-me que a dinâmica não passou sequer de uma intenção. Carlos Costa Neves simplesmente não galvaniza os seus próprios militantes. Num discurso vago e genérico, aqui e ali até um pouco atabalhoado, Costa Neves só conquista a plateia nos seus momentos mais intimistas, pessoais, diria até populistas, como por exemplo quando fala dos conselhos que a sua mãe lhe dá, que até a mim me enterneceu. Mas, no restante, os congressistas vão assistindo ao discurso com respeitoso enfado. Das propostas de governação fala-se de tudo aquilo a que já estamos acostumados a ouvir, de crescimento económico, de convergência, de investimentos nas ilhas mais pequenas e desfavorecidas, de transportes, de passagens aéreas, etc. Todo o jargão do palavreado político-partidário que tão bem conhecemos, e que até gostávamos de ver resolvido para melhor, mas que ninguém, nem mesmo Costa Neves, explica qual o modos operandi para solucionar a contento esses problemas. Na questão da extinção das sociedades anónimas fica a curiosidade de saber se Costa Neves vai ou não dar instruções aos seus autarcas para que façam o mesmo com o enxame de empresas municipais que nascem como cogumelos em todas as autarquias dos Açores. O discurso lá continuou, penosamente, com Costa Neves esforçando-se para conquistar a plateia. No fundo o que se prova é que não basta ser simpático, bem educado, ter tido uma carreira política de relevo e conhecer os corredores de Lisboa e Bruxelas, para conquistar o poder. E depois acabou, cantaram os hinos, beijos e abraços, palmadinhas nas costas e voltaram todos para casa, á espera das eleições de 2008, de um novo congresso e, muito provavelmente, de 2012.

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