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Nicole-Barbe Clicquot-Ponsardin, a.k.a. La Grande Dame
Barbe-Nicole, née Ponsardin, veio ao mundo em 1777 na cidade de Reims, um ano depois daquela primeira grande Revolução europeia que foi a independência da América. Casou em 1799, pouco antes do 18 de Brumário, com François-Marie Clicquot numa adega perto das vinhas de Bouzy, cujos oito hectares de precioso solo são o home turf do melhor champagne do mundo. François-Marie não sobreviveu ao delírio hegemónico de Napoleão Bonaparte e entregou a alma ao criador em 1805. Mas a mulher continuou, e bem, o negócio vinícola da família do marido, tendo a elegância de rebaptizar a firma com o nome Veuve Clicquot. Com 28 anos de idade é difícil não se ser uma viúva alegre, sobretudo rodeada de tanta mousse engarrafada, mas Nicole teve o bom senso de só se dedicar à produção de vinho campanhês, pelo que lhe estou muito agradecido e julgo que falo em nome de outros que também andam por aí. É que, sei lá, a mulher podia ter-lhe dado para o desatino, mas não, entregou-se ao champanhe como outras o fizeram a Cristo, ou a canalhas de barba rija. Entregou-se a sério, deu-se toda, passou noites de insónia na adega a tentar perceber porque é que um leve travo a areia persistia no fundo dos sabores. E descobriu a forma de o afastar, inventando uma técnica conhecida pelo nome de remuage, que é agora um bocado chato estar para aqui a explicar, mas eu ponho um boneco e vocês já ficam com ideia da coisa.
A remuage é um trabalho de paciência, um labour of love. Cada garrafa deve ser rodada 1/8 20 a 25 vezes durante três semanas. No termo destas carícias, aquilo que menos interessa concentrou-se no topo da garrafa. É talvez por isso que o champanhe aberto comme il faut, deve-o ser a golpe de espada. Já não estamos em tempo de grandes cavalarias e eu vou abrir a garrafa à unha, mas faço sempre os possíveis por estar muito bem acompanhado na Passagem do Ano. Por regra, La Grande Dame nunca me deixa ficar mal.
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Bom 2006, blogosfera.
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