sexta-feira, setembro 7

CineClube

The Host - A Criatura Uma colagem sem surpresas, mas eficaz, de referências que vão desde «King Kong» (com a ameaça do monstro sobre a cidade) a «Alien» (com o devir reptilíneo do próprio monstro). Com a curiosidade de a família (ou melhor, uma família) ser, aqui, o principal núcleo dramático. Um pouco à margem: que este seja um filme capaz de "simbolizar" uma ideia internacional de cinema asiático, eis um fenómeno mediático que, em última instância, só pode prejudicar a descoberta da imensa diversidade desse mesmo cinema... (crítica de João Lopes/Cinema 2000). Esta semana no Solmar.

The Simpsons Os Simpsons não pertencem ao universo da moderna animação que nos deu preciosidades que vão de «O Rei Leão» a «À Procura de Nemo». Num certo sentido, tudo “desaconselhava” até que se passassem os Simpsons para cinema (parecendo que não, decorreram quase 18 anos desde o lançamento da série televisiva nos EUA, a 17 de Dezembro de 1989). Era duvidoso que a energia específica dos episódios de 25 minutos pudesse sustentar uma longa-metragem de cerca de hora e meia; além disso, como poderia funcionar o mundo de Springfield, com as suas bizarras personagens amarelas, na grandeza de um ecrã de cinema? As respostas são, felizmente, positivas e até surpreendentes, mesmo no que diz respeito ao rigor da composição das imagens. O filme utiliza o formato largo, em scope, portanto diferente do clássico “quadrado” televisivo, e consegue uma boa dinâmica visual que não cede a “modernices” digitais (antes procurando preservar o aspecto um pouco “tosco” dos desenhos originais). Acima de tudo, Matt Groening (criador da série) e David Silverman (realizador do filme) terão compreendido que, para além das diferenças técnicas, importava não abdicar da dimensão essencial do produto televisivo. Ou seja: a família Simpson continua a existir como uma espécie de retrato “deformado” dos valores tradicionais do american way of life, sempre oscilando entre o burlesco e tragédia. Um dos aspectos mais surpreendentes do filme é o facto de a continuada crise de relações entre Bart e o pai, Homer, levar o primeiro a uma inesperada aproximação afectiva do vizinho (noutras alturas repelido como “atrasado”). Assim nasce uma mini-ficção que, com calculada ironia, sublinha um dos fundamentais temas simbólicos da série: a decomposição dos laços tradicionais entre pais e filhos. Obviamente, não tem nada de casual que os problemas de defesa do ambiente constituam o cerne da história do filme (inclusivé, com a sempre admirável Lisa a assumir-se como herdeira do combate ecológico de Al Gore). Os Simpsons nunca deixaram de manter uma relação próxima com a actualidade social e política, organizando-se como uma típica soap americana que, subitamente, se apresenta desviada da sua lógica mais ou menos normativa: no limite, as personagens tornam-se tanto mais “monstruosas” quanto mais parecem emanar da norma (veja-se, por exemplo, o continuado esforço de Homer para combater a sua tendência para engordar). O filme não terá a intensidade dramática e a contundência moral dos melhores episódios da série. Em todo o caso, representa o resultado feliz de uma bem pensada relação entre cinema e televisão. Em ambos os registos, para além da harmonia “natural” de Springfield, anuncia-se uma profunda e cruel amargura. (crítica de João Lopes/DN/Cinema 2000). A estreia, esta semana, da versão original na Castello Lopes.

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