segunda-feira, dezembro 12

A «saison» dos debates

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Manuel Vieira
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A «saison» dos debates presidenciais justifica merecidamente uma sequela da rábula da popular personagem indignada que reclama: «eles falam, falam, falam e não dizem nada!». Nada de substancial entenda-se.

Efectivamente, uma síndrome de mumificação intelectual tem inquinado o debate presidencial, servido em «prime-time» aos Portugueses e embrulhado num discurso inane e gelatinoso. Como se não bastasse, «ad nauseam», a recapitulação da suprema moral Republicana, Laica e Socialista, cujo «podium» e currículo é ferozmente disputado por Manuel Alegre e Mário Soares, temos agora a retoma da fábula do Oásis pelo salvatoriano Cavaco Silva.

Cavaco chegou a afirmar que Portugal precisa resgatar o estatuto de «Califórnia da Europa»! Nesta miragem, e atenta a fantasia de autonomista dos quatro costados que agora ostenta, Cavaco Silva não tardará a ambicionar para os Açores o postal político de serem o «Hawaii de Portugal». Lamentavelmente, feito o desconto dos lugares comuns pouco resta de essencial, ficando retida a impressionante imagem de um Cavaco sem «chispa», um Soares geriátrico, um Alegre arrogante, um Louçã presporrente, e finalmente um surpreendente Jerónimo!

Ora, aceitando de boa fé que o debate desta campanha não é um frete para os candidatos, como explicar o deserto de ideias que domina o discurso dos candidatos? A resposta está parcialmente no esforço de contenção dos mesmos para, a reboque do «look» politicamente correcto, agregarem a maior tranche possível de votos. Claro está que à margem desta táctica colocam-se Louçã e Jerónimo, desenganados que estão à partida de qualquer remota possibilidade de eleição. Quanto aos restantes é confrangedor como conseguiram amenizar esta campanha a uma simples disputa de perfil para o cargo de Presidente da República, reduzindo o debate a uma espécie de entrevista popular para apresentação curricular em formato televisivo. Na verdade, todos os temas importantes e fracturantes são «driblados» para não comprometerem a viabilidade das candidaturas. Só assim se explica, por exemplo, a ausência temática do rumo da União Europeia e do possível alargamento à Turquia, da possível falência do regime de segurança social, da política externa de Portugal face à irreversível ameaça do terrorismo Islâmico, e até da actual e justa discussão da lei da Nacionalidade num país de Emigrantes e de Imigrantes. Com honrosa excepção para a frieza catedrática de Cavaco Silva, ou para a vulgata da abordagem Soarista, sobre tudo isto pouco ou nada de substancial tem sido dito.

Não admira que perante estes entediantes debates com os candidatos a Belém os Portugueses prefiram «zappar» para as tricas de outros debates mais excitantes com os donos da bola, os astros do futebol, e o resumo da jornada. A verdade é que para a maioria dos cidadãos desta República é mais importante antever o desfecho do campeonato do que ponderar o seu sentido de voto...e pouco ou nada tem sido feito pelos candidatos a Presidente da República para contrariar este torpor da cidadania.
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JNAS, na Edição de 13 de Dezembro do Jornal dos Açores

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